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23/04/2024

Amplo mercado e muitas inovações na Engenharia de Produção

Soraya Misleh/Comunicação SEESP

 

Com possibilidade de atuação em muitos e distintos segmentos, além do amplo espectro de inovação, a Engenharia de Produção se apresenta como uma profissão com muitas oportunidades. Esta é a visão de Carolina Martins Ribeiro, cuja carreira tem sido construída no setor industrial.

 

Formada na modalidade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSC) em 2029 e realizando mestrado na instituição nessa área, com foco em Planejamento de produção (Pesquisa operacional), atualmente ela exerce a função de engenheira de produção júnior na Petrobras.

 

Conforme o Guia das Engenharias do SEESP, cabe a esse profissional projetar e gerenciar “processos produtivos ligados às organizações dos mais diversos setores, seja de manufatura, de transformação, de serviços hospitalares, financeiros, varejo no que se refere à logística e alimentos, entre outros”.

 

Carolina Martins Ribeiro: versatilidade e inovações marcam Engenharia de Produção. Foto: Acervo pessoal

 

Nesta entrevista, Ribeiro fala, entre outras questões, sobre sua trajetória, projetos de destaque, mercado, inovações e perspectivas na área, bem como dos desafios de ser mulher em uma área ainda majoritamente masculina. Conforme o Sistema Confea/Crea, atualmente somam 46.085 engenheiros de produção registrados no órgão, dos quais 34.557 são do gênero masculino e apenas 11.528, feminino. Confira a seguir.

 

Por que você optou pela Engenharia de Produção?

Desde criança, adolescente, sempre tive muita facilidade com Exatas, então quando estava perto desse momento de escolha, eu sabia que queria alguma coisa com engenharia. Um pouco antes de me formar no ensino médio, tive um tempo de Jovem Aprendiz numa fábrica e gostava muito de ver como as coisas eram transformadas em produto no final. Daí eu falei, é Engenharia de Produção, quero trabalhar em indústria, quero trabalhar sempre em fábrica.

 

Fale sobre sua trajetória profissional.

Eu me formei na Universidade Federal de São Carlos. Durante a faculdade me identifiquei com a área chamada “Pesquisa operacional” que hoje é o tema do meu mestrado, é essa otimização matemática para tomada de decisões. Minha trajetória profissional começou na Embraer, fiquei dois anos e meio lá, um tempo como estagiária e depois como engenheira efetiva. Comecei trabalhando na logística, uma área que conquistou meu coração, era muito maior do que eu pensava, tinha muitas coisas a serem feitas, mais do que na linha de produção. Trabalhei ali por um tempo focada em projeto de melhoria de fluxo. Depois fui trabalhar como responsável pelo planejamento de uma das partes do avião, também foi uma experiência incrível, muito legal, consegui ver o planejamento de produção raiz, enfim, linha de montagem, como planejar, como sequenciar. Então fui para a Eletrolux onde era coordenadora de linha de produção. Trabalhava mais como gestora do pessoal ali, além de fazer projetos e ser responsável pelos indicadores. Foi uma experiência incrível. Saí de uma linha de produção, quando estava na Embraer, que tinha uma cadência muito alta, o tempo total da produção de avião demorava mais de ano, e fui para uma linha de produção em que saía uma máquina de lavar a cada 15 segundos. Fui de extremos e fiz esse movimento exatamente porque queria ser uma profissional versátil. Depois fui para consultoria em indústria, queria ver o meio também, todo tipo de produção. Fiquei lá por pouco tempo, mas foi muito bom. E hoje trabalho na Petrobras, uma indústria totalmente diferente, de óleo e gás, estou aprendendo aos pouquinhos e tem sido um super desafio.

 

Quais as suas áreas de atuação e projetos de destaque que participou?

