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Opinião – O colapso do Cantareira

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Cid Barbosa Lima Junior


É no mínimo estranho uma empresa pedir moderação em produto que vende. Deixando de lado os produtores de bebidas alcoólicas que são obrigados por lei a fazer essa recomendação, não se justifica essa atitude por parte da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) e o governo paulista. Façamos uma pequena reflexão e tentemos entender o que se passa.

Há países em que o consumo diário de água per capita é elevado, chegando, como o Canadá, a 600 litros. Os Estados Unidos e o Japão têm um consumo médio de 350 litros/dia. No Brasil, esse índice é de apenas 187 litros.

Em 2001, após as estiagens daquele ano e do anterior, um diretor da Sabesp, em palestra no Instituto de Engenharia, afirmou ser impossível captar água no Paraíba do Sul. Por que então o governo do estado leva essa questão ao governo federal? Ele afirmou ainda que se fazia urgente a captação de água no Vale do Ribeira. Estamos em 2014, e somente no final de 2013 foi licitado esse novo sistema de abastecimento. Demora pela complexidade ou simplesmente desinteresse em investir?

Sendo verdade que há pouca água de boa qualidade perto da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), é também verdade que dispomos de um volume enorme de água poluída nessa região, por pura irresponsabilidade e descaso das autoridades. E é também lamentável o fato de a Sabesp apresentar uma perda de cerca de 32% da água tratada, e essa enorme perda poderia abastecer toda a Grande São Paulo por mais tempo, sem que ficasse refém das condições meteorológicas.

Agora se fala também em tirar água dos volumes mortos das represas. O biólogo Fernando Reinach – que recebeu do SEESP o prêmio Personalidade da Tecnologia em Inovação no ano de 2007 – afirma ser esse um volume “vivo“, um verdadeiro aquário natural. Não deveria haver um estudo de impacto ambiental?

O problema vivenciado não é recente, tampouco devido à estiagem. Resume-se na falta de investimentos do governo em saneamento. O último governador a investir nesse setor foi Mário Covas. Depois dele, nem Serra, nem Alckmin, nas três passagens pelo Palácio dos Bandeirantes, investiram o necessário.

Aliás, para ser preciso, os problemas com o saneamento em São Paulo começaram na segunda metade do século XIX com a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, privada, que só queria faturar e teve que ser encampada pelo Estado, surgindo a Repartição de Águas e Esgotos.

Já em 2000, a atual Sabesp começa a ser privatizada, chegando hoje a quase 50% das ações nas mãos de particulares, que desejam apenas usufruir de dividendos. A terceirização também aumentou o tempo de consertos de vazamentos. As velhas redes de água não são substituídas adequadamente, e o investimento em outros sistemas foi postergado. Com isso, vemos o eclipse do Sistema Cantareira.


Cid Barbosa Lima Junior é engenheiro civil

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