Cerveja, 5.500 anos de história

Berço da nossa civilização, foi também na Mesopotâmia que se fabricou a primeira cerveja da história, há 5.500 anos, por obra dos sumérios. Exímios mestres cervejeiros também foram assírios e babilônios. Os antigos egípcios a preparavam com uma mistura de água, pão semicozido, malte de cevada e suco de tâmaras ou tamarindos. Na Alemanha, o mais antigo documento sobre produção da bebida data de 800 a.C.

Já no início da Idade Média, os mosteiros passaram a se dedicar à atividade e a cerveja adquiriu o sabor que a caracteriza até hoje. Desde então, o lúpulo passou a ser usado popularmente para dar amargor e aroma. Por sinal, o líquido teve papel fundamental na vida religiosa. Em rigorosa obediência ao jejum, durante a quaresma, os padres se alimentavam exclusivamente de cerveja. No ano 1040, os beneditinos de Weihenstephan, na Suíça, foram os primeiros a produzir em larga escala. Essa é a cervejaria mais antiga do mundo, conhecida hoje como Centro de Ensino da Tecnologia de Cervejaria da Universidade de Técnica de Munique. No continente americano, há também registros de que os incas faziam a “chicha” e o “sora”, obtidas a partir da fermentação do milho.

No Brasil, conta o engenheiro químico e mestre cervejeiro Egon Carlos Tschope, autor do livro “Microcervejarias e Cervejarias: a história, a arte e a tecnologia”, essa arte teve início em1836, com a marca Barbante. Como a fabricação, ainda rudimentar, produzia muito gás carbônico, o barbante impedia que a rolha saltasse da garrafa. Só em 1853, surgiu a primeira cervejaria, na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Era a Companhia Cervejaria Bohemia, que colocou no mercado as marcas Viena, Quitandinha, Petrópolis, Bock Malte e Bola Preta. Nesses 150 anos,  foram criadas e desapareceram inúmeras marcas, que se degladiam, tendo como arma a publicidade, para conquistar o consumidor. Embora o brasileiro não seja um dos maiores do mundo – cada um toma 50 litros por ano, contra os 150 litros da Alemanha e os 170 dos Estados Unidos – a bebida tem a preferência nacional.


Tecnologia
O segredo da boa cerveja, afirma Tschope, que representa a quarta geração numa linhagem de  mestres do ofício, é guardado a sete chaves por quem o conhece. No entanto, a arte milenar hoje conta com tecnologia e profissionais especializados. Ele próprio é um exemplo. Graduado em Engenharia Química pela USP (1980), é mestre em Cervejas e Maltes pela Academia Doemens de Munique (1981 e 1983).

Segundo ele, a técnica de produção utilizada é a mesma para 99% das cervejas do mundo. O processo envolve moagem, mosturação, clarificação, fervura, decantação hidrodinâmica, resfriamento, arejamento, dosagem de fermento, maturação, filtração, polimento e envasamento. A diferença fica por conta do nível de automação das fábricas. De acordo com Tschope, a grande distinção entre o antigo processo e o atual são os materiais utilizados nos equipamentos. No cozimento, usavam-se tanques de ferro e cantinas de fermentação e tanques de maturação de madeira. “Com a modernização, passaram a ser de concreto, depois de concreto com breu (resina que evitava porosidade), concreto com tintas especiais à base de epóxi, alumínio, ferro e aço inox”, explica.

Os ingredientes básicos são os mesmos há séculos: água, malte de cevada, fermento e lúpulo. A única novidade é que em muitos países, inclusive no Brasil, é permitido e, às vezes,  obrigatório o uso de substitutos de parte do amido do malte por outros, como arroz ou milho.

Com essa receita, são feitos todos os cinco tipos oficialmente catalogados. São  Münchner (cor escura), Dortmunder (cor clara com aroma maltoso), Wiener (cor amarela escura), Pilsener (cor clara com paladar mais amargo) e alta fermentação. Pela legislação brasileira, podem ser denominadas de Pilsen, Export, Lager, Dortmunder, Müchen, Bock, Malzbier, Ale, Stout, Porter Weissbier, Alt, além das denominações internacionalmente reconhecidas que vierem a ser criadas, observadas as características do produto original.  

Negócio popular

Após a primeira cervejaria no Brasil, criada em 1853, o mercado vive em constante expansão. Datam da segunda metade do século XIX as cervejas Gabel, Guarda Velha, Logos, Vesosso, Stampa, Olinda, Leal e Rosa, que desapareceram rapidamente devido às condições precárias de produção. No ano de 1885, nascia a Antarctica Paulista. Três anos depois, foi inaugurada a Manufatura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia, pelo suíço Joseph Villiger — foi o lançamento oficial da Brahma Chopp. Em 1891, foi assinado decreto oficializando a Sociedade Anônima da Antarctica, pelo presidente Marechal Deodoro. No ano de 1899, Villiger adquiriu a cerveja Bavária e registrou a marca Franziskaner – Bräu, conhecida como Franciscana, e passou a produzi-la na Brahma. No mesmo ano, a cerveja Caracu surgia na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo.  No início do século XX, em 1904, a Antarctica adquiria o controle acionário da cerveja Bavária e nascia a Companhia Cervejaria Brahma. Em 1961, a Bohemia foi comprada pela Companhia Antarctica e hoje é produzida pela AmBev (Companhia de Bebidas das Américas), criada em 1999 pela fusão entre Brahma e Antarctica e hoje detentora de 70% do mercado. A primeira cerveja em lata de folha de flandres foi lançada em 1971 pela Skol, a mesma marca que 18 anos depois foi pioneira na produção dessa bebida em lata de alumínio no País.

Hoje, existem cerca de 120 marcas fabricadas por 150 unidades de cervejarias, entre grandes, médias, pequenas e micros. Destacam-se entre elas a AmBev, a Schincariol, ambas 100% nacionais, e a Kaiser, administrada por uma empresa canadense. Depois vêm as marcas locais em vários estados.

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