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10/12/2019

Homenagem às personalidades da tecnologia 2019

 

Soraya Misleh / Fotos: Beatriz Arruda - Comunicação SEESP

 

Nesta segunda-feira (9/12), diante de público que lotou o auditório do SEESP, na Capital, seis destaques do ano em suas áreas de atuação foram agraciados pelo sindicato com o prêmio Personalidade da Tecnologia. Em sua 33ª edição, este é entregue tradicionalmente por ocasião do Dia do Engenheiro (11/12). Em 2019 foram homenageados Ernane Silveira Rosas (Agricultura e segurança alimentar), Ricardo Magnus Osório Galvão (Amazônia e meio ambiente), Regina Coeli Ruschel (Educação), Jean Carlos Pejo (Intermodalidade e ferrovia), Diego Mendes (Planejamento e engenharia de manutenção) e Paulo Roberto de Queiroz Guimarães (Valorização profissional).

 

Coordenador do Conselho Tecnológico (CT) do SEESP, José Roberto Cardoso abriu a solenidade informando sobre o processo de seleção dos agraciados a cada ano. Segundo ele, os cerca de 250 membros do CT são chamados a indicarem as personalidades a serem premiadas. Os nomes então são submetidos ao Comitê Gestor do Conselho. “Passamos um semestre discutindo isso, escolhendo as áreas que devem ser homenageadas.”

 

Nesta edição, pesou na escolha o fato de a engenharia estar enfrentando grande transformação, como explicou Cardoso, sobretudo na área da educação. “No passado, a formação focava simplesmente o conteúdo tecnológico, não é mais assim. O mercado de trabalho e a própria engenharia exigem novas competências. Dentre elas, uma fundamental é saber se comunicar, trabalhar em equipe, cujo papel desse profissional é liderar.” Nessa dinâmica, ele lembrou que hoje somente a graduação não é mais suficiente para se encarar os desafios atuais. “Educação continuada é fundamental.”

 

Antonio Octaviano (à esq.) e Fernando Palmezan, diretores do SEESP, entregam

prêmio a Regina Ruschel.

 

Regina Coeli Ruschel ratificou essa importância, bem como de projetos colaborativos e transformadores. “Fui pioneira em introduzir isso no ensino. A engenharia civil da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] foi a primeira a incluir desenho no computador. E nos últimos dez anos, transformação foi a Modelagem da Informação da Construção [BIM], com modelos 3D. Agora tem-se a engenharia voltada à indústria 4.0. O curso vai se transformar ainda mais, portanto, não tem como terminar a graduação como única formação. É necessário ensinar a aprender”, salientou a homenageada em Educação.

 

Ela citou a alegria de coordenar, junto ao SEESP, especialização de BIM há dois anos: “A primeira turma de dez alunos se formou agora. Isso os impactou, a suas posições em seus locais de trabalho e na sociedade.” Dedicando o prêmio a seus pais – engenheiros agrônomos, em especial a sua mãe, por jamais desencorajá-la enquanto mulher –, Ruschel concluiu: “Temos que formar engenheiros para um tempo novo.”

 

 

Defesa da soberania

 

Agraciado com o prêmio Personalidade da Tecnologia em Agricultura e segurança alimentar, o nutricionista Ernane Rosas evidenciou ponto nevrálgico nessa modernização: a multidisciplinaridade. Em especial à saúde da população e segurança alimentar, ligada à soberania nacional, enfatizou: “Unir a ciência da nutrição com a agronomia é o casamento perfeito. A produção de agricultura orgânica traz feitos maravilhosos.”

 

Ernane Rosas (ao centro) recebe prêmio das mãos dos diretores do SEESP

Edilson Reis e Allen Habert (à dir.).

 

Conforme sua fala, na contramão disso, dada a falta de políticas públicas e congelamento de gastos, o Brasil atravessa um momento de insegurança alimentar desde 2016. “Voltamos ao mapa da fome, do qual havíamos saído em 2014.” Segundo dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] trazidos por Rosas, a pobreza aumentou de 25,7% da população em 2016 para 26,5% em 2017, e a extrema, de 6,6% para 7,14%. “Sem políticas públicas para ativar a economia estagnada, a tendência é de piora. É preciso investir em segurança alimentar e educação, já que o Brasil desperdiça 1/3 do que produz.” Sob essa ótica, ele convidou os engenheiros agrônomos a se juntarem aos nutricionistas na produção maior e melhor de alimentos mais saudáveis.

