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Inteligência artificial, trabalho e o destino da humanidade

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Nestor Tupinambá

 

O historiador israelense Yuval Harari relatou interessante experiência, no Vale do Silício, no Estados Unidos, onde já estão promovendo a inteligência artificial (IA) regenerativa. Ela aprende, também, com sua própria atividade. Propuseram a ela a resolução de um " captcha", no modelo em que se precisa apontar, por exemplo, quantas bicicletas há na imagem, para provar que é humano. A IA contratou alguém para ajudá-la virtualmente. A pessoa, rindo, pergunta "você é um robô?". Ela responde "não, eu tenho deficiência visual". Pronto, resolvido!

 

Será esse golpe praticado pela IA um sinal da possibilidade de total substituição dos seres humanos?

 

Anos atrás, a Philips inaugurou, em Amsterdam, uma nova fábrica de barbeadores. Um galpão escuro, sem calefação ou refrigeração, onde 120 robôs produzem o equipamento 24 horas por dia. Não precisam de descanso, banheiros, comida etc.. O resultado: barbeadores completamente iguais e baratos. Porém, quem nos pagará para podermos comprar barbeadores?

 

No Brasil, já se fabricam drones que pulverizam lavouras até em voos noturnos para irrigação e semeadura. Drones servem também à engenharia na elaboração de cadastros de imóveis; levantamentos planialtimétricos; contagem de rebanhos; inspeções em rodovias e linhas de transmissão elétrica. E hoje já entregam encomendas, inclusive comida.

 

Nos escritórios de engenharia, rapidamente programas como CAD são substituídos por ferramentas de IA. Diagnósticos médicos pela IA tiveram cerca de 80% de acertos contra cerca de 60% daqueles feitos por com médicos experientes.

 

Nas diversas profissões já se verificam demissões nos quadros categoria "Jr.". Exemplo: no jornalismo, os " focas" que descreviam o contexto de uma notícia, levando horas, foram substituídos por IA, que fazem o trabalho em minutos. Situação semelhante se dá em meio ambiente, direito, economia, política, artes etc.. O trabalho inicial fica por conta de uma ferramenta de inteligência artificial, que fornece os elementos para um profissional sênior dar seguimento à tarefa. Os novatos? Descartados.

 

Caso emblemático e conhecido são os bancos e instituições financeiras, que caminham para adotar a completa automação e dar fim às agências.

 

No sistema capitalista, só sobrevivem empresas competitivas. Não há lugar para sentimentos altruístas. Esses levam à falência!

 

Esse cenário, de franca substituição da mão de obra humana por recursos tecnológicos, é agravado pela lógica em voga do chamado empreendedorismo, que facilita, inclusive pela legislação, medidas que prejudicam o trabalhador. No Brasil, desde 2017, com a reforma trabalhista, estabeleceu-se a "uberização" dos empregos, com o desprezo à carteira de trabalho, e a asfixia aos sindicatos.

 

No cenário internacional, o professor da Universidade de Paris, Thomas Picketty, ficou famoso ao publicar estudo sobre a tendência do mundo do trabalho em cerca 150 países ao longo de 100 anos. Ele concluiu que, a partir da queda do Muro de Berlim e da debacle soviética, o Estado de bem-estar social começou a involuir. Em 2013, quando publicou seu best seller "O Capital no Século XXI", o autor apontava que os indicadores relativos a salários e direitos haviam retrocedido fortemente e eram compatíveis com o que existia nos anos 1960.

 

Completando o cenário social aparece uma ameaça ao indivíduo. Segundo o cientista Miguel Nicolelis, estamos terceirizando para a IA nossa inteligência. A Universidade de Stavanger, da Noruega, mostra que jovens não conseguem escrever nem bilhetes. Em decorrência desse quadro, a Suécia já proíbe celulares até os 12 anos e redes sociais até os 15.

 

Obviamente, é inegável que os avanços tecnológicos trazem melhoria à vida e são cruciais para aumentar a produtividade, mas há uma necessidade imperiosa de assegurar a proteção do trabalhador nesse contexto. Entre as estratégias, estão a renda mínima, a redução da jornada e o suporte ao trabalhador substituído pela automação.

Medidas efetivas nesse sentido são essenciais para garantir o bem-estar e a dignidade humana, assim como a paz social. Caso contrário, poderemos regredir às guerras tribais e à barbárie.

 

Muitos filósofos, como Spinoza, Marx e outros, afirmavam que o futuro da humanidade é a dedicação às artes. Poucas horas de trabalho e muito tempo dedicado ao ócio, como pregava o italiano Domenico de Masi, com liberdade e criatividade. Essa pode ser a senha para que a humanidade de esse feliz "cavalo de pau" e estabeleça para si um destino melhor.

 

NestorArtigo

 

 

Nestor Tupinambá é engenheiro civil, mestre em Planejamento Urbano e diretor do SEESP.

 

 

 

 

 

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