Veículos blindados: segurança extra ou perigo desconhecido?

Nas grandes cidades do Brasil, assaltos com armas de fogo contra motoristas geraram um novo tipo de negócio: a blindagem de automóveis. Hoje há dezenas de empresas nesse segmento e o preço para o serviço adequado ao País gira em torno de R$ 40.000,00, no mínimo.

Realmente, é um grande negócio para quem vende a blindagem. Mas será que é um bom negócio para quem a compra? Vamos fazer uma pequena análise.

Em primeiro lugar, há vários níveis de blindagem, definidos em duas normas básicas: a americana e a européia. Para os ataques em ruas brasileiras, é necessária uma blindagem conforme o nível três, pelo menos. Essa “segura” projéteis lançados pela maioria das armas ditas hand-guns, ou seja, revólveres e pistolas. Já algumas, como a Magnum 44, lançam balas que exigem uma blindagem de nível quatro. O mesmo ocorre com certos projéteis que, apesar de próprios de uma arma mais leve, podem ser preparados com uma carga de pólvora maior. As blindagens de nível cinco para cima protegem contra armas mais poderosas: rifles, fuzis, metralhadoras e até bazucas. Evidentemente, um assaltante de rua não carrega esse tipo de arma: assim, uma blindagem de nível três é suficiente. Além disso, quanto maior o nível, mais cara é a transformação do automóvel e mais pesado ele fica. Com o três, praticamente não é necessário alterar suas características de freio e suspensão.

Quanto aos materiais, existem três tipos: sanduíche de vidros e plásticos, aço balístico e mantas (como as usadas em coletes à prova de balas). Definir qual será usado depende da eficiência exigida.

Mas as empresas blindadoras sabem aplicar esses materiais com o nível de tecnologia e de qualidade que um automóvel requer? Elas contam com pessoal qualificado e têm os equipamentos e instalações necessários para tais trabalhos? O automóvel, após a blindagem, vai se comportar da mesma maneira que antes, em termos de proteção contra a corrosão, impermeabilidade e penetração de pó e gases, durabilidade e baixo nível de ruídos?

Após a blindagem, o veículo não é mais o mesmo e não pode mais ser usado como um automóvel comum. A empresa que o transformou ensina o proprietário a utilizá-lo convenientemente e o orienta sobre como se comportar caso seja atacado? Explica que os vidros não podem mais ser limpos com produtos químicos comuns? Informa sobre como o veículo deve ser reparado em caso de colisão? E, por último, o automóvel realmente foi blindado com o nível de proteção adquirido? A resposta a essas perguntas geralmente é não!

Os stands de tiro apresentados ao cliente quando esse vai adquirir a blindagem são cartões de visita enganosos: lá lhe são mostrados vidros e peças de aço ou manta que sofreram impactos balísticos. Isso não basta. O automóvel é cheio de vãos. Se um projétil for direcionado a um desses, ele pode passar para dentro e atingir algum ocupante (por exemplo, entre a porta e a carroçaria). Somente um teste balístico evitaria isso. E, para tal, são necessários vários equipamentos e o concurso de institutos de tiro reconhecidos internacionalmente.

O que foi dito aqui acerca das empresas de blindagem tem raríssimas exceções. Por isso, ao pensar em blindar seu carro, pergunte muito, visite as instalações da companhia, de preferência acompanhado de alguém que conheça o assunto, de forma a ser atendido por uma empresa realmente séria.


Eng. Sérgio Scuotto
Presidente da Delegacia Sindical 
do SEESP no Grande ABC

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