Protagonista em meados de 2019 de polêmica com o atual Presidente da República, o que culminou em sua exoneração do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o engenheiro Ricardo Galvão, por sua vez, contou brevemente essa história ao ser homenageado na categoria Amazônia e Meio Ambiente, que considerou um “infame ataque à instituição científica com enorme prestígio internacional”. Na sua concepção, “não existe autoridade acima do saber e da ciência”. Segundo o premiado, a resposta veio de pesquisadores como da Nasa, que apresentaram taxas de desmatamento da Amazônia ainda superiores às apresentadas ao Deter [sistema de alerta do Inpe, cujo aumento apontado contrariou Bolsonaro, motivando a controvérsia com Galvão]. “Consequência positiva foi a reação da sociedade brasileira e da comunidade internacional.” O Deter, como contou, emitia alertas diários, propiciando “ações contundentes de fiscalização e punição”. O resultado foi a redução de mais de 80% do desmatamento de 2004 a 2012.

 

Os presidentes das Delegacias Sindicais do SEESP Alvaro Dias (Baixada Santista)

e Luiz Roberto Pagani (Bauru) agraciam Ricardo Galvão (ao centro).

 

Para ele, sem a implementação eficaz de planos ao longo dos anos e continuidade das ações de prevenção, a Amazônia ainda reclama um projeto de desenvolvimento sustentável. Galvão citou, na conjunção de esforços nesse sentido, como exemplo, contribuições constantes do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), à qual o SEESP é filiado. E criticou o fato de o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, utilizar tal retórica, mas contraditoriamente arrefecer as ações de fiscalização, facilitando, portanto, a ocupação e a exploração predatórias. “Não haverá desenvolvimento econômico tecnológico soberano e socialmente justo sem a participação da comunidade científica”, finalizou.

 

 

Choque de engenharia

 

Outro tema objeto do “Cresce Brasil”, a mobilidade urbana foi pautada por Jean Carlos Pejo. Agraciado em Intermodalidade e ferrovia, ele destacou: “Quando discutimos logística e integração de ferrovias, rodovias, hidrovias para melhorar a qualidade de vida das pessoas, o foco é o engenheiro. É ele que tem que trazer soluções de modo a assegurar competitividade da produção agrícola para exportação e para alimentar a mesa do brasileiro que tanto precisa, gerar riqueza e emprego, diminuindo as desigualdades regionais.”

 

Jean Carlos Pejo (ao centro) recebe o prêmio dos vices-presidentes do SEESP

Newton Guenaga e Marcos Wanderley Ferreira.

 

A despeito da “ausência de políticas de Estado no País”, Pejo frisou: “Seguimos vivos, fortes e com competência. Temos empresas ferroviárias de excelência, capacidade instalada. Nosso metrô não perde para nenhum do mundo.” Problema, como apontou, é que muitas vezes prevalecem preço e interesses políticos, não os da sociedade. “É preciso não um choque de gestão, mas de engenharia, ponto central dentro da mobilidade urbana”, concluiu.

 

Planejamento e engenharia de manutenção não ficaram de fora neste ano. Homenageado nessa categoria, Diego Mendes dividiu o mérito “com todos os que acreditam na inovação tecnológica como ferramenta fundamental para potencializar nossa estimada profissão”.

 

Marcellie Dessimoni, coordenadora do Núcleo Jovem Engenheiro, o premiado

Diego Mendes e o vice-presidente do sindicato João Carlos Gonçalves Bibbo.

 

Trazendo o respeito pelas tradições e a valorização do conhecimento transmitido por seus “mentores”, o jovem engenheiro CEO da ConstruCode elogiou o que chamou de “sinergia de gerações, que mostram a inclinação da engenharia nacional em aplicar inovação como vetor de transformação da nossa indústria”. Para ele, sem isso, não seria possível ao SEESP ter tal representatividade ao longo de seus 85 anos de história. Sinergia fundamental quando o tema é engenharia de manutenção, “tão negligenciada em nosso país e que vem sofrendo com catástrofes como queda de prédios em Fortaleza e São Paulo, além dos lamentáveis episódios com barragens como em Mariana, em que levamos tecnologia para auxiliar na reconstrução da cidade”.

