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31/01/2022

Uma profissão ligada à preservação do Planeta

Primeiro curso de engenharia ambiental, no País, surge no mesmo ano da Rio-92.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Em janeiro de 1992, o Brasil foi palco da histórica primeira Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Conferência Eco-92 ou Rio-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Era o mundo “acordando” para as mudanças climáticas, hoje já definidas como emergências climáticas. Naquele mesmo ano, foi criado o primeiro curso de engenharia ambiental, no País, na Universidade Federal de Tocantins (UFT). A engenheira ambiental Karina da Costa Sousa Lima, formada em 2012 pela Universidade de Uberaba (MG), é taxativa quando diz que não se tratou de mera coincidência entre os dois acontecimentos.

 

Karina engenharia ambiental 2 600A engenheira Karina da Costa Sousa Lima participa de evento pelo Dia da Água, no Centro Universitário do Planalto de Araxá (MG), em março de 2019. Crédito: Acervo pessoal.

 

Neste ano de 2022, a profissão completará exatos 30 anos de vida e já consegue despertar a atenção de muitos jovens para uma carreira tão promissora em termos de oportunidades, mas, principalmente, para fazer a diferença na vida das pessoas e do Planeta, como aponta Lima. Mais um motivo, portanto, para celebrar, e bem, neste 31 de janeiro o Dia do/a Engenheiro/a Ambiental, que, hoje, no Brasil, somam cerca de 28 mil, conforme dados reunidos pelos conselhos federal e regionais da categoria (Sistema Confea-Creas).

 

Para entender o que aconteceu em 1992 e a criação da profissão, Lima faz questão de fazer uma linha do tempo breve e lembra que, desde o final do século passado, o mundo presencia o surgimento ou a intensificação de movimentos sociais e contraculturais, especialmente a partir da década 1960, incluindo o movimento ecológico ou ambientalista. “Os primeiros principais marcos despontaram a partir dessa época, como a publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, em 1962, e do relatório “Os Limites do Crescimento”, pelo Clube de Roma, em 1972”, ensina. 

 

 

Desde então, foram realizadas muitas atividades internacionais sobre o meio ambiente humano e a problemática ambiental na busca de se aliar o desenvolvimento econômico à proteção dos recursos naturais. Novas regulamentações, certificações e órgãos ambientais surgiram e se consolidaram também nesse período. No Brasil, diz Lima, a Constituição de 1988 “alicerçou o compromisso nacional com o desenvolvimento sustentável ao dispor que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, considerado um bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida, e impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, observa a engenheira, citando textualmente o artigo 225.

 

Portanto, ressalta ela, a criação do curso de engenharia ambiental insere-se nesse contexto internacional e nacional de atenção ao meio ambiente, como não se tinha observado em tempos anteriores. “O estabelecimento de todo esse arcabouço político e institucional voltado às questões ambientais e de sustentabilidade evidenciou a necessidade de se criar um curso mais multidisciplinar que a Engenharia Sanitária e atendesse aos novos paradigmas sociais, econômicos e ambientais”, ensina Lima. 

 

Para evitar que as atividades econômicas humanas continuem a devastar o meio ambiente, a profissão ganha relevância ímpar no mundo contemporâneo com amplas e diversificadas áreas de atuação. Pela própria natureza do curso, reforça Lima, “nossas atribuições estão relacionadas à administração, gestão e ordenamento ambientais, e ao monitoramento e mitigação de impactos ambientais”. Nesse sentido, prossegue a engenheira, o profissional comumente trabalha em empresas e indústrias para otimizar o uso de recursos naturais e implementar e gerenciar as políticas dessas instituições relacionadas à sustentabilidade.

 

Prevenir, minimizar, compensar
Ela explica que as atribuições de um engenheiro ambiental, no contexto de um sistema produtivo ou frente à uma decisão empresarial, devem garantir que aquela produção, decisão ou sistemas humanos continuem a utilizar recursos naturais, dos quais necessitam, observando e aplicando ferramentas, legislações, políticas etc., “que garantam que os recursos sejam utilizados de forma controlada e sustentável, e que os potenciais impactos causados pelos resíduos gerados na atividade sejam prevenidos, minimizados ou compensados”.

 

Nessa perspectiva, exemplifica Lima, o profissional deve observar o cumprimento de um instrumento de comando e controle, que pode ser uma regulamentação que determine limites de emissão de certos gases. Ela prossegue: “Ou na implementação de um sistema de gestão e de certificação ambiental e socioambiental, em que objetivos e metas devem ser cumpridos, estendendo-se a todos os stakeholders [acionistas] da organização; em ações relacionadas à reciclagem e reaproveitamento de recursos; ao ciclo de vida de produtos; ao controle e minimização de riscos; à governança, dentre outras [medidas].”  

 

Ciência e tecnologia aliadas do meio ambiente
A engenharia ambiental também vem se beneficiando com a inovação tecnológica e a criação de ferramentas e processos que contribuem para a redução do impacto negativo no meio ambiente, na economia e na sociedade. “A ciência e as tecnologias ambientais se tornaram grandes e boas aliadas do nosso trabalho”, defende Lima.

