Editorial

A auto-suficiência e o futuro

 

O Brasil comemorou oficialmente no dia 21 de abril, com a inauguração da Plataforma P 50 da Petrobras, sua auto-suficiência em petróleo. Com o reforço potencial de 180 mil barris diários, a produção nacional atingirá os 1,92 milhão de barris, superando o consumo interno de 1,8 milhão. Independentemente de qual partido está no poder ao se atingir tal marca, esse é seguramente um feito a ser comemorado pelos brasileiros, por diversos motivos. Em primeiro lugar, reduz-se obviamente a vulnerabilidade externa do País no que diz respeito à commodity mais estratégica da atualidade, quando essa atinge patamares de preços altíssimos.

Não por acaso, o petróleo tem sido responsável por crises econômicas que afetam diversas nações do mundo e até por guerras, como a atual invasão ao Iraque pelos Estados Unidos, feita sob a falsa alegação de possuir o país armas de destruição em massa.

Muito embora a auto-suficiência numérica não torne o Brasil independente do mercado internacional – o País continuará a importar petróleo leve e os preços ao consumidor não serão reduzidos –, esse é seguramente um passo em direção à soberania nacional.

Além disso, alcançar a auto-suficiência, que nos garantirá saldo positivo na balança comercial do produto, mostra o acerto de uma aposta ousada feita há mais de 50 anos. Após quase duas décadas de políticas neoliberais e defesa do Estado mínimo, a Petrobras segue sendo o símbolo da potencialidade de realização e sucesso do Brasil. Não tivesse sido criada a empresa, estaríamos hoje em maus lençóis. É demonstração cabal do erro – ou má-fé – que permeia o discurso segundo o qual o Estado é ineficiente e as atividades econômicas devem ser deixadas à iniciativa privada.

Ações e investimentos estratégicos devem ser feitos pelo País a bem do interesse de seu povo. Tal esforço serve, como se sabe, para alavancar as inversões do setor privado, que por si só não promove nem desenvolvimento, nem inclusão social. Isso é tarefa para o Estado, como demonstra a Petrobras.

Dado a se lamentar na comemoração desse sucesso é o fato inegável de a auto-suficiência ter sido alcançada agora, e não em alguns anos, devido ao crescimento pífio da economia brasileira. Outro importante ponto a ser observado nesse momento, quando o País precisa desesperadamente de um plano de desenvolvimento nacional.

A essa questão estão voltadas as atenções dos engenheiros brasileiros, que se preparam para o VI Conse (Congresso Nacional dos Engenheiros), a ser realizado em setembro, em São Paulo, sob o mote “Cresce Brasil – Mais engenharia e desenvolvimento”. Numa série de seminários – o último deles realizado em Campinas, sobre “Ciência, tecnologia, engenharia e inovação” – estão sendo debatidos os temas considerados fundamentais para que o País e sua população tenham de fato um futuro.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

 

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