A área tem se desenvolvido com maior precisão com a conectividade pela internet via satélite para ajudar na produção sustentável.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Nesta terça-feira, 27 de outubro, é Dia do Engenheiro Agrícola. O Brasil tem cerca de 4 mil profissionais registrados na modalidade, segundo estatística do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). O primeiro curso da área foi criado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), em 1972. Hoje, são quase 42 em todo o País. A engenharia agrícola, pode-se dizer, implementa a engenharia da cidade no campo, utilizando técnicas para aproveitamento do solo, buscando a preservação dos mananciais, planejando e executando obras de irrigação. Também trabalha na mecanização da agricultura, em projetos de eletrificação, edificações rurais e armazenagem de produtos.
Ao parabenizar todos os profissionais da área, a entrevista é com o engenheiro agrícola Edson Roberto Zanon, de 53 anos de idade e formado há 30 anos, que fala sobre sua trajetória. Desde março de 2010, ele é gerente de Operações na multinacional NaanDanJain, empresa situada em Leme, interior paulista. Zanon se decidiu pela profissão aliando família e ciências exatas. “Minha família é de origem italiana e veio para o Brasil para a lavoura de café, na região de Campinas. Ao mesmo tempo, sempre gostei de exatas. A engenharia agrícola entra na minha vida juntando essas duas paixões”, explica.
Ele fez o curso na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, de longa tradição na área do estudo, pesquisa e formação de grandes profissionais da área do campo. Com Zanon não foi diferente. “Realmente foi um curso muito bom, tive grandes mestres e tenho muita saudade da universidade”, elogia.
As áreas de atuação desse profissional são mecânica agrícola, energização rural, processamento de produtos agropecuários, engenharia de água e solos e construções rurais. “Precisamos, na profissão, nos esforçar para sermos eficientes. Ao mesmo tempo, ajudar a construir caminhos para que os nossos colaboradores possam se desenvolver, estudar e, um dia, virem a ser líderes nas suas áreas e também ocupar o espaço que vamos deixar um dia. Entender esse ciclo da vida é fundamental”, ensina.
O senhor disse que a escolha pela engenharia agrícola está muito relacionada também a sua família.
Sim. Ela é toda de origem italiana e veio para o Brasil no início do século passado para trabalhar na lavoura de café, em Paulínia, na região de Campinas. Então, juntei essa influência familiar com o meu gosto pelas ciências exatas, pendendo para o lado do campo. Além disso, o Brasil tem um grande potencial agrícola. Tudo isso ajudou a fazer minha escolha pela engenharia agrícola, o que também trouxe muita alegria para a minha família. Acredito que uni tudo o que gostava nessa escolha.
Estudei na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. Entrei em 1986 e me formei em 1990. Muito bom. Saudade dos grandes mestres de Viçosa, deixo aqui um abraço especial para todos eles, como os professores [Eduardo José Mendes Del] Peloso, in memoriam, e Everardo [Chartuni] Mantovani, foram importantes na minha formação.
Foi fácil iniciar a carreira aos 23 anos, na década de 1990?
À época da minha formação, o Brasil vivia o processo do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello e enfrentava problemas na economia. Por isso, demorou um pouco para eu iniciar na carreira. Então, fiz outras atividades, como trabalhar fazendo censo [para o IBGE], em 1991. Depois disso, em 1992, trabalhei numa pesquisa conjunta da UFV e a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] de Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Nessa atividade, desenvolvi o gosto pela área de pesquisa.
Quando terminei a pesquisa com o estudo publicado, voltei para minha cidade, Campinas, prestei o concurso e entrei na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e desenvolvi minha dissertação na área de concentração de Água e Solo voltada ao teste automatizado e uniformizado de aspersores, em 1995. Depois do mestrado, fui admitido numa empresa de irrigação, na Irrigaplan, como analista de projetos de irrigação. Também fiz especializações na área de administração e gestão estratégica de empresas e negócios [na Faculdade Metrocamp, em 2005]. Tenho ainda pós-graduação em supply chain.
Hoje, trabalho na Jain Sistemas e Irrigação, mas no braço ocidental que é a NaanDanJain, há 12 anos na área de projetos de desenvolvimento e implantação de sistemas de irrigação. Essa experiência toda me ajuda muito porque, atualmente, sou o gerente de operações da empresa e no comando da minha equipe, em toda a parte de produção e logística. Na produção, fabricamos os tubos roteadores e tubos de polietileno. A engenharia agrícola me ajuda muito em saber como o tubo roteador deve ser produzido, levando em conta suas características para ser um equipamento de irrigação.
Quais as áreas de atuação do engenheiro agrícola?
