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23/11/2023

Marcadores sociais podem influenciar a violência no trabalho

Fundacentro

 

Especialistas falam sobre a violência relacionada ao trabalho durante live do “Seminário 50 anos da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO)”. O evento ocorreu no dia 27 de outubro e foi transmitido no canal da Fundacentro no YouTube.

 

Coordenada pela tecnologista da Fundacentro Daniela Sanches, a live ainda contou com as presenças de Carlos Eduardo Carrusca Vieira, Amanda Aparecida Silva e Eliana Aparecida Pintor.

 

O seminário é baseado no ensaio “Violência no trabalho: dimensões estruturais e interseccionais”, publicado na edição comemorativa do cinquentenário da RBSO.

 

“O artigo traz uma compreensão de como marcadores sociais, como classe, raça e gênero, fazem com que os fenômenos violentos incidam de forma diferente, mais ou menos intensas, sobre as pessoas no trabalho, e isso precisa ser considerado para o enfrentamento”, informa a tecnologista da Fundacentro.

 

Dimensões estruturais e interseccionais

Para tratar do tema, o próprio autor do ensaio e professor do programa de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC - Campinas), Carlos Eduardo Carrusca, palestrou no seminário.

 

Carrusca descreve que a violência relacionada ao trabalho é um conceito “guarda-chuva” que abrange dimensões distintas. Além da dimensão de classe, existem outros eixos que fazem parte das relações sociais de produção, as de raça e cor e as de sexo e gênero. “Esses eixos são marcadores sociais de diferença, não são só atributos das pessoas”.

 

Já as condições insalubres, precárias ou degradantes de trabalho, o adoecimento, o desemprego, a violência perpetrada contra os trabalhadores ou praticada por eles, a criminalidade violenta, o assédio, o patriarcado, a violência de gênero, o sexismo, o racismo, o trabalho extenuante e desumanizado são dimensões estruturais, institucionais e comportamentais sensíveis aos marcadores sociais de diferença.

 

As relações sociais, em sociedades marcadas pela diversidade, podem ser influenciadas pela intersecção desses marcadores de diferença com as relações de produção, nas relações de poder. Em alguns casos, pode até reproduzir e acentuar estereótipos sociais, delineando processos de humilhação e exclusão.

 

“A violência relacionada ao trabalho produz sofrimentos, enfermidades, privações, incapacidades, mutilações e mortes. A caracterização e o enfrentamento desse problema devem considerar as inter-relações entre as dimensões estruturais e as interseccionais. Sem considerá-las, o fenômeno será recorrentemente interpretado de forma enviesada, sendo reduzido a acontecimentos classificados como fortuitos e decorrentes apenas de desvios psicopatológicos dos indivíduos”, conclui Carrusca.

 

Interseccionalidade

O Seminário ainda promoveu um debate com Amanda Silva, pesquisadora no campo Saúde do Trabalhador e Saúde Mental relacionada ao Trabalho, e Eliana Pintor, interlocutora de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), que fizeram algumas reflexões relacionadas ao tema da palestra.

 

No intuito de aprofundar as ideias apresentadas por Carrusca, Amanda Silva começa o debate falando sobre a interseccionalidade, conceito sociológico que se preocupa com as interações e os marcadores sociais nas vidas das minorias.

 

“Eu acho essa teoria muito interessante, para a gente usar como lente, na compreensão, na análise dos problemas sociais e das questões de saúde e violência no campo do trabalho. Entre os construtos centrais desse conceito estão a relacionalidade, o poder, a desigualdade social, o contexto social, a complexidade e a justiça social”, elucida Silva.

 

O conceito ainda possui quatro premissas orientadoras: raça, classe, gênero e sistemas semelhantes de poder são interdependentes e se constroem mutuamente;  a intersecção das relações de poder produz desigualdades sociais complexas e interdependentes de raça, classe, gênero, sexualidade, etnia, capacidade e idade; a localização social de indivíduos e grupos na intersecção das relações de poder influencia suas experiências e perspectivas no mundo social; e resolver problemas sociais em dado contexto regional, nacional ou global requer análises interseccionais.

 

Já Eliana Pintor foca sua fala no tema violência.  “É muito significativo falarmos sobre todos os tipos de violência. É preciso nomear e denunciar. Temos que partir de nomear, porque muitas das violências foram naturalizadas. A gente convive com elas de maneira muito passiva e, às vezes, nem entendemos que estamos sendo violentados”.

 

Pintor ainda afirma que a fala de Carrusca convoca as pessoas a um compromisso ético-político do ponto de vista da saúde trabalhador e da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast).

 

“Se a gente quer falar em prevenção, precisamos realmente ir para dentro dessa temática da violência. Acho que, nesse sentido, cumpriremos a integralidade do cuidado, que é o princípio do Sistema Único de Saúde (SUS). Precisamos olhar para as dimensões estruturais e interseccionais, porque elas podem ampliar o poder de agir”, conclui a interlocutora de Saúde do Trabalhador.

 

Ensaio

Por meio de uma reflexão teórica às bases científicas, o ensaio “Violência no trabalho: dimensões estruturais e interseccionais”  revela como a violência relacionada ao trabalho não pode ser adequadamente compreendida e enfrentada sem o entendimento das suas dimensões, articulações, e manifestações plurais e interseccionais, assim como do seu caráter sistêmico no capitalismo.

 

O estudo está publicado no Dossiê RBSO 50 anos e pode ser lido, na integra, através do link. Acompanhe as publicações da RBSO nos sites da Fundacentro e do SciELO. Também é possível ter acesso pelo X ou pelo aplicativo da revista, disponível para os sistemas IOS e Android.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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