Segurança

Instituição da ITV no Brasil avança 
com a ajuda do SEESP e FNE

Soraya Misleh

Em discussão há seis anos no Congresso Nacional, a implementação da ITV (Inspeção Técnica Veicular) – regulamentada pelo Código de Trânsito Brasileiro em 1997 – deve finalmente avançar. A promessa é de que seja instituída até o final deste ano. A participação do SEESP e da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) em audiência pública na Câmara dos Deputados, no dia 5 de maio, foi decisiva para que mais um passo fosse dado nessa direção.

Representando as duas entidades na ocasião, o diretor Flávio José Albergaria de Oliveira Brízida explicou aos parlamentares integrantes da Comissão Especial de ITV porque ambas defendem a implantação da inspeção no Brasil com urgência. A preleção foi pontuada de dados que não deixaram dúvidas quanto à necessidade premente de se aprovar o projeto de lei nº 5.979/01, que institui as vistorias de segurança e ambiental nos veículos que compõem a frota nacional – em torno de 36 milhões, segundo dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Assim, após a realização dessa audiência, que contou também com a presença do diretor executivo da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, Alfredo Perez da Silva, os parlamentares decidiram encerrar a etapa de consultas públicas e concluir o relatório sobre o tema – tarefa a cargo de José Mentor (PT-SP) – uma semana depois. A próxima fase é votá-lo na Comissão Especial e encaminhar o projeto de lei ao plenário da Câmara para deliberação ainda neste semestre.

Aproveitando o espaço aberto na reunião comandada pelo presidente da Comissão, deputado Humberto Michiles (PL-AM), o diretor do SEESP e da FNE ressaltou que essas entidades lutam pela implantação da ITV há mais de dez anos. Com o objetivo de contribuir para os debates acerca da questão, o Sindicato, inclusive, editou material sobre o assunto em 1996, antes mesmo da conclusão das normas técnicas ABNT, publicadas dois anos depois. Em 1999, enviou relatório ao Denatran – elaborado pelo então Comitê de ITV da entidade, coordenado pelo engenheiro Jurij Solski, diretor da Delegacia do Sindicato no Grande ABC – intitulado “Aspectos relevantes para a regulamentação do programa de inspeção técnica de veículos no Brasil”, em que defende a inspeção de segurança e ambiental unificada, realizada simultaneamente em todo o território nacional, sob a responsabilidade dos engenheiros. E no final do ano passado, o Grupo de Transporte e Trânsito dessa entidade realizou o seminário “Inspeção Técnica Veicular”.

 

Vantagens Apontadas exaustivamente pelas entidades, as vantagens da implantação unificada foram reiteradas por Brízida durante a audiência pública. Entre os benefícios estão a redução dos congestionamentos e das emissões de poluentes em 30% nas regiões metropolitanas, além da diminuição no número de acidentes de trânsito, que hoje fazem 400 mil vítimas por ano, sendo 50 mil fatais. Segundo explanou o diretor, a estimativa é que com a ITV haja menos 58 mil feridos e 5.900 mortos anualmente. Tal redução teria considerável impacto econômico, uma vez que os custos decorrentes dessas ocorrências no Brasil urbano estão estimados em R$ 5,3 bilhões – dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de abril de 2003.

Além disso, sua apresentação incluiu outras vantagens, como ativação da economia na cadeia automotiva, prolongamento da vida útil dos veículos e valorização na comercialização de usados, criação de uma cultura de manutenção preventiva, inibição da venda de peças de baixa qualidade e aumento da segurança no trânsito, auxílio no balizamento do programa de renovação da frota de veículos, diminuição do roubo e clonagem de veículos e do consumo nacional de combustível em 5%, resultando em economia anual de R$ 2,5 bilhões. E, principalmente, a geração de mais de 150 mil novos postos de trabalho diretos e indiretos, não só aos engenheiros, mas aos técnicos e jovens que receberiam treinamento e obteriam registro no Crea para efetivação das inspeções. Os benefícios da ITV abrangem ainda a redução de gastos hospitalares e indenizações com as vítimas de acidentes, desperdícios materiais e de combustíveis, que representará 0,74% do PIB nacional, ou seja, R$ 8,1 bilhões/ano.

Todo esse rol demonstra que o custo pago pelo serviço, que seria anual e realizado quando do licenciamento – a partir do terceiro no caso dos veículos novos –, compensará. Para não penalizar a população, o objetivo é que a vistoria dos itens seja gradual, começando por freio. A sociedade já está consciente de suas vantagens há tempos, como comprovou pesquisa do Datafolha realizada em São Paulo em meados dos anos 90 e lembrada por Brízida durante a audiência pública. Essa indicou que 75% dos entrevistados eram favoráveis à adoção do programa, a cuja implantação não há restrições técnicas. Para sair da gaveta, o projeto depende apenas de vontade política.

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