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10/12/2018

Homenagem aos destaques do ano

 

Soraya Misleh/Comunicação SEESP

Fotos: Beatriz Arruda

 

Em comemoração ao Dia do Engenheiro – 11 de dezembro –, o SEESP entregou na última sexta-feira (7), em cerimônia na sua sede, na Capital, aos destaques do ano em suas áreas de atuação o prêmio Personalidade da Tecnologia – como faz tradicionalmente desde 1987. Foram agraciados Mauricio Pazini Brandão (categoria Aeroespacial), Vania Beatriz Rodrigues Castiglioni (Agricultura), Roberto Zilles (Energia), Ricardo Daruiz Borsari (Recursos hídricos), Jon "Maddog" Hall (Telecomunicações e TI), Paula Carvalho Benevides (Valorização profissional). Além disso, nesta edição, foi feita homenagem póstuma especial ao engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz (1918-1994). Entre outras realizações, ele foi responsável, juntamente com sua equipe, pelo projeto e soluções inovadoras que tornaram possível a construção do Museu de Arte de São Paulo (Masp) há 50 anos (leia no JE 522). A honraria foi entregue ao presidente da Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto, João Antônio del Nero.

 

Murilo Pinheiro, no púlpito, saúda os premiados.

 

A saudação inicial aos contemplados com o prêmio coube ao professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, José Roberto Cardoso, que destacou o fato pioneiro de se agraciar uma personalidade do exterior – o americano Jon “Maddog Hall, engenheiro de software que desenvolveu o sistema operacional Linux. Outra inovação em 2018, que também mereceu ênfase, foi a homenagem póstuma especial. “Figueiredo Ferraz foi professor da Poli, teve uma carreira acadêmica brilhante e profissional ainda mais. Nas celebrações pelos 50 anos do Masp, infelizmente esqueceram de homenagear os engenheiros por trás disso, e Figueiredo Ferraz foi um deles. Em setembro último ele completaria 100 anos de idade”, pontuou Cardoso.

O coordenador explicou como é feita a indicação ao prêmio: “O Conselho Tecnológico conta cerca de 250 engenheiros, personalidades, a maioria formadora de opinião. De início identificamos as cinco áreas em que o prêmio será concedido. Recebemos uma quantidade razoável de indicações, através de currículos, e passamos três meses discutindo. Convergindo os nomes, esses são convidados a comparecer a essa cerimônia para ser contemplados.”

 

Profissionais e lideranças prestigiam solenidade.

 

Cardoso também aproveitou o ensejo para falar sobre as mudanças nas diretrizes curriculares nacionais por que a engenharia vem passando neste momento. Segundo ele, a profissão se transformou muito e é importante a revisão em andamento, “mudar o conceito do que a formação exige atualmente. “Não podemos pensar o engenheiro que trabalha isolado, fazendo contas. Agora tem que atuar em equipe, saber se comunicar, ter conhecimento de economia, história, novas competências.” O coordenador do Conselho Tecnológico observou que o Brasil é o 13º país que mais produz artigos em revistas qualificadas, no entanto, ocupa a 69ª posição em inovação, que “é o que mais gera riqueza a uma nação”. E vaticinou: “Deveríamos ter mais para que o Brasil não passasse pelas dificuldades que enfrenta. As novas diretrizes visam mudar isso, formar o engenheiro que inova, cria, gera riqueza. Este dia é para reflexão a respeito.”

Diretor-presidente da Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais dos Creas, Paulo Guimarães informou os presentes que a solenidade em celebração ao Dia do Engenheiro ocorria na data em que a Mútua completava 41 anos de criação, reconhecida pela revista Exame como uma das 150 melhores empresas. “Temos grandes desafios junto ao SEESP, à Federação Nacional dos Engenheiros, ao Sistema Confea/Creas, às lideranças nacionais, na qualificação e assistência. Que possamos acolher cada vez mais e melhor o profissional da área tecnológica.”

