Deborah Moreira
Comunicação SEESP
O SEESP parabeniza todos os profissionais neste 27 de Novembro, Dia do Engenheiro de Segurança do Trabalho. Dando continuidade a série de entrevistas com profissionais da engenharia em datas comemorativas, o sindicato publica um bate-papo com o engenheiro da área Eduardo Magelo Madeira, 33 anos, que desde sua formação como engenheiro eletricista, em 2008, se tornou empresário para prestar consultoria, na região de Campinas, interior paulista. Logo depois de se formar, ele conta que sentiu a necessidade da formação específica em Engenharia de Segurança do Trabalho, que é feita a partir de uma pós-graduação lato sensu com carga horária de 640 horas.
Atualmente, algumas instituições de ensino superior pressionam o governo pela reduzir da carga horária e oferecem a formação a distância, o que tem sido, na prática, um impeditivo para a certificação da atribuição profissional no sistema Confea-CREA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia e Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia), órgão definido por lei responsável por emitir autorização para exercer a profissão. O SEESP e a Associação Paulista dos Engenheiros de Segurança do Trabalho (Apaest) defendem a manutenção da formação atual e, para reforçar, propõem um novo currículo pedagógico com base em competências profissionais para atualizar as disciplinas, tendo em vista as inovações tecnológicas ocorridas recentemente.
“Fiz o curso de extensão, que é uma pós na mesma instituição que da graduação, a Unicamp e , mesmo assim, senti que poderia ter sido mais aprofundado. Não dá para brincar com segurança. Tem que ter o máximo possível de formação. Quanto mais, melhor”, destacou Magela.
Nesta terça, às 19h, ocorre no Auditório José Bonifácio, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na região do Ibirapuera, um ato público em defesa da Engenharia de Segurança do Trabalho. Na atividade, será apresentada a nova proposta pedagógica produzida pelo SEESP, juntamente com a Apaest. Os atos públicos estão ocorrendo em todo o País e têm o apoio da Associação Nacional dos Engenheiros de Segurança do Trabalho (Anest).
Desde a década de 1970, a formação de profissionais em Engenharia de Segurança do Trabalho considerou uma especialização para graduados, sendo formalizada pela Lei nº 7.410, de 27 de novembro de 1985, regulamentada pelo Decreto nº 92.530, de 9 de abril de 1986, que deu poderes legais para determinar a atribuição profissional ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia e seus conselhos regionais de engenharia e agronomia, o sistema Confea/Crea, que editou as resoluções nº 359 de 31/07/1991 e nº 437 de 27/11/1999, estabelecendo-se como órgão único para validar o exercício legal da Engenharia de Segurança do Trabalho.
Estão definidas, ainda, exigências, como a realização de uma monografia, e conteúdo da especialização, as disciplinas, no Parecer 19, instituído pelo Conselho Federal de Educação, do Ministério da Educação.
O profissional com essa formação atua em inúmeras áreas com o objetivo de garantir segurança nos procedimentos, atividades que envolvam ações ou contato com produtos que podem colocar a integridade física do profissional em risco. As práticas de segurança adotadas em uma empresa são fundamentais para garantir a integridade dos trabalhadores e respectivos locais de trabalho.
Confira a íntegra da entrevista:
Quando você decidiu pela engenharia?
Sou de Nova Rezende, Minas Gerais, divisa com São Paulo, perto de Guaxupé. E desde criança desmontava os brinquedos que meu pai me dava. Um dia ele chegou em casa e um aviozãozinho eletrônico novinho que acabei desmontando. Eu queria entender o que fazia o brinquedo funcionar. Então, tudo me levou a engenharia.
E como foi sua formação técnica?
Eu estava terminando a oitava série na escola pública. E, em Mococa, tinha uma escola técnica de referência. Fiz o Vestibulinho e passei em terceiro lugar. Sempre estudei muito porque gosto de estudar. E acabei fazendo três formações técnicas: eletrônica, informática industrial e telecomunicações. Foi um período em que estudava nos períodos da manhã, tarde e à noite.
E a faculdade?
Quando terminei o ensino médio eu estava muito fraco nas outras matérias como português, história, geografia. Não passei em nenhuma faculdade pública e então fui para Ribeirão Preto para fazer cursinho. No final de 2003 prestei novamente e passei em todas as públicas: Unesp, USP São Carlos e Unicamp, a qual acabei optando pelo curso de Engenharia Elétrica. Me formei no final de 2008. Não foi fácil mas estudei bastante, como sempre fiz, e passei. Foram cinco anos de formação em graduação.
Chegou a fazer estágio?
