Preservar salários, afugentar a inflação

Assombrados pelo desemprego durante toda a última década, os brasileiros voltam agora a temer também a inflação. Entre as muitas tarefas assumidas pelo novo Governo está a de combater o retorno desse mal, sabidamente danoso à sociedade, em especial aos trabalhadores, cujos salários acabam corroídos.

Se restavam dúvidas quanto à realidade da ameaça, o início de 2003 acabou com elas. Na Capital, no mês de janeiro, a alta de preços atingiu 2,92%, de acordo com o ICV (Índice de Custo de Vida), medido pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Os maiores responsáveis foram transporte (6,18%), alimentação (2,18%), educação e leitura (7,97%). Os maiores prejudicados pela inflação no mês de janeiro foram aqueles com rendimento médio de cerca de R$ 2.700,00, o maior estrato medido pelo instituto. Para esses, a taxa chegou a 3,03%.

É por esse quadro que se justifica a iniciativa do movimento sindical (Força Sindical, Central Brasileira de Trabalhadores e Empreendedores e Confederação Geral dos Trabalhadores) de buscar a recomposição salarial, antes mesmo das datas-base. Com a taxa de janeiro, a inflação acumulada no último ano ficou perto dos 15%. Nas campanhas salariais de 2002, os reajustes concedidos, na melhor das hipóteses, chegaram a 11%. A imensa maioria não passou dos 8%, acrescidos de abonos e PLR (Participação nos Lucros e Resultados), que não integram o salário. Se não se buscar já a recuperação dessas perdas, na próxima data-base, o rendimento do trabalhador estará seriamente comprometido.

É fundamental que se compreenda que não se trata de defender gatilho ou indexação salarial. A tática de recuperar o poder de compra por meio de negociações extemporâneas deve justamente atender à estratégia de evitar a volta da inflação. Não se pode cair no conhecido círculo vicioso em que os preços altos corroem os ganhos, esses sofrem reajustes que são automaticamente transferidos para os preços, que, por sua vez, pressionam os salários.

Contudo, também não se pode esperar que a economia se sustente sobre os ombros já castigados dos trabalhadores. Conforme declarou à revista Carta Capital o diretor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, “os salários foram a âncora do Plano Real”. Pesquisa desse órgão e da Fundação Seade mostra que o rendimento médio na Região Metropolitana de São Paulo caiu 32% durante o Governo Fernando Henrique. Isso significa menor poder aquisitivo, piores condições de vida, menos consumo, menos produção, mais desemprego e assim sucessivamente. Juntamente com a volta da inflação, essa lógica precisa ser combatida.  

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

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JE 206