Dia-a-dia

A serviço da Justiça, engenheiro atua na apuração de crimes

Vinculado à Secretaria de Segurança Pública do Estado, o Instituto de Criminalística conta com o Núcleo de Engenharia para dar suporte técnico às investigações policiais. Segundo o seu diretor, Jayme Telles, na metrópole de São Paulo, a equipe é formada por apenas 24 profissionais para atender toda a Capital mais a região de Taboão da Serra até Juquitiba.

Tais engenheiros são responsáveis pela perícia em locais onde houve alguma ocorrência, para identificar possíveis crimes. “Seriam casos de incêndio, explosões, desabamentos, acidentes de trabalho, em ferrovias, de embarcação fluvial, queda de aeronave, eletropressão (quando uma criança vai tirar a pipa da rede elétrica e leva um choque), periclitação de vida (o que representa risco à integridade física da pessoa)”, exemplifica Telles. Além dessas, estão listadas inúmeras outras atribuições, num total de 54. “Nosso trabalho é esclarecer o juiz sobre as causas do evento. Analisamos se houve negligência, imprudência, falha a alguma norma legal ou de conhecimento”, confirma o diretor.

O cotidiano no Núcleo de Engenharia é puxado. Conforme Telles, somente no ano passado foram 4.500 ocorrências. Na escala diária, três dos 24 engenheiros ficam de plantão por 12 horas. Acionados pela polícia, chegam a atender, cada um, a seis ou mais casos, fora os despachados – exames solicitados, em sua maioria, pela Justiça tempos depois. Tais pedidos não entram no plantão e são feitos, na medida do possível, no dia em que chegam ou não. “Tem um caso de dois anos atrás de incêndio em um veículo. Pegamos uma amostra de material, uma espuma do banco, e mandamos para o laboratório examinar. Ficou demonstrada a existência de contaminante volátil.”

Há ainda, segundo Telles, solicitações de testes em botijões de gás, aquecedores, fogos de artifício, constatação de autenticidade de um produto, entre outras. Chegou também um caso de LER para ver se o local onde o empregado atua está relacionado com a lesão apresentada.  Conforme ele, o problema, nesses casos, é que, como não foi solicitada perícia no momento da ocorrência, a análise pode ficar comprometida. “Por exemplo, condições de trabalho em uma obra. Se demorar seis meses, você chega lá e já está pronta.”

 

 

Clínica geral
Perito criminal do Instituto, recém-aposentado, Nelson Cury enfatiza a dedicação e competência da equipe do Núcleo. Como essa é reduzida, embora haja engenheiros com várias habilitações – a esmagadora maioria com pós-graduação em segurança do trabalho –, o profissional não pode ficar restrito à sua especialidade em uma ocorrência. Assim, de acordo com ele, nem sempre quando acontece um desabamento, por exemplo, quem vai ao local é o engenheiro civil, muito embora esse seja consultado e também assine o laudo, se concordar com o seu conteúdo. Telles confirma: “O plantão é uma clínica geral.” 

Ele próprio atende a chamados, juntamente com dois assessores que integram a equipe. “Às vezes, recebo um caso muito complexo e se eu passar a um plantonista ele terá que abandonar todos os demais para fazer.”

 

 

Dificuldades e vantagens
No dia-a-dia, segundo o diretor, as requisições mais comuns referem-se a furtos de energia elétrica, água e impulso telefônico. Outras corriqueiras são as relativas a investigação de crimes ambientais.  Alguns engenheiros do Núcleo estão se especializando na área, porém Cury atesta que “o Governo não tem feito nenhum esforço em patrocinar esses cursos. Aperfeiçoamento e conhecimento são às expensas do perito. Não temos sequer uma biblioteca atualizada”. Telles enumera outras dificuldades: “Faltam viaturas, equipamentos.” Além disso, ele considera uma falha o fato de o perito ter que responder sozinho quando seu laudo é contestado na Justiça, sem contar com a retaguarda do Estado.

A expectativa é que ao menos seja minimizado o problema de falta de pessoal. Deve ser aberto ainda neste ano concurso público para um grande número de vagas no Instituto de Criminalística. A intenção do diretor é que esse supra, em particular, a necessidade por especialistas em meio ambiente, além de dobrar o efetivo de engenheiros no Núcleo.

Aos que pretendem seguir a carreira de perito criminal, ele garante: “É uma área superinteressante, porque quase tudo é inusitado. E no fim a gente acaba ficando meio especialista em todas as áreas.”

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