Editorial

Qual reforma – e para quê?

No mês de março, foi divulgado o relatório da Comissão de Sistematização do Fórum Nacional do Trabalho, contendo a proposta de mudanças para a legislação sindical. A proposição, que continua sob discussão – conforme garantiu o secretário de Relações do Trabalho, Osvaldo Bargas, em visita ao SEESP, contém diversos pontos no mínimo duvidosos.

Entre eles, a idéia de sindicato por ramo econômico,  conceito que, sem o aprimoramento devido, exclui entidades representativas de profissões, como engenheiros, advogados e administradores e que, por sua natureza, não são passíveis de ser dissolvidas em outras categorias. Além disso, para eliminar os chamados “sindicatos de cartório”, sem atuação real, seria aferida a representatividade das entidades, numa relação entre empregados na base e associados. Imaginando-se que isso fosse feito de forma perfeita, ainda resta o problema referente ao que se denominou “representatividade derivada”, o que permitirá a um sindicato sem associados existir desde  que esteja ligado a uma central que detenha a tal representatividade. Para completar, acabam os dissídios coletivos como são conhecidos hoje e a solução de conflitos será feita por arbitragem – no mínimo isso é temerário, considerando-se a relação desigual entre capital e trabalho.

Previsivelmente, esse conjunto de novidades tem sido objeto de numerosas e acaloradas discussões. Uma delas aconteceu no auditório do Sindicato dos Engenheiros, nos dias 29  e 30 de março, num belíssimo evento promovido pelo Instituto Maurício Grabois, que contou com a participação de dirigentes e especialistas.

No debate, algumas questões mereceram destaque. A primeira, o risco de, ao final, enfraquecer-se o movimento sindical que ficará fragilizado quando chegar o momento de se discutir a reforma da legislação trabalhista. Outra foi justamente a falta de oportunidade de se despender tempo e energia em uma agenda  não- prioritária, quando o País enfrenta uma das piores crises de sua história. Desde o início do Governo Lula, o desemprego subiu assustadoramente, as taxas de juros, que asfixiam a produção, continuam nas alturas e a subordinação a exigências do Fundo Monetário Internacional segue minando recursos de áreas essenciais.  Assim, o objetivo maior de todos nós deveria ser fazer valer ao povo brasileiro a conquista  que tirou das urnas em 2002.

É oportuno lembrar que em 31 de março último (ou, mais precisamente, em 1º de abril) completaram-se 40 anos do golpe de Estado que mergulhou o País numa nefasta ditadura que se prolongaria por 21 anos. Passadas já duas décadas da redemocratização, o Brasil ainda sofre os efeitos do período de exceção, que deixaram marcas indeléveis na nossa sociedade. Contudo, superada essa triste fase de nossa história, dedicamo-nos  a reconstruir nossos movimentos sociais e instituições. De batalha em batalha, chegamos até a eleição de um governo popular, cujo chefe é não só o maior líder sindical do País, como um dos ícones da luta contra o regime militar.

Seria imperdoável que tamanho emblema de esperança se confundisse com a continuidade do sofrimento dessa gente que, livre do totalitarismo político, ainda “anda  olhando pro chão”, oprimida pela ditadura econômica.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

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