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10/03/2015

Mulher e tecnologia, ainda longe da igualdade

As mulheres desempenharam um papel fundamental na história da tecnologia. Ada Lovelace desenvolveu o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina. Grace Hopper foi a criadora daquele que é considerado o primeiro software de computador. A freira Mary Kenneth Keller foi a primeira norte-americana a conseguir um PhD em Ciência da Computação e participou da criação da linguagem BASIC. Vivemos em uma época em que já encontramos mulheres em altos cargos de grandes empresas relacionadas com tecnologia.

 

mulheres tecnologia 3


Marissa Mayer atualmente é CEO da Yahoo e anteriormente foi a vigésima funcionária a ser contratada pelo Google, onde trabalhou por muitos anos. Meg Whitman é CEO da Hewlett-Packard, com passagens anteriores pela Disney, DreamWorks, Procter & Gamble e pela Hasbro. Sheryl Sandberg é COO do Facebook. Passando os olhos pelos currículos dessas mulheres, pode parecer que estamos reclamando de barriga cheia, mas isso não é verdade. O fato de Sandberg ter escrito um livro chamado Faça Acontecer, que carrega o subtítulo Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar nos dá a pista de uma realidade que está aí para quem quiser ver: o mercado de tecnologia ainda é um setor dominado pelos homens. Isso está mudando? Sim. A paridade entre homens e mulheres já é a ideal? Longe disso.

Na introdução de Faça Acontecer, Sheryl diz o seguinte: “(…) Mas não é por saber que as coisas podiam ser piores que deixaremos de tentar melhorá-las. Quando as sufragistas marchavam pelas ruas, imaginavam um mundo de verdadeira igualdade entre homens e mulheres. Passado um século, ainda temos que forçar a vista para tentar enxergar melhor essa imagem.

A verdade nua e crua é que os homens ainda comandam o mundo. Isso significa que, quando se trata de tomar as decisões mais importantes para todos nós, a voz das mulheres não é ouvida da mesma forma. Dos 195 países independentes do mundo, apenas dezessete são governados por mulheres. As mulheres ocupam apenas 20% das cadeiras dos parlamentos no mundo. Nas eleições de novembro de 2012 nos Estados Unidos, as mulheres conquistaram um número de assentos no Congresso que ultrapassa todos os anteriores, alcançando 18%. No Brasil, 9,6% das cadeiras no Congresso são ocupadas por mulheres.

A porcentagem de mulheres em papéis de liderança é ainda menor no mundo empresarial. Entre os diretores executivos das quinhentas empresas de maior faturamento nos Estados Unidos, apontadas pela Fortune, as mulheres correspondem a magros 4%. Nos Estados Unidos, elas ocupam cerca de 14% dos cargos de direção executiva e 17% dos conselhos de diretoria, números que quase não mudaram em relação à última década. Essa defasagem é ainda pior para as mulheres não brancas, que ocupam apenas 4% do alto escalão das empresas, 3% dos conselhos diretores e 5% das cadeiras do Congresso. Por toda a Europa, as mulheres ocupam 14% dos conselhos de diretoria. No Brasil, as mulheres ocupam cerca de 14% dos cargos executivos na quinhentas maiores empresas do país. Na América Latina como um todo, apenas 1,8% das maiores empresas tem mulheres na direção executiva.”

Mais adiante, Sheryl afirma que parece que a revolução empacou. Em seguida, ela fala sobre os obstáculos concretos que as mulheres encontram no mercado de trabalho: o machismo descarado ou sutil, a discriminação e o assédio sexual. Para completar, ela diz que não nos bastam as barreiras externas levantadas pela sociedade; ainda somos tolhidas pelas nossas barreiras internas — resultado de anos e anos sendo criadas como mocinhas que recuam, que devem falar usando rodeios, que iniciativa é coisa de homem e que jamais devemos mostrar a envergadura que realmente temos — isso pode deixar os homens assustados.

