Profissional precisa “pensar fora da caixa” para encontrar caminhos mais eficientes para um processo econômico.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
A Engenharia de Produção, apesar de ser um curso mais recente que outras modalidades — como a Civil e a Mecânica, por exemplo —, ela teve início há mais de 100 anos. As primeiras referências vêm do fim do século XIX, quando Frederick Taylor e Henry Ford começaram a transformar os conhecimentos práticos em processos formais. O primeiro escreveu um livro chamado “Princípios da Administração Científica”, em 1911, sendo considerado, por isso, o ‘pai’ dessa profissão. Taylor se incomodava com o desperdício de tempo, recursos e força de trabalho nos processos.
A primeira universidade que criou o curso de Engenharia de Produção, no Brasil, foi a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), em 1957, com a coordenação do professor e engenheiro Ruy Aguiar da Silva Leme. A iniciativa está muito relacionada à chegada de empresas multinacionais ao País, que tinham empregados com o cargo de industrial engineer (em português, engenheiro industrial), nome pelo qual os engenheiros de produção são conhecidos na América. Sessenta e três anos depois, temos, de acordo com estatística do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), 34.085 profissionais registrados na modalidade, desses, 8.044 são engenheiras.
Cada vez mais, a Engenharia de Produção expande o seu campo de atuação além do ambiente fabril. É um profissional destacado pela sua visão abrangente, de enxergar os processos por inteiro — do início ao fim — para poder analisar suas características e propor melhorias. Ele tem que “pensar fora da caixa”, tendo como palavras de ordem “mudar e melhorar”. Assim como as demais profissões, as ferramentas digitais e a tecnologia da informação também fazem parte do dia a dia desse especialista.
Para falar de uma profissão tão importante e que esteve em destaque na pandemia, com fábricas remodelando seus processos produtivos originais para ajudar na produção de respiradores, por exemplo, entrevistamos a engenheira de produção Patrícia de Paula Ledoux Ruy de Souza, concursada e lotada no Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental, unidade que fica em Belém, no Pará.
Ela se formou aos 24 anos de idade, em 2003, pela Universidade do Estado do Pará (Uepa). Hoje, aos 41 anos e 17 de profissão, Patrícia fala com muito entusiasmo: “A nossa atuação em avaliação de tecnologias, junto com os demais colegas do setor, está diretamente ligada aos números do Balanço Social da Embrapa que mostram o retorno do nosso trabalho para a sociedade em números.” A 23ª edição do balanço, como ressalta a engenheira, traz números concretos desse trabalho multidisciplinar, como o lucro social apurado, em 2019, de 46,49 bilhões de reais provenientes dos impactos econômicos de 160 tecnologias e cerca de 220 cultivares.
Esta é a nossa homenagem a todos esses profissionais pelo Dia do Engenheiro de Produção, neste 17 de dezembro.
Você teve alguma influência familiar na opção pela engenharia de produção?
Minha mãe é que me chamou a atenção para esse curso. Eu realmente não conhecia ainda, mas achei bem interessante as infinitas possibilidades de trabalho do engenheiro de produção e como tinha me formado no curso técnico em alimentos no ensino médio, pensei em unir as coisas nessa área e assim foi.
Como foi o início da sua carreira?
Como disse, fiz curso técnico em alimentos, então, tinha uma vivência de “chão de fábrica” e era para lá que queria voltar depois de graduada. Mas acabei trabalhando, inicialmente, durantes uns seis meses, prestando consultoria para empresas da construção civil no quesito gestão da qualidade. Depois voltei para a fábrica de biscoitos e trabalhei por quase três anos com a linha de produção de biscoitos e gestão da qualidade também. Atualmente, já há 13 anos, atuo na Embrapa dentro da área de transferência de tecnologia, no Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias, trabalhando com prospecção mercadológica e tecnológica, propriedade intelectual e avaliação de tecnologias.
O que faz um engenheiro de produção?
Essa pergunta abre infinitas possibilidades, porque existem graduações em engenharia de produção com formação específica, como em ênfase em elétrica, ou em mecânica e por aí vai. Todavia, a minha graduação em engenharia de produção é ampla. O engenheiro formado na Uepa pode trabalhar dentro das diversas áreas que fazem parte da formação. Por isso, também estudei gestão da qualidade e de pessoas, logística, planejamento e controle da produção, pesquisa operacional, economia, custos industriais, ergonomia e segurança do trabalho. É de fato muito amplo o campo de atuação.
Com a pandemia, vimos empresas alterando processos produtivos para fabricar produtos diferentes da linha original para ajudar na fabricação, por exemplo, de respiradores.
Com o conhecimento da linha de produção, o engenheiro de produção pode fazer ajustes necessários para trocar a linha dependendo da motivação do trabalho a ser realizado. Dentro de uma fábrica, maior campo de atuação do engenheiro de produção, esse ajuste nas linhas é constante sempre buscando a melhor forma de produzir. E nesse caso da pandemia, se a empresa tem atuação com materiais desse tipo o engenheiro de produção faz os ajustes e produz um novo produto com facilidade.
Logo após a graduação, iniciei mestrado em ciência e tecnologias de alimentos, em 2006, também na Uepa, porém, não conclui, pois saí da fábrica de biscoitos e ingressei na Embrapa. Nesse momento, optei pelo mestrado em Economia do Desenvolvimento, iniciando em 2012 e concluindo em 2014, na PUC-RS [Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]. Utilizo esses conhecimentos junto com a engenharia de produção para trabalhar na minha área. Além desse curso mais intenso, busco constantemente cursos de aperfeiçoamento dentro dos temas que atuo na Embrapa.
Qual o futuro da engenharia de produção?
Vejo cada vez mais integrado com esse mundo. Como já disse, a engenharia de produção é muito versátil e o campo de atuação é amplo, logo, a adaptação é necessária e facilitada. Esse profissional tem a vantagem de atuar com pessoas e processos e, nesse ponto, a integração dentro do mundo mais tecnológico pode ser facilitada também.
Em sua opinião, quais habilidades comportamentais imprescindíveis à profissão?
Resiliência, visão integrada, relação interpessoal – pois trabalhamos com pessoas e processos –, pensamento lógico, empreendedorismo – mesmo atuando para outro como empregado. E ainda ter a visão de fazer diferente é importante, pois pode trazer uma nova forma de atuar dentro da própria fábrica, por exemplo.
O que você desenvolve na Embrapa?
Trabalho com prospecção mercadológica e tecnológica, propriedade intelectual e avaliação de tecnologias, dessa forma consigo integrar os conhecimentos de gestão de projetos e processos, gestão "pós venda" quando a gente avalia o impacto das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa quando chegam até o cliente final e também com a definição de cenários, que remete à pesquisa operacional e simulação.
Como concilia o profissional e o pessoal?
Acredito que, como todo mundo, esse ano foi meio diferente para todos. Tem sido um desafio diário trabalhar de casa com dois filhos pequenos e cheios de energia, mas temos avançado. Meu marido também está em home office, intercalando com o trabalho presencial e assim vamos nos organizando. Foco nas tarefas mais importantes.
Oportunidades na Engenharia - A serviço da carreira do profissional