 

Receber esse prêmio, observou Mendes, significa que “estamos no caminho certo, mas ainda há muito a fazer. Aplicar tecnologia, desburocratizar processos onerosos, garantir assertividade nas operações de engenharia de manutenção e que sejam respeitadas é responsabilidade, não opção”. Tema da última edição do “Cresce Brasil”, ao encontro, portanto, dessa visão.

 

Carlos Garcez, vice-presidente do SEESP, o agraciado Paulo Guimarães

e Murilo Pinheiro.

 

Valorização profissional é fundamental nesse sentido, categoria em que o agraciado foi Paulo Guimarães, o qual reiterou sua adesão ao projeto “Cresce Brasil” desde seu início em 2006. “O que me trouxe aqui esta noite é o sonho do engenheiro transformar e desenvolver o país, o que só é possível com a união de esforços e profissionais. Está na engenharia unida a verdadeira capacidade de transformação”, ressaltou. E destacou trajetória sempre pautada na valorização profissional, com estímulo à inovação, novas habilidades e competências, bases ao desenvolvimento. “A engenharia nacional precisa de incentivo, ação, política pública e programa de Estado. Só assim teremos um Brasil diferente.”

 

Ainda nessa direção, Guimarães levantou a preocupação com a formação dos jovens engenheiros. “Estudantes têm dificuldades em concluir o curso, precisamos melhorar o programa de financiamento de bolsas e esperamos ter isso para todo o Brasil. Devemos fortalecer as entidades e as novas gerações.”

 

Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, encerrou a atividade agradecendo os homenageados “pelo trabalho que fizeram para os cidadãos brasileiros e a área tecnológica”. E conclamou: “Precisamos buscar o protagonismo da engenharia, que muitas vezes não é ouvida, ao desenvolvimento e crescimento do País. Precisamos fazer valer nossa discussão nacional. Com engenharia unida, podemos fazer a diferença.”

 

Murilo Pinheiro (no púlpito), Fátima Có, Toninho Vespoli, João Caramez,

Eduardo Azuma, José Roberto Cardoso, Paulo Galli e Florentino.

 

Compuseram a mesa ainda Antonio Florentino de Souza Filho, vice-presidente da FNE, e Fátima Có, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-DF), representando respectivamente o conjunto da federação e dos conselhos; o vereador paulistano Toninho Vespoli (PSOL); o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Eduardo Azuma Nishi; o secretário executivo da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Paulo Galli; e o ex-deputado estadual João Caramez (PSB). Em comum nas suas falas, o reconhecimento da importância da profissão e a saudação aos homenageados por sua contribuição à sociedade brasileira.

 

 

Quem são os premiados

 

Agricultura e segurança alimentar

Ernane Silveira Rosas

Nutricionista graduado pela Escola Central de Nutrição da Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (Fefierj, atual Unirio) em 1976, é presidente do Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo (Sindinutri-SP) e diretor-tesoureiro da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU). Ex-presidente da Federação Interestadual dos Nutricionistas dos Estados de Alagoas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco e São Paulo (Febran), foi professor de Nutrição da Faculdade de Medicina de Bragança Paulista e da Faculdade de Nutrição da Universidade de Mogi das Cruzes. Exerceu a profissão nos hospitais das Clínicas em São Paulo e Geral de Bonsucesso no Rio de Janeiro, bem como em grandes empresas como Nitro Química brasileira – Grupo Votorantim e Aços Villares – Grupo Villares. Fez assessoria em restaurantes comerciais, entre eles Rubayiat, Arábia e The Place.

