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29/10/2020

O economista que valorizava a engenharia

 

Colaborador e animador de primeira hora do projeto “Cresce Brasil”, Carlos Lessa via na profissão a capacidade de produzir o amanhã, portanto, de construir o futuro dos brasileiros. Falecido em 5 de junho último, o professor recebe mais que justa homenagem na nova edição da iniciativa que ajudou a criar.

 

Rita Casaro - Comunicação SEESP

 

As dificuldades gigantescas e inéditas de 2020 – com o desemprego que atinge mais da metade da População Economicamente Ativa (PEA) e a queda de 9,7% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre – podem fazer parecer pequeno o desafio que se apresentava em 2006 à Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). No entanto, com crescimento médio de 2,5% fazia 25 anos, o Brasil não dava o salto de desenvolvimento que tanto se esperava, e os 500 mil profissionais representados pela entidade perdiam oportunidades e relevância social. A sensação era de muito esforço para nenhum avanço.

 

Convencido da urgência em influir no debate público sobre um projeto nacional de desenvolvimento que mudasse esse cenário, o presidente da federação, Murilo Pinheiro, idealizou a iniciativa que seria depois intitulada projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”. A ideia era construir a proposta da categoria para uma virada significativa que levasse à expansão econômica e ao avanço social e tecnológico.  

 

Ousada em si, a ideia demandava forte engajamento e mobilização dos profissionais nos quatro cantos do País, o que foi alcançado com a realização de dezenas de seminários e debates que reuniram milhares de pessoas em todas as regiões. Exigia também sólida base teórica e rumos assertivos a serem seguidos. Esse ponto essencial foi generosa e magistralmente assegurado pelo economista Carlos Lessa, à época já ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ), da qual havia sito reitor.

 

Carlos Lessa em evento do "Cresce Brasil". (Foto: Beatriz Arruda)

 

Uma visita à Lessa, em sua casa no Rio de Janeiro, no início de 2006, além de agradabilíssima conversa, rendeu a indicação do que seriam os fundamentos do “Cresce Brasil” e a lista de temas estruturantes para a retomada da economia nacional, visando melhores condições de vida aos brasileiros. Também desse contato veio a indicação do engenheiro Carlos Monte para a coordenação da produção de notas técnicas por consultores das áreas escolhidas: ciência & tecnologia, energia, saneamento e recursos hídricos, infraestrutura e transportes urbanos. O agronegócio, pela importância na balança comercial, seria acrescentado depois. A meta do projeto era crescimento de 6% ao ano, tendo como premissa revisão da política macroeconômica, com a redução dos juros – à época em níveis estratosféricos – e estímulo à produção, e investimentos públicos e privados da ordem de ao menos 25% do PIB.

 

Assim, como fez ao longo de toda sua trajetória como intelectual e ativista, Lessa colocou o seu saber e a sua enorme capacidade a serviço do País e do povo brasileiro, colaborando com o projeto da engenharia, profissão que mereceu sua admiração irrestrita. “Esse é o profissional mais desejado pela sociedade brasileira; a engenharia não é uma atividade rotineira, não reproduz o existente, produz o novo, o amanhã”, afirmou em entrevista ao jornal da FNE em março de 2006.

 

Em julho seguinte, no Rio de Janeiro, reuniu-se com a direção da FNE e o grupo de consultores já organizado e trabalhando a todo vapor pela primeira edição do “Cresce Brasil”. Foi uma oportunidade para que o professor orientasse o esforço de elaboração de propostas factíveis.

 

Em 13 de setembro, na abertura do VI Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse), o “Cresce Brasil” foi lançado no evento que contou com a presença de Lessa, que se manteve engajado ao projeto nos anos que se seguiram, colaborando e participando de vários outros debates.

 

Entre eles, VIII Conse, realizado em setembro de 2012, quando abordou, entre outras questões, o drama do transporte público ineficiente: “Hoje 80% da população brasileira é urbana, e a logística é péssima. O tempo gasto no trânsito das cidades de médio e grande porte é uma tortura diária para os trabalhadores.”

 

Ele se manteve assim, como referência permanente do “Cresce Brasil”, até seu falecimento em 5 de junho último, profundamente lamentado. “O professor Lessa se vai, mas deixa enorme legado a todos nós que tivemos a oportunidade de aprender com ele lições importantíssimas, como a necessidade urgente e primordial de combater a desigualdade atroz que penaliza a população. Honremos a sua memória e sigamos no bom combate”, declarou Murilo à época.

 

Lançada em 21 de outubro, a nova edição do projeto dos engenheiros segue esse espírito. Em meio à pandemia que assola o mundo e a uma crise econômica muitíssimo mais severa que a estagnação de 14 anos atrás que inspirou o “Cresce Brasil”, a FNE propõe ao País agir com seriedade para superar as dificuldades e voltar a buscar o caminho do desenvolvimento e do bem-estar coletivo.

 

 

 

 

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Comentários  
# Homenagem a Carlos LessaRosângela Ribeiro Gi 29-10-2020 10:43
Um texto que tem alma. Homenagem ao Carlos Lessa se faz da forma como a Rita Casa escreve nesse texto: falando de desenvolvimento , respeito, dignidade e justiça que todos trabalhadores brasileiros e brasileiras merecemos. Carlos Lessa, presente!
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