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02/08/2023

Músicas, encontros e reencontros na Praça Memorial Vladimir Herzog

Canal da Praça*

 

Evento cultural na Praça Memorial Vladimir Herzog homenageou Zé Celso com músicas do teatro musical brasileiro interpretadas por Tato Fischer e convidados; jornalistas fizeram o pré-lançamento da Rede Democracia, um chamado para a comunicação popular

 

Era pouco mais de meio-dia, no último domingo, 30 de julho, quando o ator, diretor, músico e pianista Tato Fischer começou a dedilhar No Rancho Fundo ao teclado no nascente Espaço Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato, localizado atrás da Câmara Municipal de São Paulo, no centro da capital paulista. Era o "Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer", que também contou com o pré-lançamento da Rede Democracia, núcleo de comunicação popular, realizado por profissionais de imprensa e entidades representativas.

 

O jornalista e pesquisador Fred Ghedini, membro da Associação Profissão Jornalista (APJor), fez a leitura de um manifesto contrário à tese do Marco Temporal (PL 490) aprovado pela Câmara Federal e que aguarda a análise do Supremo Tribunal Federal.

 

“Aqui é a Praça da democracia, onde estão obras do artista plástico Elifas Andreato. As lutas pela liberdade de imprensa estão homenageadas e ceivadas aqui”, afirmou Ghedini.

 

O ato foi solidário ao ICL Notícias e à Agência Pública, veículos de imprensa alvos de ações judiciais abertas pelo presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) para a retirada de conteúdo desfavoráveis ao parlamentar.

 

“Ele quer calar os veículos independentes. Afinal, ele estuprou ou não a mulher? Ela diz que sim. E ele diz que não, mas não quer que ninguém saiba. E isso é importante porque se você tem alguém com essa suspeição na presidência da Câmara Federal, o que é esse país? O que é que se admite?”, acrescentou.

 

No palco, centralizado ao pé da Escadaria da Liberdade que contém 17 versos do Hino da Liberdade – “liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós -, e ao lado de sua sobrinha Ana Clara Fischer e de Henrique Vasques, Tato Fischer deu início à apresentação músico-teatral. Foram décadas do teatro brasileiro percorridos através de composições de sucesso dos espetáculos-musicais, em homenagem a José Celso Martinez Corrêa, que morreu no dia 6 de julho, aos 86 anos.

 

 

TodoMundoTemQueFalareComer 300723 Jorge AraújoAtividade cultural acontece todo último domingo do mês. Fotos: Jorge Araújo/Canal da Praça

 

 

O artista elucidou o papel da arte. “O teatro é uma coisa fundamental. Os gregos já faziam isso para as cidades, para a pólis. Eles usavam isso como um caminho para você poder crescer, discutir a política. Eu já estive presente em várias edições e o que eles [a organização do evento] fazem deveria ser feito em muitas outras praças, muitos outros lugares”.

 

O evento e o espaço são um respiro e um ponto de encontro de pessoas que presam pela solidariedade e pelos direitos humanos frente aos desafios da atualidade. De um lado, o extremismo político em todo o planeta, e do outro, a precarização do trabalho juntamente com a ascensão da inteligência artificial e a cultura do individualismo, aceleradas pelo neoliberalismo. Portanto, um espaço que resgata e conta a história recente do país e semeia esperança através da cultura e da alegria.

 

Todas as apresentações e eventos são abertos ao público, na praça que recebe moradores, donos dos cachorros na vizinhança, os guardas metropolitanos e as pessoas em situação de rua, que têm a praça como um refúgio e um ponto onde sabem que serão acolhidos e terão comida.

 

A única regra que prevalece no restaurante intermitente Ci Penso Io? Xa Comigo é “quem pode, paga. E quem não pode, pega”. A polenta com Ragú foi preparada e servida por Fernando Gamberini. Há também a caipirinha na faixa do Sérgio Gomes. A cachaça é um oferecimento de Celso Napolitano, presidente do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO) que traz um alambique artesanal de Serra Negra. É o espírito da comensalidade, da união, da vida em comunidade.

 

Durante o evento, o comerciante Edinaldo Lourival dos Santos, de 47 anos, recebeu mais dois livros para a Banca-Livraria dos Jornalistas Vladimir Herzog, que integra o espaço cultural e reúne livros sobre jornalismo. O jornalista, escritor e publicitário Liber Matteucci, que acabou de chegar de Portugal, doou dois de seus livros, “Sangue Bom” e “O Espírito da Coisa”.

 

Edinaldo é o dono da banca há 7 anos. Ele e o irmão compraram o estabelecimento para complementar a renda destinada ao tratamento do pai, que mora em Pernambuco. O irmão morreu há mais de um ano, e Ednaldo foi demitido do restaurante onde era garçom, juntamente com mais 60 funcionários, por causa da pandemia.

 

A banca se tornou a sua única fonte de renda e os eventos são uma alegria e sinônimo de mais fregueses, que aproveitam para comprar seja café, seja saladas de fruta ou bebidas.

 

O vereador Eliseu Gabriel (PSB), também esteve presente no evento. “É uma conquista fantástica desse conjunto de pessoas que pensam no bem coletivo. A Praça Vladimir Herzog é um exemplo para a cidade toda, o Brasil todo. Esse evento que acontece todo último domingo de cada mês precisa estar no calendário da cidade de São Paulo”.

 

No próximo dia 24 de outubro será inaugurado o painel “Personagens dessa história” do cartunista Aroeira. Será a primeira obra pública do artista, um mosaico azulejado de 15 metros por três, afixado no muro lateral à Praça. Os custos da peça artística serão cobertos graças a uma Emenda Parlamentar ao Orçamento da Prefeitura do Vereador Eliseu Gabriel.

 

Gabriel também é autor do Projeto de Lei nº 397/2023 que propõe incluir o Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer (antes era Todo Mundo Tem Que Falar e Comer) no Calendário da Cidade de São Paulo.

 

“Todo último domingo de cada mês [do meio dia às duas da tarde], na Pça Vladimir Herzog pessoas se reúnem para um encontro cheio de afeto e de esperança, na busca do sonho de um mundo mais solidário e melhor para todos”, justificou o parlamentar ao propor a Lei. “Esse evento já se tornou um acontecimento cultural de nossa cidade“, finaliza o texto a ser votado pela Câmara.

 

A apresentação musical terminou ao som de Roda Viva, de Chico Buarque, cantada junto à plateia.

 

“Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá” (…)

 

 

TodoMundoTemQueFalareComer 300723 Jorge Araújo 2

 

 

A iniciativa é do Instituto Elifas Andreato com o apoio do Coletivo Café Sem Pauta, de amigos e familiares do artista plástico autor de obras que compõem o memorial, e Vladimir Herzog, jornalista morto pela Ditadura e que dá nome à Praça Memorial. O Canal da Praça, Coletivo Paulo Freire, Colibri & Associados Comunicações, Instituto Premier, Instituto Vladimir Herzog, OBORÉ, Rede Democracia, SEESP e a Câmara Municipal de São Paulo também apoiam o evento.

 

A Praça Memorial Vladimir Herzog está localizada atrás da Câmara Municipal de São Paulo, na esquina com a Rua Santo Antônio com a Praça da Bandeira.

 

 

 

 

 

*Por Camilo Mota. Texto atualizado em 2/8/2023, às 13h22.

 

 

 

 

 

 

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