Editorial

O agradável vento da igualdade

 

A chamada “Constituição Cidadã” de 1988 trouxe, entre outros avanços sociais, um de importância fundamental: estabeleceu, em seu capítulo I, a igualdade entre homens e mulheres. Como seria de se esperar, a promulgação do texto, por si, não deu fim às disparidades entre os gêneros num passe de mágica. Porém, abriu caminho a uma série de avanços nesse sentido. Em 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, serão lembradas tanto as conquistas alcançadas desde o longínquo 1857 – quando as 129 operárias de Nova Iorque resolveram lutar por seus direitos e pagaram com a vida por tal audácia –, quanto os desafios que ainda precisam ser vencidos para que a igualdade prevista na lei torne-se realidade por completo.

Ao longo desses 150 anos, houve uma verdadeira revolução feminina. A mulher saiu de seu papel de mãe e esposa submissa para o mercado de trabalho, a política, os movimentos sociais, as artes. Enfim, ganhou o mundo e, dia após dia, instala-se em redutos outrora masculinos, deixando claro que os limites ficaram para trás. Exemplo típico é a engenharia, em que paulatinamente as mulheres conquistam espaço e demonstram sua competência. Obviamente, nesse caminho nem tudo – ou quase nada – foram flores; a luta exigiu certamente sangue, suor e lágrimas. Tampouco está completamente ganha. No Brasil, em que as mulheres são 42,5% da força de trabalho e 50,48% do eleitorado, elas ainda sofrem discriminação como se minoria fossem. Têm menor acesso aos cargos de comando nas empresas, ocupam as funções de pior remuneração e ganham menos que seus colegas homens, embora tenham maior nível de escolaridade. Além disso, continuam a arcar com o peso das tarefas domésticas em proporção muito maior que os maridos, filhos etc: 79% das mulheres ocupam-se delas, contra apenas 25% dos homens, de acordo com a publicação “O progresso das mulheres no Brasil” (www.mulheresnobrasil.org.br), do Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher). Para completar, continuam a enfrentar discriminação e assédio sexual e moral no trabalho. A violência doméstica segue sendo uma praga nacional. Segundo a mesma publicação, estudo da Fundação Perseu Abramo estima que a cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil. Um terço delas (33%) admitiu já ter sido vítima, em algum momento da vida, de alguma forma de violência física. Nesse campo, um grande avanço foi a instituição, no ano passado, da Lei Maria da Penha, que criminaliza a violência doméstica.

Se as estatísticas ainda não são as melhores, a boa notícia está na constatação de que, sem dúvida, chegará o dia em que terão sido completamente transformadas. Isso porque superar esse quadro não interessa apenas às mulheres, mas a toda a sociedade. Dar fim a uma situação que penaliza potencialmente metade da população brasileira faz parte de nossa agenda por democracia política e social. Apenas quando todos, sem exceção, puderem viver de forma livre e segura, tendo oportunidades iguais e realizando plenamente seu potencial humano é que teremos nos transformado em uma nação de verdade – e certamente seremos mais felizes. Portanto, que venham os agradáveis ventos da igualdade. E comemoremos o 8 de março.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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