 

Amazônia e meio ambiente

Ricardo Magnus Osório Galvão

Engenheiro de telecomunicações graduado pela Universidade Federal Fluminense em 1969, mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas e doutor em Física de Plasmas Aplicada pelo Instituto de Tecnologia de  Massachusetts, foi pesquisador visitante em instituições no exterior, como FOM – Instituut voor Plasmafysica Rijnhuizen (Holanda). Livre-docente em Física Experimental pela Universidade de São Paulo (USP), é professor titular nessa instituição. Sua principal linha de pesquisa está relacionada ao desenvolvimento de reatores baseados no processo de fusão nuclear. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Física e conselheiro da Sociedade Europeia. É membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências. Foi diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Recebeu prêmios, além de título e comenda.

 

Educação

Regina Coeli Ruschel

Engenheira civil, é livre-docente em Projeto Auxiliado por Computador, doutora em Engenharia Elétrica na área de Automação e mestre em Mecânica dos Solos. Foi professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em regime de dedicação integral e exclusiva por 32 anos.  Hoje atua na instituição como pesquisadora e professora colaboradora nos programas de pós-graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade & Engenharia Civil.

Foi diretora e presidente da Associação Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído. É editora-chefe da Revista Parc – Pesquisa em Arquitetura e Construção. Desenvolve pesquisa no tema de Building Information Modeling, investigando o impacto do BIM nos processos do ciclo de vida da edificação e no ensino. Tem inúmeros artigos científicos publicados e orientou diversas defesas de mestrado e doutorado. Formulou e coordenou a especialização Master BIM Especialista junto ao Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).

 

Intermodalidade e ferrovia

Jean Carlos Pejo

Engenheiro mecânico formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), MBA em Logística Empresarial e Gerência de Projetos pela Fundação Getulio Vargas, é especialista em ferrovias, com cursos no exterior. Assessor especial do Ministro do Desenvolvimento Regional na área de Mobilidade Urbana/Serviços Urbanos e Saneamento, é secretário-geral da Associação Latino-Americana de Ferrovias (Alaf/Brasil) e membro do Instituto de Engenharia de São Paulo. Foi secretário nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos, diretor de Planejamento e Gestão da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) e membro do Conselho de Administração da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). Também atuou como consultor técnico de empresas internacionais. Coordenou o programa de Recuperação e Modernização da Fepasa com o Banco Mundial, sendo responsável técnico por projetos da ponte Rodoferroviária Rubineia (SP) /Aparecida do Taboado (MS) e da duplicação e terceiro trilho do trecho Mairinque-Santos.

 

Planejamento e engenharia de manutenção

Diego Mendes

Engenheiro civil graduado pelo Centro Universitário Jorge Amado e em Análise de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), possui MBA em Gestão Empresarial e especialização em Building Information Modeling (BIM). É cofundador e CEO da ConstruCode e scale-up do grupo Vedacit, tendo iniciado sua trajetória na área de tecnologia da informação. Em 2011 voltou sua atuação para a engenharia, no segmento de projetos. Atuou por três anos como gerente de Projetos BIM e em 2016 direcionou seu trabalho em aplicar tecnologia no mercado de construção brasileiro, desenvolvendo pesquisas no campo de otimização de processos construtivos através da mineração e gestão de dados em canteiros de obras. Em 2017, destacando-se no cenário nacional com o projeto que hoje dá nome a sua empresa, decidiu empreender focado em inovação na construção civil.

 

Valorização profissional

Paulo Roberto de Queiroz Guimarães

Engenheiro civil, é presidente da Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea desde 2015, reeleito para seu segundo mandato em 2018. É professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), onde ministrou aulas por 27 anos. Integra o Conselho Superior da Indústria da Construção (Consic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Conselho Deliberativo da BB Previdência. Foi conselheiro do Crea-SP e federal do Confea por dois mandatos, de 1997 a 2002, sendo o primeiro coordenador nacional da Comissão de Educação do Sistema, hoje Comissão de Educação e Atribuição Profissional (Ceap). Atuou como diretor de Benefícios da Mútua por dois mandatos, de 2003 a 2009. Iniciou os estudos para desenvolvimento do plano de previdência complementar da instituição, o TecnoPrev, lançado em 2004. Na Presidência da Caixa de Assistência, comemorou, em 2017, seus 40 anos (Jubileu de Rubi), estando à frente de importantes conquistas e avanços.

 

 

 

 

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