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14/04/2011

Engenheiros na pesquisa científica

O ciclo de geração de ciência e novas tecnologias tem se renovado a cada dez anos. As tecnologias da próxima década ainda não foram inventadas. Qual será o perfil profissional para transformar novos conhecimentos em produtos e benefícios à sociedade? Artigo de Mario Neto Borges

          Estamos vivenciando o século do conhecimento, e este tem sido o insumo decisivo da competição entre os países nos últimos anos. Não se trata do conhecimento acadêmico, burocrático, tradicional, apenas das bibliotecas, mas sim aquele que, gerado nas Universidades e centros de saber, se torna um elo da corrente do desenvolvimento integral, disponibilizado para benefício e usufruto da sociedade. O Brasil tem mostrado competência para gerar conhecimento no País. Isso é atestado pelos indicadores científicos de produção de artigos, em periódicos indexados. Hoje o Brasil é responsável por 2,7% da produção mundial.

          Agora é preciso levar este conhecimento para a iniciativa privada, avançar na inovação - a transformação desses índices de produção científica, em elementos de desenvolvimento tecnológico. Qualquer país desenvolvido, econômica e socialmente, só o é quando tem uma sólida e robusta plataforma não só científica, mas também tecnológica. A tecnologia e a inovação se dão majoritariamente nas empresas - isso é o que tem nos ensinado os países desenvolvidos e os emergentes que vêm nos superando com economias mais robustas. Portanto, é preciso alavancar a indústria nacional, motivá-la a fazer inovação, a desenvolver tecnologias próprias ao invés de comprar pacotes tecnológicos. Um elemento primordial de aceleração deste processo é a alocação de engenheiros e pesquisadores nas empresas, especialmente às médias e pequenas que, sem esse incentivo, estão fadadas a desaparecer na feroz competição internacional.

          É hoje consenso no País a necessidade, em quantidade e qualidade, do profissional da engenharia. Esse é o profissional capaz de transformar os crescentes conhecimentos científicos e tecnológicos em produtos e processos inovadores úteis para a sociedade. Essa etapa do processo de desenvolvimento não pode prescindir do engenheiro altamente qualificado para entender os princípios científicos e tecnológicos, gerados nos centros de pesquisa, e para transformá-los em resultados concretos para a melhoria da qualidade de vida da sociedade moderna.

          Que engenheiro seria esse? Quais necessidades estarão presentes nos desafios profissionais da engenharia nos próximos 50 anos? Uma característica a ser considerada é que o ciclo de geração de ciência e novas tecnologias tem se renovado a cada dez anos. Ou seja, ainda não sabemos que tecnologias estaremos usando na próxima década, pois elas ainda não foram inventadas. Quem há dez anos poderia imaginar que hoje teríamos o iphone (um telefone, computador, aparelho de som e TV portátil que carregamos no bolso da camisa) a nossa disposição? Como saber então que engenheiro devemos formar em nossos cursos de engenharia de agora? Quais serão as oportunidades profissionais para esses estudantes? Que políticas os governos devem adotar nesse sentido? Como as empresas devem selecionar esses profissionais?

          As respostas não são simples, mas podemos inferir algumas projeções com base na história e numa reflexão sustentada pela experiência acumulada. Sabemos que hoje o planeta tem cerca de 6,8 bilhões de habitantes e terá, nos próximos 50 anos, em torno de 9,4 bilhões. Por mais diferentes que sejam essas pessoas, do que foram as dos séculos 18, 19 ou 20, elas vão precisar de água e alimento (sem destruir as fontes e o meio ambiente), vão se movimentar como nunca usando meios de transporte (mesmo que seja em tele-transporte), vão usar materiais existentes ou serem descobertos/inventados para fazer coisas (casas, veículos, entre outros), vão se comunicar freneticamente (sonora e visualmente), vão usar energia em quantidades cada vez mais crescentes e vão precisar gerenciar todas essas necessidades com competência e metodologias adequadas e eficazes, mantendo o planeta preservado. Daí a importância do engenheiro e de sua capacidade de transformar os avanços da ciência em soluções e produtos de interesse da sociedade.

          Neste contexto, o Brasil se destaca como um País capaz de competir com grande privilégio no cenário internacional. Temos terra e água doce em abundância; recursos naturais no subsolo, no mar e na biodiversidade (em quantidade e em boas condições de exploração); fontes de energia renováveis e não renováveis suficientes para o País e para exportação. Para colocar tudo isso à disposição da sociedade brasileira, gerando trabalho e riqueza, precisamos do conhecimento científico e tecnológico para transformar todo esse potencial em produtos e resultados. Precisamos, portanto, de engenheiros e pesquisadores em quantidade suficiente e com formação adequada - o que é um desafio ainda a ser vencido pela academia, governo e empresas.

 

Artigo de Mario Neto Borges, engenheiro e presidente da Fapemig e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), publicado no site do Conselho (5/4) e reproduzido pelo Jornal da Ciência.

 

www.fne.org.br

 

 

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