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19/06/2023

Engenharia de pesca garante melhoria da produção aquícola brasileira

Soraya Misleh/Comunicação SEESP

 

Inovações que permitem cultivo de espécies marinhas, principalmente camarão, até em regiões onde não existe mar e expansão de mais de 200% na produção aquícola brasileira em 18 anos. Estes são alguns resultados da atuação do engenheiro de pesca.

 

É o que aponta o profissional da área Evandro Kleber Lorenz. Formado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em 2004 e hoje consultor em aquicultura com ênfase em nutrição de peixes, ele destaca: “A presença de engenheiros de pesca melhorou significativamente a cadeia produtiva dos organismos aquáticos e o acesso a tecnologias e orientação técnica para os produtores rurais”.

 

Evandro Kleber Lorenz, engenheiro de pesca: mercado aquecido. Foto: Acervo pessoal

 

Na avaliação do especialista, com crescimento gigantesco na atividade, o mercado de trabalho está aquecido. Segundo o Mapa da Profissão elaborado pela área de Oportunidades na Engenharia, cabe ao engenheiro de pesca planejar, coordenar, executar e fiscalizar “atividades agrossilvipecuárias e do uso de recursos naturais renováveis e ambientais”. Além disso, promover extensão rural, orientando produtores, e elaborar documentação técnica e científica.

 

De acordo com Lorenz, muitas empresas estão investindo no segmento, inclusive multinacionais, demandando essa mão de obra qualificada. Atualmente há, conforme estatísticas do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), 2.179 engenheiros de pesca registrados no órgão, sendo 1.513 homens e 666 mulheres. Nesta entrevista ao SEESP, Lorenz fala sobre sua trajetória, campo de atuação, inovação e perspectivas ao profissional da área, entre outros temas relevantes. Confira a seguir:

 

O que o levou a escolher a profissão de engenheiro de pesca? Por favor, conte sobre sua trajetória profissional até os dias atuais.

Eu sempre acreditei que tinha aptidão com a área de agrárias, e quando precisei escolher o curso de graduação optei por Engenharia de Pesca por acreditar que seria uma atividade que cresceria muito ainda e, portanto, seriam disponibilizadas muitas oportunidades. Após me formar pela Unioeste, em 2004, atuei na Prefeitura de Santa Helena (PR) como técnico de campo por dois anos. Posteriormente, atuei como responsável técnico de um centro de pesquisa em cultivo de peixes nativos em tanques-rede no mesmo município por cinco anos. Durante esse período, cursei especialização em Gestão Ambiental e de Recursos Hídricos e mestrado em Zootecnia pela mesma universidade. Após, atuei por uma empresa de engenharia do Rio Grande do Sul como engenheiro de pesca em projetos de estudos para delimitação de áreas propícias à instalação de parques aquícolas em alguns reservatórios e, também, em algumas áreas marinhas brasileiras. Ao término desses projetos, fiz doutorado em Ciências Animais pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) e, então, pós-doutorado pela mesma instituição com um ano adicional na Memorial University of Newfoundland, no Canadá. Desde o término do pós-doutorado, atuo como consultor de aquicultura, principalmente na área de nutrição de peixes.

 

Quais as áreas de atuação para o engenheiro de pesca?

As áreas de atuação do engenheiro de pesca são todas aquelas relacionadas ao aproveitamento dos recursos naturais aquícolas, ao cultivo de organismos aquáticos, à pesca e à indústria pesqueira como, por exemplo: obras de engenharia e serviços técnicos que tenham vínculo direto com a implantação e operação de empreendimentos aquícolas; unidades e/ou laboratórios de pesquisa e biotérios que tenham atividades ligadas à área da aquicultura; responsabilidades técnicas por todas as atividades de pesca nas embarcações pesqueiras de qualquer porte, nas indústrias de petrechos de pesca artesanal e industrial; atribuições para exercer atividades nos complexos industriais de processamento, beneficiamento e transformação dos organismos aquáticos;. responsabilidade técnica na gerência de controle de qualidade e de produção, no transporte, no armazenamento, no embarque e desembarque, na classificação, no controle das fraudes, no beneficiamento e agregação de valor, na rastreabilidade e controle de riscos, na inspeção sanitária e na certificação da sanidade.

