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05/06/2017

Nível do mar na costa brasileira tende a aumentar nas próximas décadas

Relatório especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) sobre “Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas” foi lançado no dia 5 de junho último, durante evento no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Segundo suas conclusões, a tendência é de aumento do nível do mar na costa brasileira nas próximas décadas. No País, contudo, onde mais de 60% da população vivem em cidades costeiras, não há um estudo integrado da vulnerabilidade dos municípios litorâneos a este e a outros impactos decorrentes das mudanças climáticas, como o incremento da frequência e da intensidade de chuvas. Um estudo desse gênero possibilitaria estimar os danos sociais, econômicos e ambientais e elaborar um plano de ação com o intuito de implementar medidas adaptativas.

A publicação tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e parte dos estudos nos quais se baseia é resultado do Projeto Metrópole e de outros apoiados pela instituição no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), financiado pela fundação e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“A ideia do relatório foi mostrar o estado da arte sobre mudanças de clima e cidades costeiras, baseado em uma exaustiva revisão de publicações internacionais e nacionais sobre o tema, e também identificar lacunas no conhecimento para que os formuladores de políticas públicas e tomadores de decisão no Brasil possam propor e implementar medidas de adaptação”, disse à Agência Fapesp o coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e um dos autores e editores do relatório, José Marengo.

De acordo com dados do documento, entre 1901 e 2010 o nível médio do mar globalmente aumentou 19 centímetros – com variação entre 17 e 21cm. Entre 1993 e 2010, a taxa de elevação correspondeu a mais de 3,2 milímetros por ano – com variação entre 2,8 e 3,6mm por ano. No Brasil, a despeito da ausência de estudos, Marengo afirma que “ já identificamos por meio de estudos regionais diversas cidades de médio e grande porte que apresentam alta exposição à elevação do nível relativo do mar e já têm sofrido os impactos desse fenômeno, particularmente na forma de ressacas e inundações”. Entre essas cidades, estão Rio Grande (RS), Laguna e Florianópolis (SC), Paranaguá (PR), Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES), Salvador (BA), Maceió (AL), Recife (PE), São Luís (MA), Fortaleza (CE) e Belém (PA). 

Nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, têm sido registradas taxas de aumento de 1,8 a 4,2mm por ano desde a década de 1950. Na cidade de Santos, no litoral sul paulista, onde está situado o maior porto da América Latina, a elevação tem sido de 1,2mm por ano, em média, desde a década de 1940. Além disso, ocorreu aumento significativo na altura das ondas – que alcançava um metro em 1957 e passou a atingir 1,3m em 2002 – e na frequência de ressacas no município. Já no Rio de Janeiro, a análise dos dados da estação maregráfica da Ilha Fiscal – que tem a série histórica mais antiga do Brasil e fica no meio da Baía da Guanabara – indica tendência média de aumento de 1,3mm por ano, com base nos dados mensais do nível do mar do período de 1963 a 2011, com índice de confiança de 95%.

Por sua vez, em Recife o nível do mar aumentou 5,6mm entre 1946 e 1988 – o que corresponde a uma elevação de 24 centímetros em 42 anos. A erosão costeira e a ocupação do pós-praia provocaram uma redução da linha de praia em mais de 20 metros em Boa Viagem – a área da orla mais valorizada da cidade –, apontam os autores do relatório. “Existem poucas observações como essas em outras regiões do país. Quando tentamos levantar dados dos últimos 40 ou 100 anos em outras cidades do Nordeste, como Fortaleza, por exemplo, é difícil encontrar”, disse Marengo.

Impactos socioeconômicos
De acordo com os autores do relatório, as mudanças climáticas e um acelerado ritmo de elevação do nível do mar podem causar sérios impactos nas áreas costeiras do Brasil. Os socioeconômicos seriam mais restritos às vizinhanças das 15 maiores cidades litorâneas, que ocupam uma extensão de 1,3 mil quilômetros – correspondente a 17% da linha costeira do Brasil. 

Entre as principais consequências da elevação do nível do mar estão o aumento da erosão costeira, da frequência, intensidade e magnitude das inundações, da vulnerabilidade de pessoas e bens e a redução dos espaços habitáveis. “Mas há outros impactos não tão perceptíveis, como a intrusão marinha, em que a água salgada do mar começa a penetrar aquíferos e ecossistemas de água doce”, ressalta Marengo.

As projeções do quinto relatório (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) são que a elevação do nível do mar globalmente varie entre 0,26 e 0,98 metro até 2100 – em um cenário mais pessimista. O relatório apresenta estimativas similares para a costa brasileira.

Com isso, há maior probabilidade de inundações em áreas que apresentam mais de 40% de mudanças no nível do mar observadas nos últimos 60 anos – como é o caso de várias metrópoles costeiras brasileiras, ressaltam os autores. Essas serão mais preocupantes nos litorais do Nordeste, Sul e Sudeste. Os seis municípios fluminenses mais vulneráveis, de acordo com estudos apresentados no relatório, são Parati, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Magé e Campos dos Goytacazes. “A combinação do aumento do nível do mar com tempestades e ventos mais fortes pode provocar danos bastante altos na infraestrutura dessas cidades”, estima Marengo.

Exemplo de plano
O documento destaca o Plano Municipal de Adaptação à Mudança de Clima (PMAMC) da cidade de Santos – elaborado com base nos resultados do Projeto Metrópole, coordenado por Marengo – como exemplo de plano de ação para adaptação às mudanças de clima e os seus impactos nas cidades (leia mais sobre o assunto em http://agencia.fapesp.br/21997/). Tal é realizado por pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), dos institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Geológico (IG) e das universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com colegas da University of South Florida, dos Estados Unidos, do King’s College London, da Inglaterra, além de técnicos da Prefeitura Municipal de Santos.

O estudo internacional estimou que a inundação de áreas costeiras das zonas sudeste e noroeste de Santos, causada pela combinação da elevação do nível do mar com ressacas, marés meteorológicas e astronômicas e eventos climáticos extremos, pode causar prejuízos acumulados de quase R$ 2 bilhões até 2100 se não forem implementadas medidas de adaptação. “Nossa intenção é aplicar essa metodologia utilizada em Santos em outras cidades litorâneas brasileiras para termos pelo menos uma estimativa inicial do custo de adaptação à elevação do nível do mar”, diz Marengo.

 

Publicado por Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP
Notícia editada da Agência Fapesp (por Elton Alisson)

 

 

 

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