O mais legal da Engenharia de Produção é que você pode fazer muita coisa diferente. Sempre optei pela indústria, e mesmo dentro da indústria há muitos caminhos que podem ser tomados. Uma parte da minha carreira é focada em planejamento e controle da produção, é uma área com que me identifico muito, tanto que é tema do meu mestrado. O projeto mais marcante foi o meu TCC [trabalho de conclusão de curso]. A partir da modelagem matemática, eu fiz um projeto de dimensionamento e sequenciamento de lotes de produção numa linha de montagem, o qual trouxe bastante ganho para a indústria no sentido da tomada de decisão, permitindo avaliar recursos, sem precisa ficar reanalisando muitas vezes, com planejamento. E em consultoria trabalhei com melhoria de resultado de OEE, que é eficiência da linha de produção. A gente colocava mesmo a mão na massa e ver essa melhoria na eficiência também foi muito legal, o que foi eliminando pequenos desperdícios. Ainda, no plano de logística que abastece materiais para linhas de produção fizemos uma melhoria de fluxo muito legal, tinha um processo onde muitas vezes os materiais para montagem atrasavam, então quando o material chegava era sempre urgente. A gente precisava, além do nosso fluxo normal, ter esse processo de atendimento de emergência. Como era antes? As linhas de produção ficavam monitorando em que momento a gente tinha acesso ao material e quando sabiam que estavam chegando ou não, já ficavam ligando para nós, mandando mensagens, e havia só uma pessoa para cuidar desse fluxo emergencial. O que fizemos? Eu liderei esse projeto de logística fazendo uma automação dessa informação, surgia uma lista da chegada do material, que já ia direto para o fluxo emergencial. Esse projeto melhorou bastante o fluxo, me orgulho bastante, o tempo de atendimento caiu pelo menos 30%.

 

Quais as possibilidades e mercado para o engenheiro de produção?

As possibilidades de mercado são muito vastas. Tenho colegas que se formaram comigo e trabalham em áreas completamente diferentes. Você pode trabalhar em indústria, em mercado financeiro, em consultoria, em RH, conheço empresas até de marketing que contratam engenheiros de produção por essa nossa capacidade analítica, de tomar decisões, de organizar e melhorar fluxos. Isso toda empresa sempre vai precisar. Engenharia de Produção é uma carreira que vai te dar uma versatilidade e uma opção de escolha infinita. Já fui até questionada uma vez se a gente poderia ser substituída por máquina, eu não acredito nisso. Esse poder de tomada de decisão, de análise, é uma coisa que a máquina não consegue fazer por completo. E outro ponto é que a gente tem muitos colegas em outras engenharias e formações que são bastante focados no técnico, dentro da sua caixinha. O engenheiro de produção vem com esse plus de muitas vezes conseguir conversar com esse cara técnico e auxiliá-lo a tomar a melhor decisão.

 

Quais as inovações na área?

É até difícil de acompanhar, de tanta coisa nova que vem surgindo, principalmente com as novas tecnologias. Tem Inteligência Artificial (IA), Indústria 4.0, Internet das Coisas, big data. Na indústria teve uma revolução muito grande quando se fala de dados. A gente consegue ver o comportamento dos indicadores, consegue melhorar tendo como base o histórico, isto é, com certeza, uma mudança significativa, uma coisa totalmente nova. Um exemplo muito claro é a questão do gêmeo digital, que é criar um gêmeo exatamente igual à sua indústria no computador e conseguir simular coisas que acontecem, redesenhar todo o projeto, até mesmo antes de ter a linha de produção. Na fase de projeto pode fazer, que é uma coisa que pode ser aplicada não só na indústria, mas até na construção civil. Com Internet das Coisas hoje há tecnologias que nos dizem por exemplo em que momento aquela máquina vai quebrar, a partir de uma análise estatística. Acho que o principal de inovação é a questão dos dados, que permeiam a nossa função para se conseguir tomar decisões mais assertivas, melhorar e auxiliar. Poderia citar muitas inovações. Acredito com a IA vai melhorar ainda mais esse acompanhamento online, ao vivo, independentemente de onde a gente esteja. É uma revolução realmente absurda, eu sempre falo que a Indústria 4.0 já chegou, a quarta revolução industrial já aconteceu e está acontecendo sob nossos olhos.

