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Indústria de semicondutores e soberania do hardware

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Marcelo Knörich Zuffo

 

572 OpiniaoA frase “People who are really serious about software should make their own hardware” (“Pessoas que levam a sério o software deveriam criar seu próprio hardware, em português), do professor Alan Kay, inventor do laptop, expressa uma ideia fundamental que ressalta a interdependência entre os dois itens na infoera. Essa relação é particularmente evidente quando se considera a importância da indústria de semicondutores para a soberania do hardware. Neste artigo, discutiremos por que essa indústria é um pilar crucial na capacidade de um país ou entidade de controlar e desenvolver sua própria infraestrutura de hardware, bem como as implicações disso para a segurança cibernética, inovação e independência tecnológica.

 

A base tecnológica

 

Para entender a importância dessa indústria, é necessário considerar que os semicondutores são o coração de todos os dispositivos eletrônicos modernos. São esses pequenos chips que executam cálculos complexos, armazenam dados e possibilitam a operação de computadores, smartphones, veículos autônomos, equipamentos médicos e muito mais. Portanto, a capacidade de projetar, fabricar e controlar esses componentes críticos é fundamental para qualquer nação que queira manter sua independência tecnológica.

 

Soberania do hardware e segurança cibernética

 

A soberania do hardware é uma questão de segurança cibernética. Quando um país ou entidade depende exclusivamente da importação de semicondutores e componentes eletrônicos, está à mercê de possíveis interrupções no abastecimento, bem como de ameaças à segurança, como backdoors ou dispositivos maliciosos embutidos. Ter a capacidade de produzir seus próprios semicondutores permite um maior controle sobre a segurança e a integridade de seu hardware.

 

Além disso, a fabricação de semicondutores em solo nacional oferece a oportunidade de realizar auditorias minuciosas de segurança em todo o processo de produção. Isso ajuda a garantir que nenhum componente indesejado seja inserido nos dispositivos, protegendo contra espionagem industrial e ameaças cibernéticas.

 

Independência tecnológica

 

A indústria de semicondutores é um motor de inovação e um catalisador para o desenvolvimento de outras tecnologias. Quando uma nação é capaz de projetar e fabricar seus próprios semicondutores, ela está melhor posicionada para liderar em áreas como inteligência artificial, computação quântica, internet das coisas e muito mais. Essa independência tecnológica não apenas impulsiona o desenvolvimento econômico, mas também promove a capacidade de inovar e competir no cenário global.

 

A dependência de fornecedores estrangeiros pode levar a atrasos na adoção de tecnologias de ponta e limitar a capacidade de um país de participar ativamente da criação de normas e regulamentações globais relacionadas à tecnologia.

 

Desafios e investimentos necessários

 

Embora a importância da indústria de semicondutores seja incontestável, o estabelecimento e a manutenção dessa capacidade não são tarefas simples. Sua fabricação requer investimentos maciços em pesquisa, desenvolvimento e infraestrutura. Requer talento altamente especializado e um ambiente regulatório favorável. Portanto, os países que desejam alcançar a soberania do hardware devem estar dispostos a fazer esses investimentos a longo prazo.

 

A cooperação entre governos, empresas privadas e instituições acadêmicas é essencial para o desenvolvimento bem-sucedido da indústria de semicondutores. Os incentivos fiscais, subsídios e parcerias de pesquisa podem desempenhar um papel importante na promoção do crescimento dessa indústria estratégica.

 

Exemplos de sucesso

 

Países como Estados Unidos, Taiwan, Coreia do Sul e China investiram pesadamente na indústria de semicondutores, obtendo sucesso considerável. Taiwan, por exemplo, é lar da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), uma das maiores fabricantes do mundo. TSMC desempenha um papel fundamental na produção de chips para várias empresas líderes em tecnologia, e Taiwan se tornou uma referência em inovação e produção de semicondutores.

 

Os Estados Unidos também têm empresas líderes no setor, como a Intel e a Nvidia, que desempenham um papel crítico na economia e segurança nacionais. A administração dos EUA reconheceu a importância estratégica dessa indústria e está tomando medidas para fortalecer sua posição na produção de semicondutores.

 

Conclusão

 

Em um mundo cada vez mais dependente da tecnologia, a frase “People who are really serious about software should make their own hardware” ganha novo significado. A indústria de semicondutores é a espinha dorsal da soberania do hardware, da segurança cibernética e da independência tecnológica. Países e entidades que desejam manter o controle sobre sua infraestrutura de hardware devem investir na capacidade de projetar e fabricar seus próprios semicondutores. Essa é uma questão crucial para o presente e o futuro da tecnologia e da segurança econômica do Brasil.

 

Em debate

 

Todas essas questões estarão em pauta no seminário de alto nível que a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) promove no dia 28 de novembro, a partir das 13h, no auditório do SEESP, em São Paulo. Estarão presentes representantes da academia, mas também do setor empresarial, do Executivo e do Legislativo, para discutir como alcançar essa fundamental independência em semicondutores no Brasil. 

 

ZuffoArtigo

 

 

Marcelo Zuffo é professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) e diretor do InovaUSP

 

 

 

 

 

Imagem: Freepik / Arte - Eliel Almeida | Foto Marcelo Zuffo: Beatriz Arruda/Acervo SEESP

 

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