 

Como está o mercado de trabalho para o profissional hoje e quais as perspectivas?

O mercado de trabalho para o profissional hoje está aquecido. O cultivo de organismos aquáticos no Brasil tem crescido anualmente e possui uma margem significativa ainda para expansão. Muitas empresas estão investindo na aquicultura, e muitas multinacionais estão se instalando no Brasil com vistas ao nosso potencial produtivo.

 

Quais os impactos do trabalho do engenheiro de pesca nas empresas e sociedade?

A produção aquícola brasileira passou de 269 mil toneladas em 2004, quando me formei, para mais de 860 mil toneladas no ano de 2022, ou seja, um crescimento de mais de 200% em 18 anos. Isso se deve significativamente ao ingresso dos engenheiros de pesca na atividade. Hoje existem engenheiros de pesca comandando as principais empresas produtoras de pescado brasileiras, bem como atuando em fornecedores de insumos e serviços. Sua presença melhorou significativamente a cadeia produtiva dos organismos aquáticos e o acesso a tecnologias e orientação técnica para os produtores rurais de todas as classes econômicas.

 

Quais as inovações na engenharia de pesca nos últimos dez anos?

A engenharia de pesca tem sofrido muitas mudanças, principalmente com a evolução da genética dos peixes, com o avanço na nutrição aquícola, de estruturas e equipamentos para cultivo e pesca. Antigamente os cultivos eram basicamente realizados em tanques escavados e com densidades de menos de 3kg/m2. Atualmente, com auxílio de aeradores e técnicas adequadas, existem cultivos em tanques escavados com densidades superiores a 10kg/m2. Também existem cultivos em tanques-rede em reservatórios com densidades superiores a 80kg/m3, além de cultivos superintensivos em tanques com recirculação de água e em bioflocos bastante automatizados. Já existem cultivos de espécies marinhas, principalmente camarões, em regiões onde não tem mar – próximas aos clientes. Por vezes, a água é salinizada artificialmente com sais adequadamente formulados para atender a necessidade dos animais. Na área de nutrição, passou-se a falar mais frequentemente em nutrientes digestíveis, e o uso de aditivos zootécnicos, nutricionais e tecnológicos se tornou mais presente nas composições das rações. Atualmente, com a inclusão da inteligência artificial, os avanços estão ocorrendo muito rapidamente. A atividade, que era bastante “mão na massa”, se tornou significativamente tecnificada.

 

Poderia destacar seus trabalhos de pesquisa e dar dicas de aprimoramento profissional?

Minha linha de pesquisa é principalmente nutrição de peixes. Tenho trabalhos com hidrolisados proteicos, vitaminas, microalgas e demais aditivos e ingredientes destinados a alimentação de peixes. Também tenho trabalhos com qualidade de água, tecnologia do pescado e fisiologia de peixes. Acredito que o aprimoramento profissional acontece todo dia, não necessariamente na universidade. Atualmente acredito que as áreas que estão precisando de mais profissionais qualificados são aquelas relativas a saúde e nutrição animal, projetos de sistemas intensivos e, também, aquelas relativas a gestão de negócios.

 

Qual o projeto de maior destaque que participou?

Difícil nomear o projeto de maior destaque, mas acredito que ter participado de um processo de delimitação de parques aquícolas em vários reservatórios do Brasil possa ter causado um maior impacto, devido à grande quantidade de pessoas beneficiadas. Nesse trabalho, selecionamos áreas propícias à instalação de parques aquícolas, baseados em dados de produção, logística, ambiental e social. A produção e os resíduos dos futuros parques foram estimados e utilizados como inputs em softwares de modelagem ambiental para que não se ultrapassasse a capacidade de sustentação ambiental.

 

 

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