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Educação – Abrir o diálogo e ter maior inserção social são desafios da USP

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Responsável por um orçamento, neste ano, de cerca de R$ 5 bilhões e por mais de 90 mil estudantes, a reitoria da Universidade de São Paulo (USP), empossada em 24 de janeiro último para o mandato que vai até 2018, destacou, em sua plataforma de campanha, a abertura de diálogo com todos os atores da comunidade universitária – professores, funcionários e alunos. Na gestão 2010-2013, de João Grandino Rodas, a instituição enfrentou movimentos de protestos significativos, como em dezembro de 2011 e outubro de 2013. Ao lado do novo reitor Marco Antonio Zago, na tarefa de reabrir o canal de comunicação e modernizar a USP, está seu vice, o engenheiro civil Vahan Agopyan, professor titular de Materiais e Componentes de Construção Civil da Escola Politécnica (Poli/USP). Nesta entrevista ao JE, esse último fala sobre os primeiros dias de gestão e seus desafios.


Qual o trabalho que a nova reitoria considera fundamental realizar no início da gestão?

Temos três objetivos principais. O primeiro deles é dar total prioridade à graduação. Vamos tentar remodelar os cursos, incentivando os professores a darem mais aulas nesse nível. Ao mesmo tempo, vamos treinar os docentes em novas ferramentas de ensino.


Isso compreende as tecnologias?

Sim, com o uso cada vez mais intensivo de recursos audiovisuais. Por exemplo, a Poli ajudou a Faculdade de Odontologia de Bauru a desenvolver um modelo tridimensional de um crânio humano, em que os alunos vão poder fazer experimentos e treinamentos de anestesia em crianças. A engenharia não somente se beneficia como contribui para o aperfeiçoamento do ensino de graduação.


Quais as metas além da prioridade à graduação?

Outro aspecto importante é a inserção da universidade na sociedade. As escolas de engenharia, de maneira geral, já têm uma penetração boa, mas ainda insuficiente. A universidade, durante um bom período, e não só no Brasil, ficou um pouco isolada. Hoje, no século XXI, ela precisa repensar o seu papel, o que significa interagir com empresas (públicas e privadas), governos, o terceiro setor e os segmentos sociais organizados, como o sindicato dos engenheiros. A USP, como instituição, não colabora com o SEESP, que é uma entidade importante. E o terceiro ponto é dar dinamismo aos processos administrativos. É uma questão interna, mas imprescindível, porque uma universidade de qualidade tem que ter recursos humanos fantásticos, professores de padrão internacional, estrutura razoável – e nós temos, mas ainda não temos a agilidade, por exemplo, de uma universidade chinesa ou europeia. Precisamos trabalhar muito nessa direção.


Quais os atributos de um profissional da área de engenharia que podem ser agregados ao mandato da reitoria da USP?

Gosto muito da definição de engenheiro como um profissional que sabe tomar decisões na incerteza. Na engenharia, não temos certeza absoluta de tudo, mas sabemos avaliar riscos. Numa administração, o gestor precisa ter essa capacidade.


Vocês foram eleitos com a proposta de abertura de diálogo.

A universidade não é um lugar onde as pessoas ficam caladas. É o local onde os pontos de vista devem ser apresentados e justificados. O que não podemos ter são disputas que não sejam de ideias, que não admitam posições contrárias e utilizam a agressão física ou material para prevalecer. Isso não podemos admitir.


Já estão definidos alguns passos nessa direção?

Os estudantes nos convidaram para a semana de recepção de calouros no início deste ano, o que nos trouxe muita honra. O Zago e eu fazemos questão de conversar com os alunos quando visitamos uma faculdade. Também já recebemos as representações dos funcionários e dos professores. Hoje, essas entidades sabem que têm um canal de diálogo com a reitoria.


Qual o orçamento da USP?

A receita que vamos receber, neste ano, do governo do estado, é de R$ 4,6 bilhões. Além disso, conseguimos, por meio das agências de fomento, mais de R$ 1 bilhão. É um grande orçamento, mas comparado a universidades de outros países, é pequeno. Todavia, não deixa de ser um recurso significativo ante a realidade nacional. É uma responsabilidade muito grande gerir esse recurso de forma adequada e com o máximo proveito para a educação.


O senhor está à frente de uma das maiores escolas de engenharia do País. Como vê o ensino da área no Brasil?

A minha preocupação maior não é com o curso de engenharia, mas com o ensino básico. Se não motivarmos as nossas crianças a estudarem ciências e matemática e a valorizarem o conhecimento do português, não vamos ter alunos capazes de fazer uma boa escola de engenharia. O ensino superior não consegue superar essa deficiência. As nossas escolas de engenharia seguem modelo de educação muito moderno.


Há possibilidade de a USP estar no próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)?

Estamos começando a discutir a questão. A preocupação é como garantir aos talentos que não tiveram oportunidade de se preparar para o vestibular estarem na universidade. Pode ser o Enem ou a nota do ensino médio. Precisamos discutir com o Judiciário para tentar criar novos mecanismos para atrair esses alunos, e não apenas a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular).


Por Rosângela Ribeiro Gil

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