Convênio

Entidades e Município garantirão moradia digna à população carente

Soraya  Misleh

Luta histórica do SEESP e de outras organizações, será iniciado em abril, na cidade de São Paulo, o Programa “Morar Melhor”, que assegurará assistência técnica gratuita à população local de baixa renda. Aos engenheiros, representará maiores oportunidades de trabalho e renda.

Fruto de um convênio firmado no dia 18 de fevereiro entre esse sindicato, o Crea-SP, Sasp (Sindicato dos Arquitetos de São Paulo) e a Prefeitura de São Paulo, por intermédio da Sehab (Secretaria Municipal da Habitação), com a presença de representantes de movimentos populares, a iniciativa reflete, segundo Laerte Mathias de Oliveira, diretor do SEESP, o esforço das entidades em garantir moradia digna à comunidade carente. Assim, o objetivo é melhorar as condições de suas habitações com vistas à regularização urbanística.

Em cumprimento ao que determinam o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, segundo os quais cabe à Prefeitura assegurar assistência técnica gratuita aos grupos sociais menos favorecidos, o programa se destina às famílias com renda até seis salários mínimos. Essas deverão se inscrever na administração municipal para fazer jus ao benefício. A elas, os engenheiros e arquitetos que se credenciarem a esse programa – o que poderá ser feito nas entidades signatárias, logo após a publicação de Edital de Convocação no Diário Oficial do Município – poderão prestar os seguintes serviços: desenvolvimento de projeto e acompanhamento de obra nova ou reforma para a reabilitação de unidades existentes, com ou sem ampliação, limitada a 150m2; elaboração de estudos de viabilidade para preparação de ações de usucapião individuais ou coletivas, de modo a regularizar o registro do imóvel junto à Prefeitura; assistência técnica em perícia judicial para esses fins ou ações de posse e concessão de uso especial de moradia; e vistoria e emissão de laudo sobre as condições de habitabilidade de cortiços.

Para se inscrever, o profissional precisa estar em situação regular no Crea-SP e não ter quaisquer punições disciplinares junto a esse órgão. Cada um poderá ser responsável por, no máximo, 120 projetos novos e/ou reformas, número que poderá ser ampliado, caso não haja técnicos em quantidade suficiente para atender à demanda. O pagamento será feito pela Prefeitura, após o término do serviço. Por projeto e acompanhamento de obra nova, o engenheiro receberá R$ 544,00, e para reforma ou ampliação, R$ 411,00. Para parecer técnico, os custos variam de R$ 340,00 a R$ 850,00, conforme a área. Ao maior valor, pode haver complemento de R$ 125,00, a cada mil metros quadrados excedentes. É necessário recolher a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), contudo, no caso, esse valor limita-se à taxa especial para moradia popular. Ao aperfeiçoamento profissional, bem como para o intercâmbio entre os participantes, as entidades promoverão cursos de treinamento, palestras e seminários. Caberá a elas, ainda, fiscalizar e orientar os serviços prestados.

 

Significado importante – Para Paulo Afonso Costa, diretor do Sasp, o mais importante é o produto dessa parceria inédita. “O ideal seria que fosse uma lei municipal, mas é um começo para levar a tecnologia até a população. Existe uma demanda gigantesca sem condições de comprar esse serviço. Por outro lado, há uma massa de profissionais praticamente sem trabalho”, avalia. De acordo com Esdras Magalhães dos Santos Filho, diretor do SEESP, firmar esse convênio foi um compromisso assumido pela prefeita Marta Suplicy em debate nesse sindicato durante a sua campanha eleitoral. E atende a reivindicação das entidades junto aos poderes públicos, que vem desde a década de 80, para que o município garanta a prestação de serviços adequados a essa parcela da população que não tem condições de pagar pelo trabalho de um engenheiro ou arquiteto. “Isso tem um significado importante, porque 80% das obras feitas no País são autoconstruções. E a grande maioria desse pessoal é de baixa renda. Sem o acompanhamento técnico, há diversos problemas e grande desperdício de materiais durante a construção. Portanto, a iniciativa, se tiver continuidade, atingirá o objetivo de levar assistência técnica a essa população e dar a ela condições de ter uma habitação de melhor qualidade a baixo custo, com segurança e salubridade, porque uma casa malfeita é foco de doenças.” Para Mathias, a parceria tem também o benefício de ativar a indústria da construção civil e auxiliar na geração de emprego e renda. “Nosso sindicato cumpre, assim, seu papel social.”

Experiência semelhante já funciona em cinco cidades do Interior do Estado, em que o SEESP propôs o Promore (Programa de Moradia Econômica), instituído por essa entidade em convênio com as prefeituras locais. Esse atende às famílias com renda até cinco salários mínimos que possuem terreno, moram no município há mais de um ano e pretendem construir até 70m2 ou ampliar até 30m2. E representa oportunidade de trabalho aos profissionais em início de carreira, a quem se destina o programa. Inicialmente, foi implantado em Bauru, no ano de 1988, onde mais de 5 mil projetos já foram aprovados. As demais cidades atendidas pelo Promore são Piracicaba, em que cerca de 1.600 casas foram construídas por seu intermédio, Ribeirão Preto, com aproximadamente 700 plantas aprovadas, Rio Claro, com 92 projetos em estudo e 22 aprovados, e Campinas, em que o convênio foi firmado no ano passado e já resultou na construção da primeira casa.

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