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04/04/2013

Livro "Os Sentidos do Trabalho" ganha edição em inglês

Não é por acaso que o livro “Os Sentidos do Trabalho”, lançado no Brasil em 1999 pelo sociólogo Ricardo Antunes, ganha agora uma caprichada edição em inglês da editora Brill, quando países no hemisfério Norte (incluindo os de língua inglesa) enfrentam dura crise econômica e de emprego.

Resultado de um pós-doutorado na Universidade de Sussex, Inglaterra, feito com apoio da FAPESP entre 1997 e 1998, o livro fala sobre a precarização do trabalho e de sua importância capital no mundo contemporâneo. Originalmente, foi apresentado por Antunes no concurso para professor titular em Sociologia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Uma tese central do livro é de que adentrávamos numa era de precarização estrutural do trabalho em escala global. Acho que muita gente não acreditou na época”, afirmou o sociólogo, que é professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, à Agência FAPESP.

“Hoje você tem um jovem pós-graduado europeu que é parte do proletariado precarizado. Um jovem pós-graduado em engenharia ou economia que limpa hotéis, vende hambúrgueres, trabalha como camareiro ou faz trabalho de cuidador.”

Antunes recebera o convite para publicar a obra pela Brill, cuja sede fica em Leiden, na Holanda, mas a publicação estava condicionada à apresentação do texto em inglês.

“Foi então que encontrei a acolhida da FAPESP, que tornou viável a publicação desse livro”, disse o sociólogo, que obteve apoio para realizar a tradução dentro de um Auxílio à Pesquisa – Regular. “Sei que ele acabou sendo uma espécie de projeto-piloto e, pelo menos dentro das Ciências Humanas, foi a primeira publicação em língua inglesa com apoio da FAPESP.”

Em Os Sentidos do Trabalho, Antunes buscou “dialogar criticamente com uma tendência fortemente eurocêntrica que minimizava a importância do trabalho no mundo contemporâneo ou até mesmo vaticinava o fim do trabalho”.

Entre os pensadores dessa corrente, Antunes inclui o filósofo alemão Jürgen Habermas, o sociólogo alemão Claus Offe, o filósofo francês André Gorz (1923-2007), o sociólogo e ensaísta alemão Robert Kurz (1943-2012), a socióloga francesa Dominique Mèda e o economista e escritor norte-americano Jeremy Rifkin.

“Eu não encontrava evidências empíricas disso [do fim do trabalho ou da redução da importância do trabalho na sociedade contemporânea] nem no norte do mundo muito menos no sul do mundo”, afirmou Antunes. “Mais do que isso, o que vinha ocorrendo me levava a constatar a existência de uma nova morfologia do trabalho.”

Enquanto várias categorias de trabalho ou de ocupação desapareciam, outras surgiam, entre elas as de tecnologia da informação e comunicação e a dos trabalhadores dos call centers.

“Muitos autores europeus e norte-americanos não têm uma visão restrita ao norte do mundo. Mas a tese do fim do trabalho ou a tese da perda da centralidade do trabalho tinha um acento eurocentrista”, disse Antunes.

“Como um intelectual do sul do mundo que buscava entender o trabalho em uma dimensão global, não incorri nessa limitação eurocêntrica que atingia parte desses autores e percebi que meu livro começou a ter acolhida porque publiquei vários artigos com as teses do livro em inglês, espanhol, francês, alemão em revistas acadêmicas”, disse.

A publicação em inglês data de 2013, embora o lançamento oficial tenha ocorrido em novembro de 2012, na Universidade de Londres, por conta de uma pré-tiragem especial para um congresso. Os Sentidos do Trabalho (The Meanings of Work, na versão de língua inglesa, que integra a coleção “Historical Materialism”, da Brill) já foi publicado também na Itália, na Argentina e em Portugal e está sendo traduzido agora para o francês.

De acordo com Antunes, hoje o trabalho pode ter se tornado, em vários ramos, muito mais instável, quase virtual: há quem trabalhe em casa, muito trabalhadores tornam-se PJ (pessoas jurídicas), outros negociam contratos sem carteira assinada, multiplica-se o trabalho informal, com direitos parciais ou sem direito algum e, com isso, a estabilidade do emprego tende cada vez mais a desaparecer.

“O trabalho é em si e por si instável. Há uma tendência decrescente do trabalho com direitos e uma tendência crescente, uma explosão, de trabalhos sem direitos, expressando os múltiplos modos de ser da informalidade”, afirmou ele.

“Tudo isso criou uma nova morfologia do trabalho, o que não o eliminou nem mostrou que ele é desimportante. É, sim, muito diferente e temos que entendê-lo. E é isso que venho procurado fazer em meus estudos”, disse.

Mais informações sobre a edição em inglês em www.brill.com/meanings-work.

 

Imprensa – SEESP
Fonte: Agência Fapesp




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