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05/09/2013

Opinião – Elitismo encastelado

A cada dia, fica mais evidente o verdadeiro motivo do envolvimento de diplomatas brasileiros na fuga no senador boliviano Roger Pinto: o apoio desses funcionários às correntes direitistas que se opõem ao presidente Evo Morales. Não foram preocupações humanitárias que levaram o encarregado de negócios Eduardo Saboia a trazer ao Brasil um corrupto foragido. Sua intenção – assim como a do embaixador Marcel Biato, que lhe concedeu asilo na embaixada – foi claramente a de causar prejuízos políticos ao governo popular da Bolívia.

O episódio traz à tona a resistência conservadora, disseminada em todos os escalões do Itamaraty, à orientação progressista da política externa a partir da posse de Lula. Os diplomatas brasileiros são ligados, pela origem e por múltiplos vínculos familiares e sociais, às classes dominantes do nosso país. No conjunto do serviço público, a carreira diplomática se destaca pelos seus traços elitistas, com regras de acesso formatadas de tal modo que nela só conseguem ingressar integrantes da burguesia e da alta classe média, com raríssimas exceções. É natural que, na prática profissional, esses indivíduos imprimam a marca dos seus interesses de classe.

O embaixador aposentado Samuel Pinheiro Guimarães, quando exerceu o cargo de secretário-geral do Itamaraty, desafiou o elitismo da "casa". Aliviou o peso das línguas estrangeiras no processo seletivo – uma medida positiva, mas insuficiente. Também tentou introduzir um programa de leituras com ênfase no pensamento crítico, mas a proposta naufragou sob os ataques da mídia reacionária e de medalhões da diplomacia.

Se o governo quiser de fato implementar uma política externa progressista, terá de enfrentar o conservadorismo encastelado no Ministério das Relações Exteriores. Um ponto de partida pode ser a adoção de uma política de cotas em benefício dos afrodescendentes. É urgente alguma iniciativa para corrigir a situação vergonhosa em que os negros, maioria na população, estão quase totalmente excluídos da carreira diplomática. A presidenta Dilma, que em boa hora substituiu o inepto e direitoso Antonio Patriota, poderia aproveitar a deixa para chacoalhar o elitismo do Itamaraty.

* por Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC)


 


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