Opinião

Triste herança às futuras gerações

João Carlos Pasqualini

 

Três quartos da superfície do nosso mundo são cobertos por água, sendo 97% salgada e apenas 3% doce. Essa parcela, majoritariamente, encontra-se sob a forma de gelo nas calotas polares e geleiras, havendo ainda a parte gasosa e a líquida, representada pelas fontes subterrâneas e superficiais. Já os rios e lagos, que são nossas principais formas de abastecimento, correspondem a apenas 0,01% da água doce.

Há 2 mil anos, a população mundial era 3% da atual, enquanto o volume de água permanece o mesmo. A partir de 1950, o consumo do líquido precioso, no mundo, triplicou. A cada mil litros utilizados pelo homem geram-se 10 mil litros de água poluída (ONU, 1993). No Brasil, mais de 90% dos esgotos domésticos e cerca de 70% dos efluentes industriais não tratados são lançados nos corpos d’água.

O País produz diariamente em torno de 230 mil toneladas por dia de lixo domiciliar urbano. Cerca de 60%, ou 140 mil toneladas, é lixo orgânico que, se transformado em composto, traria enormes benefícios à economia e à população, que teria menos adubos químicos nos seus alimentos, necessitaria de menos área para aterros sanitários, geraria trabalho e renda e aproveitaria todo o metano produzido como fonte de energia. Gasta-se dinheiro para enterrar dinheiro. Porém, quase todo esse “insumo” (97%) vira aterro. Pior, na maior parte dos casos, a céu aberto e sem preocupação alguma com as pessoas que sobrevivem dele, com o meio ambiente e principalmente com o aqüífero subterrâneo que é fatalmente contaminado pelo chorume da decomposição não controlada desse lixo – 72% dos municípios de São Paulo são total ou parcialmente abastecidos por essas águas.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, conduzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2000, apenas 33% dos 5.475 municípios coletam 100% dos resíduos domiciliares gerados nas residências urbanas de seus territórios. De acordo com o mesmo estudo, são coletadas diariamente, em todo o País, 228.413 toneladas, sendo 11.067,1 na Região Norte, 41.557,8 na Nordeste, 141.616,8 na Sudeste, 19.874,8 na Sul e 14.296,5 na Centro-Oeste. Desse total, cerca de 20% são dispostos de maneira inadequada em vazadouros a céu aberto, aproximadamente 3% são enviados para unidades de compostagem e a incineração é o destino de quase 0,5%. Para os aterros vão em torno de 73%.

A Agenda 21, um dos compromissos firmados na ECO 92, propõe que o lixo seja tratado, tendo em vista três erres: reduzir a produção, reutilizar e reciclar. É hora de começarmos a agir ou deixaremos uma triste herança a nossos filhos e netos.

 

João Carlos Pasqualini
É diretor da Delegacia Sindical do SEESP no ABC

 

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