Aos 28 anos de idade, Juliana Pelizzaro da Silveira constrói uma carreira sólida numa companhia aérea brasileira
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Em 2020, segundo estatística do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o Brasil contabiliza 1.280 profissionais de engenharia aeronáutica, dos quais apenas 132 são mulheres. Uma delas é a engenheira Juliana Pelizzaro da Silveira, entrevistada aqui para celebrar o Dia do Engenheiro Aeronáutico, neste 28 de outubro.
Para ela, esse dado é desafiador e constata que a presença feminina, mesmo que aumentando nas engenharias, ainda é bem menor que a masculina. “Espero que essa estatística não seja fator decisivo na escolha da profissão e que tenhamos cada vez mais participação feminina em todos os setores da sociedade”, exorta.
Paulista de Franca, Juliana saiu da casa dos pais aos 19 anos de idade para estudar na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais. “Nos primeiros meses existe o período de adaptação, porque temos que aprender a fazer tudo sozinhos, mas depois é tranquilo”, lembra. Aos 25 anos, já formada, nova mudança: “Saí de Uberlândia e mudei para Barueri (SP), pois passei num processo seletivo que abriu bem na época em que estava me formando. Entrei, um mês depois de formada, em março de 2017, na Azul, para o cargo de engenheira de Operações Júnior.”
Ainda estudante, Juliana, em 2014, foi selecionada pelo então programa “Ciências Sem Fronteiras” para fazer o curso de engenharia aeroespacial no Instituto Tecnológico da Flórida, nos Estados Unidos. “No mesmo ano, fiz um estágio na Boeing, em Seattle. Foi o meu primeiro contato com a indústria aeronáutica”, observa. Hoje, aos 28 anos, a engenheira fala de sua rotina profissional, que vai desde o suporte para a operação das aeronaves, pilotos até o desenvolvimento de manuais para a operação de aeronaves.
A primeira escola de formação de engenheiros aeronáuticos no País foi criada em 1950, na cidade de São José dos Campos (SP), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O esforço convergia com a fundação das bases da indústria de aviação nacional, quando seria criado, também, o Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA), na mesma cidade paulista. Mas a história da aviação nacional remonta ao início do século XIX. Considerado o pai da aviação, o brasileiro Santos Dumont fez o seu famoso avião 14-Bis voar num aeroclube francês, em 1906.
Juliana, como foi falar para os seus pais “vou ser engenheira aeronáutica”? Eles tiveram alguma influência nessa escolha?
Falar para os meus pais sobre a minha escolha de profissão foi bem natural, porque desde cedo gostava muito de matemática, física. Eles já imaginavam que escolheria algum ramo da engenharia. Os meus pais não trabalham na área de engenharia ou aviação, então, não houve aquela influência de ver meus pais exercendo a profissão, mas ambos sempre me apoiaram incondicionalmente.
Ingressei na Universidade Federal de Uberlândia [UFU], em 2011, na terceira turma de engenharia aeronáutica [daquela instituição]. Em 2014, tive a oportunidade de participar do programa “Ciências Sem Fronteiras”, o que me permitiu cursar, durante um ano, Engenharia Aeroespacial na FIT – Florida Instituite of Technology [Estados Unidos]. No mesmo ano, fiz um estágio de dois meses na Boeing, em Seattle [EUA], quando tive meu primeiro contato com a indústria aeronáutica. Formei-me, em fevereiro de 2017. Iniciei minha carreira como engenheira de operações, na Azul, em março de 2017, onde estou até hoje. Em junho de 2020, concluí o curso de MBA em Gestão Estratégica de Negócios na Fiap [Faculdade de Informática e Administração Paulista].
Como foi a experiência nos Estados Unidos?
À época, tinha 23 anos. Quando me mudei para os Estados Unidos já fazia mais de dois anos que tinha saído da casa dos meus pais. Nesse sentido, então, foi tranquilo. Vivi muitas experiências novas, fiz novas amizades com pessoas de outros lugares do Brasil e de outros países e tive a oportunidade de imersão em outra cultura.