 

Com a palavra, os agraciados

Ao receber a honraria na categoria “Aeroespacial”, Mauricio Pazini Brandão salientou a importância do setor: “É de alta intensidade tecnológica e leva à produção de alto valor agregado.” Criador do curso de Engenharia Aeroespacial no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ele destacou que está devolvendo à sociedade o que lhe foi dado em conhecimento, junto a instituições públicas. “É uma área que requer muito estudo, especialização e dedicação. Nasceu na prática com Santos Dumont, em 1906. É um produto brasileiro que temos que levar à frente.” E frisou: Sou o terceiro contemplado com o prêmio no setor. Essa homenagem é pelo que fiz no passado, mas ainda farei muito. Vocês vão ouvir muito meu nome com respeito a inovação. Tudo pela engenharia do Brasil.”

Destacando que esse reconhecimento “não tem preço”, Vania Castiglioni afirmou o orgulho de ser agraciada em “Agricultura” por uma entidade que tem uma história de mais de 80 anos em defesa da engenharia, da democracia e do desenvolvimento nacional. Com um contribuição de 32 anos em ensino, pesquisa, desenvolvimento e inovação ao setor, como afirmou, seu “casamento com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) nos últimos 20 anos é norteado pela responsabilidade com a gestão da coisa pública”. Ciente de sua missão, afirmou seguir “imbuída da dedicação ao crescimento e fortalecimento da agricultura sustentável e segurança alimentar”.

Na área de “Energia”, Roberto Zilles elogiou o SEESP por sua busca pelo desenvolvimento nacional sustentável, que culminou na lembrança da área em que atua: sistemas fotovoltaicos. “Energia solar atende demanda social muito importante, de levar energia a áreas remotas. Começamos a eletrificação junto à população do Vale do Ribeira, proporcionando qualidade de vida a quem era refém da lamparina. Isso tem a ver com inovação.” O agraciado concluiu: “Há muito por ser feito, como propugna o projeto ‘Cresce Brasil’ (iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros), e é preciso formar para tanto os engenheiros que a sociedade está demandando, com conhecimento de diversas áreas e interação para que tenhamos um mundo melhor.”

Ricardo Borsari lembrou, honrado, que pela primeira vez o SEESP agraciou personalidade em “Recursos hídricos”. “Esse é um trabalho de equipe. Focar o saneamento como prioridade nos deixa muito contentes.” Entre suas realizações, ele destacou avanços no Estado de São Paulo, em que o abastecimento de água alcança praticamente 100%. “Criamos o Programa Água Limpa com financiamento a fundo perdido para tratamento de esgoto nas municipalidades. Atingimos a universalização em mais de 150.” Borsari salientou ainda o enfrentamento da crise hídrica a partir de 2014, um trabalho de grande porte, com investimentos de quase R$ 5 bilhões em três anos. “Em 2018 tivemos um período quase tão seco quanto aquele e nenhum solavanco”, comemorou. E encerrou: “Não é possível imaginar o crescimento nacional sem saneamento. Nada é mais eliminador das distâncias sociais. Fazer engenharia com esse objetivo é um compromisso de vida.”

Em Telecomunicações e TI, Jon “Maddog” Hall agradeceu a homenagem enfatizando alguns feitos que completam meio século em 2019. “O próximo ano é muito importante, porque fará 50 anos que escrevi meu primeiro programa de computador e do nascimento do Linux na Finlândia.” Além disso, recordou que há 25 anos surgiu a primeira versão desse sistema operacional e foi construído um supercomputador, o que “permitiu a democratização da computação” – ao encontro de seu projeto “Cachorros Loucos”, que visa geração de empregos para jovens neste país e oferecer novas tecnologias a baixo custo.  Ao afirmar seu amor pelo Brasil, ele salientou as façanhas da engenharia da área, como o supercomputador feito na Universidade de São Paulo (USP) em 1996. “Aqui descobri coisas incríveis, como o fato de sediar uma das maiores conferências mundiais de software livre.” “Maddog” alertou:  “Como sociedade, não podemos colocar tecnologia crítica nas mãos de outro país. Isso nos coloca numa situação muito perigosa. Convido todos os ‘cachorros loucos’ da plateia a ajudarem nesse projeto.”