Entrei na empresa júnior da Unicamp como gerente de projetos e depois virei consultor técnico. Quando você é funcionário da empresa júnior não recebe salário. Os estudantes que as empresas contratavam por meio da empresa júnior ganhavam. Quando sai da empresa junior, logo próximo da concusão do curso fui ser desenvolvedor. Comecei a ter retorno financeiro e abri a a empresa sozinho logo no primeiro ano que estava formado, em 2009. Atuava na área de elétrica fazendo projetos para a Unicamp como na área de elevadores e para o Hospítal das Clínicas, onde desnvolvi o sistema de teleconferência usado pelos médicos para se comunicarem durante cirurgias. Na ocasião nós desenvolvemos um projeto na faculdade para os professores e um para o hospital das clinicas para cirurgias e procedimentos para conversar e acompanhamento da cirurgia. Hoje em dia o sistema já está mais moderno, onde o médico opera remotamente Mas essa parte não fui eu quem fez.
E a formação de engenheiro de Segurança do Trabalho?
Eu fiz entre 2009 e 2010, logo depois da graduação, quando senti que precisaria me especializar para entender melhor tanto os aspectos técnicos quanto os jurídicos. E lembro que já estava indo bem com a empresa porque tinha o valor para pagar o curso, que é um curso de extensão, e não tem gratuito, tem na rede pública, como na Unicamp, mas é pago. Quando soube que tinha na Unicamp, me interessei. E foi onde acabei fazendo. Achei o curso bom, mas poderia ser melhor, mais extenso. Comecei a trabalhar como Engenheiro de Segurança do Trabalho imediatamente porque fiz uma boa rede de relacionamento com pessoas do curso, onde tive contato com engenheiros ambiental, civil, mecânico, entre outros. Até hoje a gente mantém essa rede para trocar trabalhos.
E de que forma você atua?
Recentemente, estou me interessando pela área de pericia criminal, para me cadastrar nas varas e fóruns para me tornar perito da Justiça, uma área bastante promissora da engenharia de segurança do trabalho. Também dou curso de NR 10, da área de elétrica, e presto consultoria, além das especificações e ajustes nas empresas e órgãos públicos para os bombeiros. Todos os órgãos tem que estar em dia com essas normas de segurança.
O que faz um engenheiro de segurança do trabalho?
Atualmente, são 36 normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho, NR 1 até NR 36 que tratam sobre aspectos de segurança e medicina do trabalho. Nós elaboramos o Programa de Prevenção de Risco de Acidente (PPRA) para o médico do trabalho para ele elaborar um programa de controle médico de saúde ocupacional, dentro das empresas. Também tem a parte dos equipamentos de proteção individual e de proteção coletiva. Atuamos, ainda, para prevenir riscos ambientais, em máquinas e equipamentos como tornos, tratores; caldeiras e vasos de pressão. Trabalhos em altura, em insalubridade, é uma área muito grande para atuar. O engenheiro de segurança do trabalho tem que ter o conhecimento do que tem que ser feito e o engenheiro eletricista é que vai executar o serviço.
Cite algum exemplo.
Ele vai garantir a segurança e a manutenção do serviço que será executado por outros profissionais. Os armários de elétrica tem que ser trancados, por exemplo. Antigamente não se tinha um sistema de controle do painel elétrico. Se um disjuntor caia por qualquer motivo, um outro técnico ia lá e ligava os disjuntores enquanto o outro estava na máquina mexendo e isso levou a morte alguns profissionais, ou dava choque. Hoje em dia, temos um sistema que se chama lockout-tagout em que se passa um cadeado no armário de aço, onde fica o quadro de energia, com o crachá do profissional que está atuando naquela rede, para sinalizar que tem alguém no local.
Quais as suas perspectivas da área atualmente?
Toda empresa deve se preocupar e investir ao máximo em prevenção. No entanto, a realidade é outra e se investe muito pouco. Nessa área de segurança do trabalho, as empresas acabam levando em conta os cálculos de quanto está gastando nos processos trabalhistas com indenização e o quanto ela deve investir em segurança.
Então é preciso ter mais fiscalização?
Sim. Evidente. Ainda mais porque as empresas em um cenário de crise elas cortam os investimentos em segurança por não trazer retorno financeiro imediato. O retorno desse tipo de investimento vem a longo prazo, com a não ocorrência de acidentes de trabalho. Então, neste momento existe uma expectativa de que, com a mudança do governo, a situação econômica melhore. Com isso, as emrpesas voltarão a investir em maquinário, produção e, consequentemente, em segurança.
Qual sua opinião sobre a formação da profissão?
Eu acho que a grade curricular deveria ser até maior. Nunca menor. Se eu fiz um curso na Unicamp, de referência, e achei que não foi suficiente, imagina esses que se propõem a ser à distância, com menos tempo. Você está colocando profissionais no mercado de trabalho sem a qualificação mínima necessária para trabalhar. E isso é perigoso para todo mundo, porque coloca toda a área de segurança do trabalho em cheque, não só a engenharia. Um profissional desqualificado se tomar uma decisão errada coloca em risco profissionais e todo um sistema de segurança. Quanto mais qualificação melhor.
Desse ponto de vista, qual a realidade do mercado?
Olha, o que mais acontece hoje na minha empresa é eu ser chamado para ir em obra ou instalações para consertar serviço mal feito dos outros.
Saiba mais sobre a formação da profissão neste link.