Mercado

Nova CBO atualiza atividade de engenheiro

Soraya Misleh

 

As principais transformações ocorridas na profissão nas últimas décadas foram resultado da evolução tecnológica no País. Conseqüentemente, verificou-se no mercado de trabalho a necessidade de engenheiros com formação diferenciada. Um exemplo são os mecatrônicos, que unem conhecimento em eletrônica, computação e mecânica e hoje são imprescindíveis principalmente nas indústrias, devido ao alto grau de automação. Todavia, inexistiam oficialmente, porque não constavam na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações).

Portanto, corriam o risco de não ser incluídos em políticas como a de intermediação de mão-de-obra. Com a nova versão do documento normalizador das ocupações no mercado de trabalho, concluída em 2002 e apresentada ao público neste ano, problemas como esse foram sanados. Esses profissionais foram inseridos na CBO, assim como os engenheiros de computação, conforme a pesquisadora Daisy Maria Xavier de Abreu, do Cedeplar-UFMG (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais), instituição responsável pela classificação de boa parte das profissões da área.

As mudanças significativas no mercado de trabalho culminaram não apenas com o surgimento de algumas ocupações, mas também com o desaparecimento de outras. A nova CBO validou isso. Entre as que deixaram de existir está a do engenheiro de vôo. As alterações abrangem ainda o reagrupamento de famílias ocupacionais por modalidades e também de acordo com as suas afinidades e incluem a descrição do que os profissionais de um mesmo grupo podem fazer.

Referência – Na visão de Abreu, a classificação constata a heterogeneidade do mercado de trabalho brasileiro. Desenvolvido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em parceria com a Unicamp (Universidade de Campinas), Cedeplar-UFMG, Fipe-USP (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo) e Senai (Serviço Nacional da Indústria), o documento reúne 596 grupos de ocupações e possibilitou a descoberta de 1.075 novos ofícios. Disponível para consulta no site do Ministério (www.mtecbo.gov.br), substitui a antiga CBO, que datava de 1994 e foi revogada pela Portaria nº 397/02. Essa, de acordo com a professora Liliana Petrilli Segnini, coordenadora da equipe da Unicamp, estava desatualizada e havia sido elaborada segundo metodologias que não possibilitaram aos profissionais da área serem ouvidos, diferentemente da atual.

O referencial é importante não só à elaboração de políticas de intermediação de mão-de-obra, mas também de estatísticas administrativas e censitárias sobre emprego e mercado de trabalho e análise de questões relativas à saúde ocupacional. Tais vantagens estão entre as enumeradas por Segnini. Abreu complementa: a CBO serve de referencial a planos de cargos e salários, estudos ocupacionais, tipologia de vagas oferecidas pelas empresas, identificação correta do candidato ao seguro-desemprego, pesquisas de mão-de-obra e definições tecnológicas. “É um sistema de consulta e os pesquisadores e formuladores de políticas vêm beber dessa fonte. Ajuda muito a acertar a pontaria das políticas de emprego e adequar o processo de qualificação profissional às demandas do mercado. É a porta de entrada dos jovens e a possibilidade dos que perderam um emprego que não mais existe se prepararem para novas funções e ocupações”, destaca Remígio Todeschini, secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho.

No entanto, Segnini chama a atenção: “O inventário de atividades na CBO é limitado para a elaboração de currículos e cursos de formação profissional, pois nasce de descrições de postos de trabalho e não de discussões mais abrangentes sobre a multiplicidade de conteúdos técnicos e humanistas necessários para formar novos trabalhadores. Pode ser um dos instrumentos considerado pelos profissionais da educação implicados nesses projetos, mas não o único.”

A conjuntura atual, em que os índices de desemprego no País são alarmantes, interferiu no resultado. “Nesse contexto, quem está ocupado tende a vivenciar a intensificação do trabalho. O mundo está cindido entre os que não fazem nada e os que fazem muito mais. Essa é uma dimensão que a CBO traz consigo, o que de forma nenhuma a invalida. Mas precisa ser utilizada com a devida cautela, não ser imposta como uma camisa-de-força, o que, aliás, não é.”

A professora alerta que a classificação seria “uma referência na intermediação de mão-de-obra”. Porém, lembra que “nos atermos só à capacitação, sem a criação de postos de trabalho, mantém a situação de desemprego entre pessoas altamente qualificadas, uma das tônicas do momento”.

 

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