“Valorização profissional, para mim, não é só reconhecer, transmitir e liderar. É olhar no olho, ouvir as pessoas, estar a serviço do propósito maior de construção de um País melhor e do desenvolvimento humano. Ter empatia e buscar soluções ao Brasil.” Assim Paula Benevides se pronunciou sobre a homenagem recebida. Ela expressou ainda o orgulho de ser “reconhecida por essa casa, cujo propósito é alavancar a engenharia à máxima potência e fazer a diferença em cada ato, que tem sido um aprendizado para mim.”.

 

João Antônio del Nero: Masp é "obra de arte da engenharia".

 

Por fim, del Nero recebeu a homenagem póstuma a Figueiredo Ferraz. Além de enfatizar seus feitos, entre os quais o Masp – “uma obra de arte” –, ressaltou: “A engenharia é muito importante e passa por um momento muito difícil. Todos nós, profissionais, temos que ajudar a erguê-la. Temos a missão de retomá-la.” Segundo a  Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), citou del Nero, na Rússia e na Coreia do Sul, a cada 10 mil habitantes, há 20 engenheiros; no Chile e Portugal, 16; e no Brasil, 5 ou 5. “Precisamos formar mais. Não podemos ser dependentes de tecnologia estrangeira.” Ele criticou ainda que não se busque – como é feito no exterior – manter empresas nacionais de engenharia, mediante acordos de leniência, em casos de corrupção por parte de seus quadros. Ou seja, julgar e, se for o caso, condenar o indivíduo que cometeu ato ilícito, não fechar a empresa. “A pessoa jurídica não pode parar. É importante ao desenvolvimento do País e geração de empregos.”

Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, encerrou agradecendo os premiados pelo trabalho e dedicação que “engrandecem o Estado e o País”. “É sem dúvida um grande dia. Passamos um ano extremamente difícil, mas talvez de muito aprendizado. Dois mil e dezenove será difícil, mas estamos otimistas. O engenheiro tem uma responsabilidade grande nas discussões, na participação. Vamos precisar lutar muito. Façamos, unidos, deste um país mais justo e com mais oportunidades a todos, o Brasil que todos queremos”, finalizou.

 

 

Breve currículo dos premiados

 

AEROESPACIAL

Mauricio Pazini Brandão

Engenheiro aeronáutico e mestre pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), doutor pela Universidade de Stanford (EUA), tem MBA em Gestão Institucional Estratégica pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É professor do ITA desde 1979. Foi chefe da Divisão de Sistemas Aeronáuticos do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), bem como subdiretor de Patrimônio da Diretoria de Engenharia da Aeronáutica e chefe do Subdepartamento de Administração do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. Membro do American Institute of Aeronautics and Astronautics (Aiaa) e da American Helicopter Society (AHS), é piloto privado, com experiência em ensaios em voo em aviões e helicópteros, além de brigadeiro engenheiro. Atua em engenharia aeroespacial, aeroelasticidade, aeroacústica, aerodinâmica, dinâmica estrutural, projeto de aeronaves, gestão em CT&I, empreendedorismo, indústria e defesa nacional.

 

AGRICULTURA

Vania Beatriz Rodrigues Castiglioni

Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal do Espírito Santo em 1982, mestre em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa em 1985, tem especialização MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas. Iniciou sua trajetória profissional como pesquisadora da Empresa Capixaba de Pesquisa (Emcapa), atualmente Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Foi docente na Universidade Estadual de Londrina e hoje é pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Sua atuação em PD&I nessa instituição se deu através da participação em vários projetos, com ênfase em melhoramento genético de girassol. Assumiu ao longo de sua carreira cargos de chefia e diretoria. Substituiu o presidente da Embrapa em suas ausências e impedimento oficial no período de abril de 2011 a julho de 2017. Hoje atua como gerente da Gestão Integrada de Qualidade.