 

As tecnologias que servem às causas ambientais minimizam problemas como o da emissão de resíduos potencialmente poluidores, na linha da ecoeficiência, “que é produzir mais com menos, por meio de sistemas de gestão ambiental e o aprimoramento de processos produtivos que vise reduzir ou otimizar o consumo de insumos naturais”, aponta a engenheira. Ela observa que essas ferramentas tecnológicas são utilizadas para rastrear dados para identificação, armazenamento e acompanhamento de informações sobre a existência de resíduos poluentes no meio ambiente.

 

Lima faz uma observação primorosa sobre como as tecnologias de informação e comunicação (TICs) também ajudam o trabalho da área ambiental quando facilitam o acesso à informação, do consumidor às empresas, “isso traz uma conscientização maior sobre a questão ambiental, o que nos ajuda muito, constituindo consumidores e empresas mais conscientes tanto por questões estratégicas e políticas, e até para fazer a diferença”, avalia.

 

O empreendedorismo, nesse caso muito ligado às startups, segundo Lima, vem revolucionando a parte ambiental “quando buscam e oferecem soluções sustentáveis, principalmente na destinação final dos resíduos sólidos produzidos diariamente pela sociedade”. Ela completa: “Temos a criação de inúmeros aplicativos, como o Cataki que conecta as pessoas aos catadores de material reciclável. Esse app só é possível com a tecnologia do georreferenciamento. Posso falar, ainda, de aplicativos que gerenciam processo de resíduo de empresas, de acesso a fornecedores sustentáveis e outros que reúnem documentação e toda a legislação e instrumentos legais que devem ser cumpridos na área ambiental.”

 

A engenheira cita, ainda, os avanços da ciência e engenharia de materiais para produzir alternativas a materiais mais críticos que utilizamos, como o plástico e o isopor, por exemplo. “A contribuição da ciência, nesse sentido, é enorme, porque precisamos de material que degradem mais rapidamente e que não poluam ou cause danos ao meio ambiente, incluindo aqui os humanos, os animais e a flora”, descreve.

 

Tecnologias digitais que auxiliam a área ambiental

Hidroweb mobile - aplicativo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Ana) que contém informações sobre recursos hídricos.

Atlas Esgotos - Outro aplicativo que contém informações sobre água e esgotos no Brasil da ANA. 

Água para o Futuro - Aplicativo de monitoramento e informações sobre nascentes de alguns estados do Brasil.

 

Ciclovivo - Uma ideia de aplicativo que indica o ciclo das espécies vivas.

Aplicativos voltados à educação ambiental e mudança de comportamentos. 

Startups de sustentabilidade - VG Resíduos, Biosolvit, Dobra, Newatt, Kemia e outras iniciativas em defesa do meio ambiente.

Pesquisa: Engenheira ambiental Karina da Costa Sousa Lima

 

Conceito de desenvolvimento
Lima faz uma análise pertinente diante da preocupação com as emergências climáticas que mobiliza, cada vez mais, sociedade, instituições e governos do mundo inteiro: “O conceito de desenvolvimento evoluiu. Já não se pode considerá-lo apenas como crescimento econômico e muito menos a qualquer custo, acreditando-se que o avanço e a inovação tecnológica consigam dar conta dos impactos negativos da exploração predatória de recursos naturais.”

Por isso, ensina a engenheira ambiental, o desenvolvimento deve ser visto de forma ampla, abarcando diferentes dimensões: social, cultural, política e institucional, ambiental, socioeconômica, científica e tecnológica. Ou, em outras e suas palavras: “Não faz mais sentido falar em desenvolvimento sem considerar a conservação de recursos naturais dos quais os sistemas humanos dependem. Ou, como afirmado no ensaio no âmbito do projeto do Pnud [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] junto com o Conselho Internacional de Ciência (CIC) sobre o repensar do desenvolvimento humano (2020), o desenvolvimento humano só é possível dentro dos limites do planeta, levando-se em conta os sistemas planetários de apoio à vida.” 

 

Quem é Karina da Costa Sousa Lima
Mestra em Ensino de Ciências da Terra, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2015. Especialização em Direito Urbanístico e Ambiental, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), em 2018. Graduada em Engenharia Ambiental, pela Universidade de Uberaba, em 2012. Foi coordenadora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do Centro Universitário do Planalto de Araxá-Uniaraxá (2018-2019) e professora (2016-2019) na mesma instituição, ministrando as disciplinas de Avaliação de Impactos Ambientais, Licenciamento Ambiental, Sistemas de Gestão Ambiental, Planejamento e Gestão Ambiental, e Trabalho de Conclusão de Curso; e a disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa, na modalidade a distância, para diversos cursos de graduação. Professora autora e roteirista de material das disciplinas Métodos e Técnicas de Pesquisa, e Engenharia e Profissão, para a educação a distância do Núcleo de Educação a Distância-NEaD/Uniaraxá (2017-2019). Professora assistente substituta na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), lecionando disciplinas da área ambiental para os cursos de engenharia da instituição (2015-2016).

 

Lima ainda tem experiência com Licenciamento Ambiental e Gestão Ambiental Empresarial. Na área acadêmica, com a docência de Ciências Ambientais, com a elaboração e participação em projetos de pesquisa, e com a orientação de Trabalhos de Conclusão de Curso e de Iniciação Científica. Desenvolve projetos na área da Educação Ambiental, como associada-fundadora e coordenadora de assuntos internos do Instituto Ambiental Aondê (Uberaba-MG).

 

>> Coautora do artigo Percepção de alunos de engenharia ambiental sobre o tema das mudanças climáticas e sua área de atuação profissional.

 

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