Um gigante desfocado de suas funções

A sociologia que estuda o desenvolvimento e a “performance” das entidades de controle institucional anota como fenômeno endógeno da estrutura funcional a tendência sistêmica da maior parte dessas instituições de avanço sobre o espaço público, como forma de consolidar poder e cartorializar as atribuições definidas na lei que as criou.

Não tem sido outro o diagnóstico de muitas das autarquias reguladoras da atividade profissional, que se tornaram, com o passar dos anos, organismos complexos, amparados por uma legislação infra-administrativa a serviço de burocracias cartoriais, em geral resistentes aos processos de modernidade.

Concentrando nosso foco mais especificamente sobre as atividades do Confea/Creas, a visão que se recolhe das relações com empresas e profissionais é a da chamada competência weberiana, que se caracteriza por grandes estruturas, formalidade e rigidez e perda de foco nos interesses dos usuários contribuintes. O Sistema, atuando como autarquia de natureza pública, gerou uma voraz estrutura de arrecadação de taxas e emolumentos não compatível com a abrangência, rapidez e qualidade dos serviços que oferece aos usuários.

Para exemplificar, o Crea-SP possui hoje mais de 200 conselheiros na sua estrutura de controle institucional, enquanto seu quadro de fiscalização de obras e serviços na maior cidade do País não conta com 100 pessoas habilitadas.

Esse desnecessário gigantismo do Confea/Creas nas funções de regulação e fiscalização das atividades profissionais e empresariais difere substancialmente das atividades desenvolvidas pelas demais autarquias congêneres e põe sob suspeita de desperdício, ineficiência e extrapolação da lei todo o Sistema.

O Sistema involui na marcha batida para a conservação desse imenso cartório de guarda e reprodução de documentos, mercê do controle e emissão de ARTs e acervos técnicos, cuja necessidade documental probatória de habilitação técnica precisa ser melhor avaliada pela sociedade e pelo Governo. Em troca, o Sistema, nesses tempos bicudos de globalização, bem poderia voltar seus esforços ao estímulo da formação e defesa da atividade da engenharia nacional, envolvendo profissionais, instituições e empresas, sem prejuízo da sua função fiscalizadora.

As eleições do próximo dia 3 de julho representam uma oportunidade ímpar para os profissionais darem um primeiro passo no processo de reestruturação do Sistema, de sorte a colocar o Confea/Creas na rota da modernidade e da intransigente defesa da engenharia brasileira.  

Faustino Miguel López
Presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas
de Engenharia Consultiva)

Texto anterior
Próximo texto

JE 191