 

Quais os desafios que enfrenta ou já enfrentou ao atuar em uma profissão ainda majoritariamente masculina?

O desafio começa antes mesmo do mercado de trabalho. A indústria como um todo é majoritariamente masculina, é difícil algumas vezes ter essa representatividade, principalmente nas lideranças. Mas acho que o mercado vem mudando nos últimos anos. Não significa que não teve ou não têm desafios ao longo da minha jornada profissional, mas tive sorte de muitas vezes ver essa liderança feminina nas empresas em que trabalhei, mesmo que de forma bem menos representativa do que de homens. Os desafios existem principalmente quando a gente se posiciona ou tem uma posição gerencial. Muitas vezes nossa ordem, decisão não são levadas tão a sério quanto as de homens, ou se a gente tem a mesma postura mais rígida, não é lido da mesma forma. Um homem nesse caso é apenas exigente, a mulher é chata, louca, enfim. Eu sinto muito essa dificuldade, o meu maior desafio interno mesmo, não só dentro da indústria, é essa leitura, esse medo dessa leitura errada sobre mim. Então muitas vezes a gente deixa de se posicionar, de falar, com medo do que o outro vai pensar e como isso vai afetar nosso trabalho, nosso desempenho. Já aconteceu também de eu falar uma coisa e ninguém dar bola e um homem falar e isso é tido diferente. São pequenas coisas que acontecem, e não gosto de deixar que dominem a minha carreira, eu tento sempre fazer o meu melhor, me posicionar, eu tenho muito essa necessidade internamente de listar todos os argumentos possíveis para uma decisão para não ser refutada. Então a gente sente a necessidade de se provar muito mais, e acho que isso não é uma exclusividade da indústria, na maioria dos mercados e dos segmentos, mulheres sentem-se mais ou menos da mesma maneira. É um desafio diário, uma luta constante.

 

Quais as dicas para jovens mulheres que pretendem seguir a profissão? Tem havido avanços em relação à inserção feminina na engenharia em geral e na engenharia de produção em especial?

Acho que já melhoramos muito, mas ainda há muito a ser feito. As dicas são: não tenham medo de entrar em espaços que são considerados amplamente masculinos, não tenham medo de falar que querem uma Engenharia Mecatrônica, por exemplo, que é muito conhecida por ser majoritariamente masculina. Tenham essa coragem, o caminho pode não ser tão fácil, mas se preparem, e não só tecnicamente. Claro, dediquem-se muito tecnicamente para terem embasamento quando forem seguir sua vida profissional, mas também naqueles famosos soft skills, que são aquelas habilidades interpessoais. Isso é muito importante para a gente conseguir seguir, influenciar, conduzir reuniões, decisões, grupos, enfim. A Engenharia de Produção tem muito isso de auxiliar uma parte mais técnica, então soft skills são muito importantes. Não tenham medo mesmo, “ah, entrei na sala de aula, só tem eu de mulher”, segue, segue, porque aos poucos a gente vai mudando esse ambiente. Mais da metade da população brasileira é feminina, então a gente tem que se representar em todas as áreas possíveis e imagináveis.

 

Quais as perspectivas futuras para a profissão?

Com certeza vai permear muitos dos caminhos de Engenharia de Produção essa questão de dados, de automação, de Indústria 4.0, Inteligência Artificial. Muita empresa já está usando isso para sair na frente no mercado. Então daria essa dica de se antenar muito nesses assuntos, acho que principalmente ficar de olho nisso, porque isso vai mudar ainda mais a forma como a gente trabalha. Tem que ficar bem atento a essas novas tecnologias que estão surgindo.

 

 

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