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CRESCE BRASIL - Engenharia e tecnologia em prol do desenvolvimento sustentável são tema durante IV EcoSP

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Soraya Misleh

       Inovações para garantir menor impacto no meio ambiente urbano e rural foram abordadas entre 17 e 19 de novembro na Capital. No período, realizou-se a quarta edição do EcoSP (Encontro de Meio Ambiente de São Paulo). A iniciativa, organizada pelo SEESP e FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), contou nesta versão com cerca de 400 participantes a cada dia. 
         Parte do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – capitaneado pela entidade federal, com a adesão de seus sindicatos filiados, incluindo o paulista –, que propugna pelo desenvolvimento sustentável do País, a atividade incluiu assim temas que podem contribuir para essa construção. À abertura, o vice-presidente do SEESP e coordenador do evento, Carlos Alberto Guimarães Garcez, lembrou a importância multiplicadora das discussões. Nessa linha, o presidente dessa entidade e da FNE, Murilo Celso de Campos Pinheiro, destacou que o objetivo principal do encontro, que ocorre anualmente, é realizar esse debate de forma a contribuir para que a sociedade compreenda a necessidade de crescimento para a melhoria das condições de vida, mas da forma correta, garantindo-se a preservação ambiental.
       Iniciado em 2006, o projeto “Veículo Elétrico”, da Usina Hidrelétrica de Itaipu em parceria com a empresa suíça KWO, foi apresentado por Marcio Massakiti Kubo, membro da coordenação-geral brasileira da iniciativa, durante o EcoSP, como ação nesse sentido. O modelo utilizado foi o Palio Weekend, da Fiat, que acomodou perfeitamente o sistema. Com foco no uso urbano, ainda de acordo com o expositor, o carro possui autonomia de 120km, velocidade máxima de 130km e uma bateria de sódio com tempo de recarga de oito horas, praticamente 100% reciclável. Estudos mostram que, além de não poluir, o veículo elétrico representará um impacto mínimo para o consumo de energia – de apenas 10kWh/dia, apontou Kubo.
        Segundo ele, o projeto avançou tanto que, para atender a demanda do setor rural, a Itaipu, em parceria com a empresa Iveco, fabricou o primeiro protótipo de caminhão elétrico em 2009 e de miniônibus em 2010. Para finalizar, Kubo falou da necessidade de postos de abastecimento para recargas rápidas e mencionou a tecnologia Smart Grid.
        A iniciativa é importante ao se observar o cenário por exemplo em São Paulo. Conforme Marcos Brandão, diretor de operações da Controlar Inspeção Veicular, “é a quinta metrópole mais poluída do mundo e 97% de todo o monóxido de carbono emitido vem do escapamento de veículos”. Ele expôs os dados ao falar sobre os benefícios da inspeção ambiental. Paulo Hilário Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo), ressaltou que a porcentagem de mortes atribuídas ao excesso de poluição do ar na Capital é 11%. Para ele, todavia, o único jeito de sensibilizar as autoridades para a implementação de políticas públicas é calcular custos. “É preciso criar um mecanismo de incentivo macroeconômico para diminuir a emissão e o número de mortes.”

Meio ambiente e energia
        Essa é também a opinião de Cassiano Augusto Agapito, do banco BTG Pactual. Falando sobre a inserção da biomassa na matriz elétrica brasileira, ele salientou que a opção depende de o processo ser viável economicamente. Ao que, no caso da biomassa, tem havido incentivo governamental, o que tem lhe agregado valor. Entre seus tipos, Agapito elencou as florestas nativas ou plantadas, o bagaço da cana-de-açúcar, outros resíduos agrícolas, além dos urbanos, como o lixo. Também estão nesse rol o carvão vegetal, casca de arroz e capim-elefante, além de outras gramíneas.
       Quanto ao lixo, a situação é alarmante. Segundo palestra ministrada pelos pesquisadores do Nipe (Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Carlos Alberto Mariotoni, Sergio Augusto Lucke e Mauro Berni, em São Paulo, são 16 mil toneladas por dia. Já no Brasil, esse número chega a 180 mil t/dia. Desse total, 56% vão para aterros sanitários, 23,9% para controlados e 19,3% para lixões, que em breve estarão extintos, conforme a nova política nacional de resíduos sólidos, objeto da Lei nº 12.305/2010 – tema da explanação do deputado federal Arnaldo Jardim (PPS/SP).
        Em cumprimento a essa norma e levando em conta o desenvolvimento de alternativas renováveis face ao crescimento do País, os pesquisadores apresentaram projeto de geração de energia a partir da massa seca separada, queimada em processo de combustão. “Depois, o calor gerado é utilizado para esquentar a água numa fornalha, que se transforma em vapor e em seguida vai para uma turbina que move o gerador e resulta em energia elétrica”, explicou Lucke.
        Também foi tema durante o encontro a transformação do óleo de cozinha em biocombustível. Jorge Hori, do Programa Bióleo Duplamente Sustentável, indicou que hoje apenas 0,4% do resíduo é aproveitado para produção de biodiesel – a grande maioria é despejada inadequadamente no esgoto. É mister, portanto, utilizá-lo de forma “duplamente sustentável”, ou seja, viabilizando substituição do diesel e reduzindo os níveis de poluição decorrentes da queima daquele combustível e do descarte impróprio. O que, como continuou Hori, depende da sustentabilidade socioeconômica e ambiental do projeto.
       A construção civil também precisa de mudanças, ainda mais face à expansão do País, como ponderou Martin Paul Schward, vice-presidente da VDI (Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha). Considerado um dos grandes vilões do meio ambiente, o setor consome 66% das florestas, 40% de todos os recursos naturais e da energia do mundo e 30% da água potável do planeta. Além disso, gera de 40 a 70% do volume de resíduos sólidos urbanos e cerca de uma tonelada de entulho por habitante/ano. Outro dado preocupante é que desperdiça 6% dos materiais em valor e 20% em massa. Na sua concepção, as tecnologias dão respostas a essas questões. Entre as que podem contribuir nesse processo, ele citou um novo conceito de pontes ferroviárias pré-fabricadas que usam 30% menos material.

