Dia-a-dia

Paisagista assegura qualidade ao espaço urbano

Lourdes Silva

É o que aponta a engenheira agrônoma Maria Alice de Lourdes Bueno Sousa, que atua na área. Projeto de jardins, assessoria para manutenção, conservação e fiscalização desses e palestras são alguns dos trabalhos executados por ela. Um dos que desenvolveu foi o projeto do jardim do Templo de Oração da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita”) de Botucatu.

Ali, a engenheira preservou as árvores, entre elas um ipê, algumas palmeiras arecas-bambu muito altas, integrando-as ao ambiente. Usou flores, folhagens e holofotes embaixo das árvores para a luz refletir na parte superior delas à noite. A igreja também recebeu iluminação especial. Segundo Sousa, como o jardim precisava ficar separado de uma ala do hospital da faculdade, ela desenhou um muro, inspirada na Cuesta de Botucatu, pequena depressão na periferia da cidade, estilizada em sua bandeira. Uma parte desse foi construída com tijolos e na outra foram usadas telas, para que as pessoas pudessem enxergar de ambos os lados. Nele, foram colocadas plantas trepadeiras. “Olhando de noite, parece um presépio.” Também foi sua criação parte dos jardins do campus dessa instituição. Para sua manutenção, ela elaborou um edital detalhado à contratação de uma empresa para realizar o serviço. A fiscalização do trabalho fica por conta de sua assessoria.

 

Vida acadêmica – A rotina de Sousa inclui ainda a atuação em bancas de mestrado e doutorado – como a que participou no dia 26 de janeiro último, examinando a tese sobre áreas verdes de Piracicaba, na Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo). Foi nessa instituição que a engenheira se graduou, em 1968, concluiu o mestrado em Fitotecnia e o doutorado em Agronomia, nos anos de 1978 e 1981 respectivamente. Em 1995, recebeu a titulação de livre-docente pela Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu. Embora  aposentada, continua atuante, “tirando fotos de paisagens erradas ou certas como quando dava aula, porque posso usá-las em palestras”. Na faculdade, ainda dá cursos extracurriculares, sem vínculo empregatício. No mês de setembro, ministrará o curso “Planejamento e paisagismo de áreas públicas”, durante o VIII CBAU (Congresso Brasileiro de Arborização Urbana). Neste ano, assumiu a presidência da Comissão Científica desse evento, a qual já está elaborando normas para sua realização.

Sousa orgulha-se de ter participado da criação do Capítulo Brasil da ISA (Internacional Society of Arboriculture), que presidiu de 1995 a 1997. A importante conquista se deu quando ela estava à frente da SBAU (Sociedade Brasileira de Arborização Urbana), no período de 1994 a 1996. Isso representou um avanço, pois colocou o Brasil numa posição de destaque junto aos demais países.

 

Alcance social – Uma das primeiras professoras a dar aula de floricultura e paisagismo, a engenheira esclarece que essas disciplinas são distintas. De acordo com ela, na primeira ensina-se a cultivar plantas ornamentais e que dão flores. Já o paisagismo não se limita, como muitos pensam, a parques e jardins. “Esses podem ser encarados como estudos referentes à pequena paisagem. Mas a função principal da matéria é a grande paisagem, de alcance social maior. Enquanto a primeira atinge uma população restrita a uma pequena área e mesmo particular, a segunda é voltada a pesquisas, desenvolvimento de projetos urbanísticos e planejamento para toda a superfície territorial de interesse dos municípios, estados e países.” A arborização urbana é um dos ramos do paisagismo dentro da pequena paisagem. “Hoje é uma disciplina do curso de agronomia”, afirma. Na sua opinião, esse campo de trabalho para o engenheiro agrônomo é muito grande. “Tem mercado para ele sem brigar com o arquiteto, há espaço para todo mundo”, garante.

Para ingressar na área, Sousa sugere aos interessados que façam estágios no segmento e busquem maior desenvolvimento nas áreas artísticas, como pintura, escultura, arquitetura etc. “A ausência desse saber é uma deficiência nossa”, constata.

Texto anterior
Próximo texto

JE 228