Ensino de engenharia nasce voltado ao progresso

A história do ensino de engenharia em São Paulo está ligada à criação, em 1893,  da Escola Politécnica, incorporada à Universidade de São Paulo em 1934. Pioneira no Estado, a Poli nasceu por iniciativa do engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza, seu primeiro diretor. “Tendo estudado na Alemanha, suas idéias eram muito avançadas naquele tempo”, conta o atual vice-diretor da escola, professor Ivan Gilberto Sandoval Falleiros.

Segundo ele, Paula Souza pretendia formar profissionais “não para cuidar de rotinas, mas para dirigir e projetar coisas novas, para puxar o progresso e pensar à frente do conhecimento corrente”. Essa proposta implicava uma novidade que era a ênfase à  experimentação. De acordo com Falleiros, essa preocupação era visível pelas plantas dos projetos de edifícios da época, em que havia grande reserva de área para os laboratórios. “Isso talvez seja a marca que distinga a escola no seu começo”, pondera.

Do ponto de vista do conteúdo, não houve tantas mudanças nestes 110 anos, avalia Falleiros. “Não era muito diferente do que é hoje. Havia uma formação básica em exatas, no nível da época, claro, e depois o treinamento voltado à área de interesse profissional (então, Engenharia Civil, Industrial e Agrícola, além de Artes Mecânicas).” Para o vice-diretor, o grande diferencial nesse mais de  século de ensino da engenharia em São Paulo é  a evolução para um enfoque mais universal,que inclui humanidades no currículo e a preocupação com problemas socioambientais.  Além disso, lembra ele, “a formação técnica hoje também é muito mais ampla, porque o conhecimento duplica-se a cada dez anos e isso precisa estar codificado”. O que não mudou, garante, “foi a ênfase na formação de alta competência”.

Recordações de trabalho duro e disciplina

Embora não seja contemporâneo dos primórdios do ensino de engenharia, Ruy de Salles Penteado, graduado engenheiro mecânico eletricista em 1951, teve uma experiência bastante diferente da dos atuais alunos da Escola Politécnica. Ele ingressou em 1947 em uma das 80 vagas para Engenharia, após passar pelo exame de habilitação, o vestibular da época.  Uma lembrança vívida para ele é a rígida disciplina. “Nós íamos à aula de terno e gravata. Quando o professor entrava, nós nos levantávamos e só nos sentávamos após sua autorização. Depois que ele chegava, ninguém mais entrava na sala”, testemunha. “Não estou dizendo que isso é certo ou errado, mas o fato é que nós aprendemos e muitos dos meus colegas despontaram em diversas áreas”, pondera.

A cola era prevenida por bedéis que circulavam pela sala durante as provas, “embora poucos se aventurassem a isso”, afirma Penteado. Em alguns casos, havia pactos de honra contra o artifício, como o do professor que livrava da fiscalização durante os testes aqueles que se comprometessem a não trapacear. E, garante o engenheiro, todos cumpriam o acordo. “Acredito que havia mais responsabilidade naquela época. Hoje, há muita coisa que atrapalha a formação da nossa juventude”, lamenta.

Além do rigor formal, cursar a Poli também demandava trabalho duro. “Nós tínhamos aulas todos os dias, pela manhã e à tarde, ocasionalmente havia uma folga de um período.” Para completar a agenda, as tardes de sábado passaram a ser ocupadas com aulas práticas ministradas no Senai (Serviço Nacional da Indústria). “Foi um curso puxado, os professores eram muito exigentes”, garante.

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