A história do Mercado de TI no Brasil
Em 1960, a PUC-Rio foi a primeira universidade do país a criar um Departamento de Informática. Em 1968, a UNICAMP lançou o Bacharelado em Ciência da Computação, primeiro curso de nível superior relacionado da tecnologia no Brasil. O Instituto de Matemática e Estatística da USP abriu vagas para o mesmo curso em 1974. Se você teve a oportunidade de ver um curso de Ciência da Computação ou de Sistemas de Informação na última década, sabe que o número de mulheres cursando essas faculdades é baixíssimo. Mas o aspecto mais curioso aqui é o seguinte: quando as turmas de cursos com foco em tecnologia começaram a ser criadas em nosso país, a maioria dos estudantes dessas fileiras eram mulheres. Assim sendo, boa parte dos pioneiros em computação no Brasil eram mulheres. Mas por que razão a situação se inverteu tão drasticamente? A resposta é bem simples: as mulheres estudavam tecnologia quando a profissão era nova no país e ainda não dava dinheiro. Mais tarde, quando a formação nessa área se tornou mais valorizada, os homens passaram a buscar essas cadeiras.


Números
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009, apenas 20% do universo de cerca de 520 mil pessoas que trabalhavam com Tecnologia da Informação no Brasil eram mulheres. Nesse mesmo Censo, averiguou-se que as mulheres perfaziam somente 15% do corpo discente dos cursos relacionados a carreiras na área de Tecnologia da Informação.

O número de alunas que se formam nesses cursos mostra um fracasso retumbante: 79% das mulheres que ingressam para cursar essas faculdades abandona o curso no primeiro ano. Em 2010, o salário das mulheres que trabalhavam em TI era 34% menor que o dos homens. Quando se trata de cargos de gerência, a diferença aumenta ainda mais: o salário das mulheres fica 65% menor que o dos homens.

A área de tecnologia não é a grande vilã da paridade salarial no Brasil. Ela acompanha a desigualdade salarial entre homens e mulheres que não é um privilégio brasileiro, podendo ser vista no mundo inteiro — em alguns lugares mais, em outros lugares menos, mas sempre tendo as mulheres como piso e os homens como teto. E essa desigualdade continua perseguindo as mulheres ao longo da carreira, mesmo que elas consigam alçar altos patamares: a renda futura em potencial continua sendo maior para os homens e menor para as mulheres.

Os argumentos
A argumentação favorita para ser usada quando se fala da falta de profissionais mulheres no mercado de TI costuma ser “falta interesse da parte das mulheres”. Não é preciso estar sondando as fronteiras da genialidade para fazer um raciocínio rápido: se 79% das mulheres abandona o curso no primeiro ano, pode ser que o problema esteja no curso e não nas mulheres. E não no curso em si, enquanto metodologia, mas sim no ambiente encontrado pelas mulheres que se aventuram numa carreira preponderantemente masculina: é ridiculamente fácil dizer que as mulheres não se esforçam o suficiente ou não têm pendor para as ciências exatas quando se escolhe esquecer que por ser minoria em qualquer lugar é uma tarefa que pode variar do difícil até o debilitante. Acreditar que os 79% de mulheres desistem dos cursos de TI por desilusão, preguiça e incompetência e que tudo isso não tem relação nenhuma com o ambiente é de uma inocência quase que enternecedora.

O segundo argumento mais usado é tão antigo que poderia ser datado por carbono-14: “as inteligências dos homens e das mulheres são diferentes e é por isso que elas tendem a preferir as carreiras de humanas às de exatas”. Essa questão já foi e continua sendo discutida até a exaustão por leigos e cientistas e as opiniões costumam ser divididas: existe diferença entre as inteligências masculina e feminina? As pesquisas vêm sendo feitas e ainda não existe uma resposta razoável para a indagação, mas algumas descobertas podem fazer com que as pessoas que se valem desse argumento passem a usá-lo com mais parcimônia: os testes de QI — que vêm perdendo seus tronos à medida que as teorias das múltiplas inteligências avançam — foram um reino masculino por mais de um século, mas James Flynn, um pesquisador neozelandês considerado um dos maiores especialistas do mundo em testes de medição de quociente de inteligência, mostrou numa pesquisa que a supremacia intelectual masculina já não é mais a mesma quando se trata de lógica: depois de testar europeus, americanos, australianos, neozelandeses e estonianos e argentinos, ele concluiu que na maior parte das vezes as mulheres vencem os homens. Mas por que isso aconteceu só agora? Bom, porque não faz tanto tempo assim que um número maior de meninas vêm recebendo educação formal da mesma qualidade daquela que é dada aos meninos. Além disso, nossos cérebros e, por consequência, nossas inteligências são elementos extremamente plásticos e a estrutura do intelecto não é rígida: quando as mulheres recebem o mesmo incentivo e as mesmas oportunidades que os homens, elas podem ser tão boas quanto eles em qualquer área.


Fonte: GizModo Brasil - trecho de matéria


Foto: montagem redação SEESP



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