Ideologia e pragmatismo

Os Estados Unidos vivem hoje um dos momentos mais difíceis de sua história. Depois do 11 de setembro de 2001, a maior potência mundial encontra-se prostrada como um gigante Golias que recebeu uma pedrada desferida por um tal Bin Laden, causando pânico não só ao povo americano, como ao resto do globo. 

O mundo de George W. Bush despencou com as Torres Gêmeas e com questões ideológicas, religiosas e pragmáticas, envolvendo Afeganistão, Índia e Paquistão, Palestina e Israel, Coréia do Norte e Coréia do Sul, Rússia e Tchetchênia, Iraque, Arábia Saudita e Kuwait, Brasil e Argentina, citando os mais importantes.

Depois de destruir as cavernas do Afeganistão sem ter encontrado os líderes terroristas do Taleban e esfriar os ânimos bélicos de Índia e Paquistão, a bola da vez passou a ser um velho rival do Bush pai, ou seja, Saddam Hussein. O presidente dos EUA quer destroná-lo por via militar, pois a diplomacia parece não combinar com o perfil de Bush filho. França, China e Rússia, membros do Conselho de Segurança da ONU, com poder de veto, tentam segurar a fera, procurando preservar outras questões além das ideológicas. 

A outra grande dor de cabeça americana é o conflito israelo-palestino, que está colocando em xeque a própria política interna de Israel face à opressão ao povo  palestino. O governo americano, nesse caso, está um tanto desconfortável, pois historicamente tem sido um defensor ferrenho dos interesses de Israel, com quem tem relações umbilicais. 

A lua-de-mel que os EUA viviam com a Coréia do Norte foi encerrada com a declaração de que o país é possuidor de grande arsenal bélico nuclear e que não pretende abandonar o seu programa de enriquecimento de urânio, material radiativo usado na fabricação das bombas. Com isso, está a um passo de se transformar em exportador de mísseis balísticos. Tal fato e a insistência em manter o seu projeto da Usina Nuclear de Yongbyon causam arrepios aos EUA, que precisam da Coréia do Sul para poder ver de perto o que acontece na Coréia do Norte.

O quadro pintado até aqui, o pior dos mundos, circunscreve duas visões: a de Osama Bin Laden, que dividiu o seu mundo em “fiéis” e “infiéis”, e a de Bush, que classifica as nações entre “do bem” e “do mal”, conforme o grau de alinhamento aos Estados Unidos.

Longe das disputas bélicas, está a América Latina, onde os Estados Unidos tentam ampliar ainda mais sua hegemonia econômica, sendo a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) o principal instrumento. Com a vitória do Partido Republicano nas eleições legislativas de 5 de novembro, Bush sai fortalecido, seja para a guerra pelo petróleo no Oriente Médio ou por porções maiores do mercado no continente americano.

Cabe às demais 33 nações, incluindo Brasil com um novo presidente, enfrentarem esse processo de modo a defender seus interesses com o mesmo afinco. Os países periféricos, que tanto teimam em reproduzir usos e costumes dos Estados Unidos, deveriam aproveitar a situação para adotar o mais típico exemplo do American way of life: seu pragmatismo, que está acima de qualquer ideologia ou fundamentalismo. Só vale a pena um acordo comercial que traga ganhos aos países e é com essa disposição que a proposta deve ser encarada.

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

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JE 201