Em todas as atividades de engenharia voltada à agricultura, seja na parte de administração, no setor de cultivo, de logística. O campo é muito grande mesmo. Com a tecnologia embarcada de conectividade via internet, por meio do sensoriamento em geral, a engenharia agrícola também se faz presente. São máquinas e equipamentos com conectividade via satélite que transmitem o desempenho remoto do objeto em investigação. Hoje, os sistemas de irrigação também podem estar conectados à nuvem, por softwares, podendo ser ligado e desligado de forma remota, avaliando a quantidade aplicada de água ao solo. Ou seja, a profissão tem muita tecnologia envolvida, que vai desde a infraestrutura até a parte de conectividade para todos os ramos, tanto na irrigação, na mecanização etc..
Engenheiro, talvez seja uma pergunta que todos façam, mas acredito que vale repeti-la: qual a diferença das engenharias agrícola e agronômica?
É uma pergunta que se repete há muito tempo. O engenheiro agrícola tem seu currículo e base de pensamento mais voltados à engenharia, no sentido de trazer para a agricultura e seu negócio o conhecimento da engenharia. Já a formação do engenheiro agrônomo é mais voltada à condição de avaliação da cultura e condição do solo, ele seria uma espécie de clínico geral, vamos dizer assim. Porém, muitos irão se especializar em alguma atividade como fitossanidade, genética de plantas entre outras atuações. O que poderia dizer é que um engenheiro agrícola está mais na engenharia voltada para a agricultura, seja ela conectividade, mecânica ou até informática etc.. E agronomia está muito mais voltada ao conceito de como a planta se desenvolve num meio. Sem esquecer que o agrônomo também tem um pouco de especialização animal no sentido da zootecnia.
Como o senhor descreveria a importância da sua profissão para a sociedade?
A engenharia agrícola – aliás, como todas as engenharias – tem um papel muito importante para o País. Ressalto isso, pensando num Brasil que quer se desenvolver no sentido positivo para toda a sociedade, que alie produtividade a não agressão ao meio ambiente. Nesse sentido, já vemos, nas universidades, a inclusão de uma formação mais voltada para um conceito de preservação do meio ambiente. Então, [é preciso ter a] conservação do solo, da água e dos mananciais, por meio de áreas de florestas e de APPs [Áreas de Preservação Permanente], preservando nascentes de água. Preservar o solo também é preservação de água. E água é, no nosso meio, principalmente na irrigação, fundamental. Não só para a sociedade urbana, mas também para a agricultura. Inclusive, precisamos perder um pouco desse preconceito na sociedade urbana de que irrigação é um consumidor de água. Não. A gente faz um uso consultivo. Quando irrigamos, usamos essa água na quantidade e no tempo certos para a planta se desenvolver. E a maior parte dessa água retorna por meio de evaporação ou por evapotranspiração. Ou seja, a gente pega uma água, filtra, aplica no solo e devolve em vapor de água, totalmente limpa. Isso também é um fator muito importante de contribuição. São sistemas eficientes de agricultura irrigada que também ajuda a preservar o solo. Para mim, quando fazemos isso, estamos contribuindo muito com a sociedade.
Portanto, a engenharia agrícola vai levar ao campo conhecimento, saber e tecnologia de ponta para utilizar os recursos com maior eficiência, com menor desperdício. Isso faz com que o campo possa produzir alimentos, fibras, energia para a sociedade urbana de forma sustentável. Isso é o mais importante. E ajudamos o País a ter uma economia forte e competitiva.
Quem é o Edson Roberto Zanon além do engenheiro agrícola, e como concilia a vida profissional e a pessoal?
Além de ser engenheiro agrícola [risos], levo uma vida muito familiar, com a família e os amigos. Como hobbies, pratico esportes que gosto muito, como o futebol e tênis. Eles me exigem bastante concentração. Na verdade, conciliar vida profissional e familiar é o que todo profissional deve saber fazer. Tenho uma esposa que é advogada, um filho de 16 anos que estuda e gosta do que faz também. Tenho uma família grande, com irmãos, irmãs, minha mãe [o pai já é falecido]. Acho que devemos saber dosar as coisas na vida. Trabalho bastante, mas, também, me dedico a estar sempre presente, do lado deles. Todo domingo, por exemplo, visitamos a minha mãe. Acredito que a família é a base de uma sociedade, independente de como ela seja. Não precisa ser necessariamente pai, mãe e filhos. Família quer dizer grupo de pessoas que convivem, se dão bem, se gostam, se amam e se ajudam. E, quando as pessoas se ajudam em família, se ajudam como sociedade.