Como você vê o desenvolvimento profissional?
É muito importante ter a disposição de aprender constantemente. A faculdade nos dá uma formação teórica, em muitos casos uma visão mais abrangente sobre os assuntos, porém no mercado de trabalho o profissional terá que adquirir conhecimento específico sobre suas atividades e se aperfeiçoar profissionalmente no decorrer dos anos devido ao desenvolvimento tecnológico.
Quais os campos de atuação da engenharia aeronáutica?
Além de trabalhar na concepção e desenvolvimento do projeto de aeronaves, pela qual o engenheiro aeronáutico é mais conhecido, também podemos atuar nas áreas de operações de voo, manutenção de aeronaves dentro de uma linha aérea ou em empresas especializadas em manutenção e em safety [segurança], suporte ao operador aéreo, empresas de consultoria, carreira militar, área acadêmica (ensino e pesquisa), nas agências reguladoras, como a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil], entre outras. Peço desculpas aos colegas caso tenha deixado de mencionar o seu campo de atuação.
É uma profissão que tem um certo glamour, logo pensamos em viagens aéreas, em perigos.
A rotina do engenheiro aeronáutico pode variar bastante dependendo do ramo em que ele atua. Como disse, são muitas as áreas de atividade, então, o engenheiro aeronáutico pode ter contato diário e direto com aeronaves em hangar e fazer acompanhamento de voos, mas pode também ter sua rotina baseada na maior parte do tempo em escritório.
Na Azul, exerço o cargo de engenheira de Operações dando suporte principalmente à operação das aeronaves, pilotos e despachantes de voo [responsável pelo planejamento e o controle operacional dos voos]. No nosso time, o trabalho operacional envolve pesquisa, configuração de softwares e sistemas de despacho de voo, cadastro de aeronaves novas, desenvolvimento de manuais para a operação, análise da operação, suporte às rotas de voo, entre outros. Todos esses são trabalhos feitos em escritório, parte deles em sistema online, portanto, no dia a dia não temos a necessidade de ir ao hangar. Em alguns casos pontuais, existe a possibilidade de visitarmos aeronaves e aeroportos para auxiliar no desenvolvimento de algumas atividades.
Como as novas tecnologias vêm ajudando a profissão?
De um modo geral, no ramo da engenharia, entendo que as novas tecnologias como inteligência artificial, big data e IoT [internet das coisas] são muito importantes e estão sendo implementadas principalmente para auxiliar o profissional em atividades que podem ser otimizadas com o uso dessas tecnologias. Acredito que a indústria da aeronáutica e aeroespacial é uma das mais tecnológicas do mundo, esse ramo industrial desenvolve tecnologias avançadas em termos de materiais, softwares, comunicação e processos de fabricação.
Você se formou em 2017, como tem sido o seu aperfeiçoamento na área desde então?
Quando me formei, em 2017, tinha conhecimento teórico em engenharia aeronáutica, porém não tinha experiência com operação de voo. Desde que entrei na Azul adquiri muito conhecimento prático, nos primeiros meses adquiri conhecimento principalmente com meus colegas de profissão mais experientes, entendendo como funciona a operação na aviação comercial e conhecendo também o ponto de vista do piloto de linha aérea e do despachante de voo. Com o passar do tempo, o aperfeiçoamento profissional passou a vir também das minhas próprias experiências, das especializações, no desenvolvimento de atividades e na oportunidade de otimização de processos. O aperfeiçoamento é um processo que demanda tempo e dedicação ao aprendizado.
Juliana, o que você gosta de fazer além da engenharia aeronáutica?
A prática regular de atividades físicas é um ponto muito importante na minha vida. Hoje em dia pratico, regularmente, corrida de rua como hobby, porém já pratiquei artes marciais, natação, yoga, entre outras atividades físicas.