 

ENERGIA

Roberto Zilles

Físico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutor em Engenharia pela Universidade Politécnica de Madri na especialidade de sistemas fotovoltaicos. Livre-docente em Energias Renováveis e professor titular do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), iniciou sua trajetória acadêmica em 1994, tendo fundado o Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos na instituição – o qual coordena. Implantou a infraestrutura para qualificação de equipamentos fotovoltaicos para o Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). É chefe da Divisão Científica de Planejamento, Análise e Desenvolvimento Energético do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE/USP). Sua atividade de extensão destaca-se, dentre outras ações, por levar eletrificação rural para comunidades ribeirinhas da Amazônia. Autor de várias publicações, tem atuação inclusive internacional.

 

 

RECURSOS HÍDRICOS

Ricardo Daruiz Borsari

Engenheiro civil e mestre em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), foi professor nessa e em diversas outras instituições. De janeiro de 2015 a maio de 2018 assumiu pela segunda vez a Superintendência do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (Daee), órgão com que tem ligação profissional desde 1978. Ocupou vários cargos no Centro Tecnológico de Hidráulica, inclusive a presidência da Fundação CTH. Também esteve à frente da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) e da Pirapora Energia S.A.. Entre as obras que acompanhou na Região Metropolitana de São Paulo estão o aprofundamento e alargamento do Rio Tietê, as barragens no Alto Tietê e da Penha, o Piscinão do Guamiranga (o maior da Capital), o Parque Ecológico do Tietê e ainda a criação do Programa Água Limpa de apoio ao saneamento no interior do Estado. Participou da implantação de inovações em termos de tecnologia e regulamentação.

 

TELECOMUNICAÇÕES E TI

Jon "Maddog" Hall

Engenheiro de software, empresário e diretor executivo norte-americano, desenvolveu o sistema operacional Linux, mundialmente adotado. É diretor do Conselho do Linux Professional Institute, diretor executivo da empresa OptDyn, professor colaborador da Universidade de São Paulo (USP) e conselheiro do Programa Cachorros Loucos. O apelido "cachorro louco" (do inglês maddog) lhe foi dado por alunos da Hartford State Technical College quando era chefe do Departamento de Ciência da Computação. Com atuação na área de informática desde 1969, trabalhou em diversas empresas, entre elas Digital Equipment Corporation, na qual iniciou seu engajamento no sistema Linux. “Maddog” é um defensor incansável das tecnologias abertas e da empregabilidade de engenheiros em regiões menos desenvolvidas. No Brasil participa há décadas da Campus Party, do Fórum Internacional Software Livre e do Congresso Latino-Americano de Software Livre e Tecnologias Abertas (LatinoWare).

 

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL

Paula Carvalho Benevides

 

Vice-presidente de Desenvolvimento Humano Organizacional da Raízen, possui vasta experiência em gestão de pessoas, cultura e transformações organizacionais. Formada em Psicologia, com MBA em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Possui experiência profissional de mais de 18 anos em empresas multinacionais, instituições financeiras, tendo também atuado em consultoria para empresas como Vale, Unilever, Nestlé, entre outras. No grupo Cosan atuou como head de Recursos Humanos na Rumo, Cosan Alimentos, Moove, Radar e Comgás.

 

 

HOMENAGEM ESPECIAL

José Carlos de Figueiredo Ferraz

 

Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1940, Figueiredo Ferraz faleceu em 1994, aos 75 anos, deixando amplo legado à profissão. Doutor em Ciências Físicas e Matemáticas e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de São Bento, mais tarde integrada à Pontifícia Universidade Católica, foi docente em várias instituições. Professor emérito da USP, criou a disciplina de pós-graduação em Engenharia Urbana junto ao Departamento de Construção da Poli e contribuiu para a consolidação de outras faculdades da área. Em 1941, fundou o Escritório de Projeto de Estruturas que anos mais tarde viria a ser a Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto.

Entre as inúmeras contribuições ao desenvolvimento da engenharia brasileira, foi responsável, juntamente com sua equipe, pelos projetos e soluções inovadoras que tornaram possível a construção do Museu de Arte de São Paulo (Masp), que em 2018 celebra 50 anos.

 

 

 

 

 

 

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