Venezuela acelerada

Após enfrentar, em um ano, uma tentativa de golpe de Estado e um locaute empresarial que paralisou o país por dois meses, o presidente Hugo Chávez retoma a ofensiva política e se fortalece, em meio a uma situação internacional extremamente adversa.

A popularidade governamental, medida pelos institutos de pesquisa controlados pelos meios de comunicação privados, conta mais de 40% de aprovação. O locaute de dois meses, no início do ano, praticamente estancou a produção da PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.), representante de 70% da pauta de exportações do país. Enfrentando um desabastecimento generalizado e uma queda vertiginosa do PIB – o FMI fala em 15%, número contestado por Chávez – a administração federal conseguiu dividir o campo adversário e retomar o controle da empresa. 

Para marcar o primeiro aniversário do golpe e da volta de Chávez ao poder, uma série de entidades promoveu,  com apoio governamental, o chamado Encontro Mundial de Solidariedade à Revolução Bolivariana. O evento agrupou cerca de 15 mil pessoas, incluindo mais de 500 estrangeiros – de 57 países, entre os dias 10 e 13 de abril. Realizado no complexo hoteleiro do Parque Central – imenso conjunto de concreto interligado por rampas, passarelas e mezaninos, englobando auditórios, teatros, hotéis,  shopping center e restaurantes – o encontro não teve como ser ignorado pela mídia, totalmente hostil ao governo (mais informações podem ser encontradas em www.forobolivariano.org.ve). Dois fatos talvez expliquem essa menção que, em outra situação, não ocorreria.

O primeiro deles é a presença de diversas personalidades internacionais do mundo político e intelectual, como Evo Morales, Daniel Ortega, Ignácio Ramonet, Bernard Cassen, Tariq Ali, Perry Anderson, István Meszáros, Armand Mattelart, Jean Pierre Chevenmant, representantes de organizações como os zapatistas, Mães da Praça de Maio, MST, entre outros (convidados, o PT e a CUT sequer deram resposta). O segundo é o fracasso da manifestação marcada pela oposição na noite de 11 de abril, data do golpe, no Parque Cristal, luxuosa área empresarial, na parte leste da cidade. Tendo, em outras ocasiões, juntado um público equivalente ao comício Chavista, o leque de forças que tentou derrubar o governo conseguiu reunir apenas 4 ou 5 mil pessoas, exaustivamente convocadas pelas TVs e jornais.

Na pauta de exposições e debates, abertos ao público, não faltaram temas como democracia popular, meios de comunicação, economia, petróleo, reforma agrária, globalização, direitos humanos, minorias, cultura, Alca etc.

Em um gigantesco comício, feito na Avenida Simon Bolívar, no centro de Caracas, na noite de 13 de abril, Chávez definiu alguns de seus projetos imediatos. Anunciou a efetivação de um encontro continental de comunidades indígenas, a ser realizado em julho. “Depois, chamaremos os sem-terra de diversos países. E as mulheres, os jovens, os trabalhadores.  A Venezuela deve se tornar um palco mundial de debate, aberto a todos os que lutam contra a opressão da economia de mercado”, afirmou.

Assim é Chávez, que recolocou a Venezuela no mapa político mundial.  

Gilberto Maringoni, de Caracas

Texto anterior
Próximo texto

JE 209