Reúso de água
      Outra inovação tecnológica apresentada durante o EcoSP visa o reúso de água para fins industriais, utilizando-se como insumo o esgoto tratado. Trata-se do projeto Aquapolo, o qual conta com investimentos de R$ 253 milhões e objetiva sobretudo abastecer o Polo Petroquímico do ABC paulista. Realizado numa parceria com a Sabesp e a Foz do Brasil, foi abordado por Giancarlo Ronconi, representante desta última empresa, vinculada à Organização Odebrecht. De acordo com ele, o Aquapolo terá capacidade para produzir 650 litros por segundo de água de reúso, podendo se expandir para 1.000 l/s. O volume que deixará de ser consumido pelo setor é suficiente para abastecer continuamente uma população de 350 mil habitantes.
       A situação das águas no Estado de São Paulo não deixa dúvidas quanto a essa necessidade. Amauri Luiz Pastorello, superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), destacou que o território apresenta problemas de disponibilidade. Mundialmente, é considerada ideal uma bacia que conte com 2.500m3/ano por habitante. “Nas do Alto Tietê e do Rio Piracicaba, temos uma situação bastante crítica, de menos de 1.500m3. Nessa região, já há disputa a tapa por um copo d´água.” Ele enfatizou que esse cenário tem a ver com a forma como as cidades se desenvolveram. “Mais ou menos 20% dos recursos hídricos estão alocados na área leste, em que está concentrada 80% da população. A ideia é tentar implementar política de incentivo ao adensamento populacional um pouco maior do lado oeste do Estado”, frisou.
        Desafio refere-se ainda à qualidade da água, “muito ruim nas bacias do Alto Tietê e do Rio Piracicaba, assim como no norte paulista, no Pontal do Paranapanema e na região de Marília”. De acordo com sua explanação, o lançamento de esgoto ocorre in natura. “O Governo do Estado quer atingir até 2015 a totalidade dos municípios com tratamento.”
        Também sobre recursos hídricos, projeto intitulado “Manuelzão” – em referência a personagem do escritor Guimarães Rosa – desenvolvido na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) com o objetivo de recuperar a Bacia do Rio das Velhas, afluente do Rio São Francisco, foi apresentado pelo professor dessa instituição Antonio Thomaz Gonzaga da Matta Machado. Na sua visão, o grande desafio está em garantir a sazonalidade do rio. Ele apontou estudo que mostra que é possível “definir melhor a vazão, com critérios mais consistentes”, sem afetar a produção de energia.
        Também foram proferidas palestras sobre “Paleoclimas do quaternário e a teoria do aquecimento global”, pelo professor Kenitiro Suguio, da Universidade de Guarulhos; “Nanotecnologia na agricultura”, por Cauê Ribeiro de Oliveira, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária); e “A engenharia e o meio ambiente caminhando juntos: a rodovia dos Imigrantes”, por João Antonio Del Nero, da Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projetos. Ao final, o ator, cantor e compositor Rolando Boldrin apresentou show, animando e emocionando a plateia com divertidos “causos” e músicas regionais. Encerrou declamando a grandeza e diversidade do “Senhor Brasil” – título do seu programa semanal apresentado na TV Cultura.

 

 

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