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Opinião - Engenharia tem prazo de validade

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Nestor Tupinambá

Um representante da indústria naval brasileira, em encontro na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) no mês de janeiro de 2017, com a participação de lideranças das áreas empresarial e tecnológica, incluindo dirigentes do SEESP (confira em https://goo.gl/SG2QTk), fez a seguinte afirmação: “Engenharia tem prazo de validade.” A frase traduz uma verdade contundente e um aviso preocupante de possibilidades de convulsões sociais no País caso continue essa avassaladora judicialização a interferir no desenvolvimento de nossa infraestrutura.

Foram cerca de 60 anos, começados com pás, enxadas e carroças, um longo aprendizado através de erros e acertos e de muitas mortes. Mas hoje temos uma das melhores construtoras de infraestrutura do mundo. Portugal, Estados Unidos, vários países da África e da América Latina viram importantes obras dessas empresas. E, nessa trilha, seguiram grandes exportações de cimento, vergalhões de aço, equipamentos, caminhões, tratores etc..

No caso da Petrobras, responsável por cerca de 60% dessas compras no País através de suas subsidiárias e fornecedoras, sempre se deu preferência ao mercado nacional, desenvolvendo-o quando necessário através de inúmeros centros de pesquisas no Brasil (o último data de 2016 em São Carlos-SP). Mas agora, com as cessões das bacias do pré-sal, como a transferida à Noruega, os equipamentos são locados fora do País. O óleo bruto é levado à Noruega, onde é beneficiado. Interessante que esse país possuía o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do norte europeu, mas, ao descobrir petróleo em suas águas, adotou modelo semelhante ao da Petrobras e hoje ostenta um IDH similar ao da Suécia e ao da Dinamarca. Ao contrário, o modelo exportador é o que viceja na Venezuela, na Nigéria e no Gabão, entre outros.

A Abimaq espera uma redução, de modo otimista, de R$ 250 bilhões em encomendas de equipamentos no País nos próximos dez anos. Na Petrobras, as empresas nacionais foram alijadas da licitação para a retomada das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Esse contexto traz um esvaziamento das nossas empreiteiras, que começam a se desfazer de seus ativos. Enquanto isso, os métodos construtivos evoluem, o que exige intenso e constante treinamento. Equipamentos para paredes diafragmas e fresadoras importadas da Europa, os novos Tunnel Boring Machines (TBMs), os “tatuzões”, passando logo para a quarta geração, são alguns exemplos. É provável que nossas empresas não possam participar das próximas licitações de grandes obras. A brutal e agressiva concorrência internacional deixará nossas empreiteiras à margem, apesar do pífio desempenho de várias companhias estrangeiras nas obras da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô-SP). O resultado serão milhões de novos desempregados.

Enquanto isso, assistimos a enorme Samsung coreana ter executivos presos por suborno e a Volkswagen alemã que falsificou atestados de não poluição (pagou multa de quase US$ 5 bilhões aos EUA) sem nenhuma punição à suas operações. Nos Estados Unidos, na crise de 2008, IBM e Xerox com problemas junto ao governo americano conseguiram acordos de leniência em dez e 30 dias. Prendam-se os culpados, pague-se a quantia desviada, mas conservem-se os empregos considerados preciosos. Aqui parecem não ser tão importantes, pelo trato à questão e o silêncio da mídia. Os “efeitos colaterais” aumentam, e a nossa engenharia vai perder o prazo de validade.

 

Nestor Tupinambá é engenheiro, delegado sindical do SEESP no Metrô-SP

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