ENGENHEIRO FAZ PARTE DA HISTÓRIA 
DA BOEMIA PAULISTANA

No início dos anos 80, Ricardo Altman teve que escolher entre o curso de Engenharia Eletrônica na Fesp (Faculdade de Engenharia São Paulo) e os negócios que abrira e iam de vento em popa. Apesar do apreço pela carreira, o empreendimento ganhou a parada e o conhecimento adquirido na escola serviu de suporte para o gerenciamento dos diversos bares que se tornaram referências na noite paulistana.

Atualmente, ele comanda o Filial, que em 10 de abril comemora um ano de existência e de sucesso. Localizado no bairro da Vila Madalena, o bar garante chope e serviço de primeira, cardápio com receitas mineiras e caseiras e uma carta de cachaças como atrativo adicional. Nas mesas, músicos, cantores, compositores e outros artistas misturam-se ao público em geral para completar o charme.

A Engenharia entra em cena para garantir o conforto da clientela cativa e crescente, como no caso da acústica do teto, feita com jateamento de celulose, que permite o bate-papo mais tranqüilo, sem a comum gritaria. O ar-condicionado é complementado por uma cortina de ar na entrada, impedindo a interferência na temperatura ambiente ainda que as portas fiquem abertas. Para garantir a qualidade do item mais importante, uma chopeira de gelo de 1945 e uma tubulação adicional com mais um resfriador. O equipamento, que demanda conhecimento para ser operado, só foi instalado pela Brahma após análise do currículo do engenheiro.


ALTA CULTURA

Na ficha de Altman, contudo, consta mais que sucesso empresarial e saber técnico. Em 1980, sob sua direção e dos irmãos Elton e Ronaldo, nasceram em São Paulo dois dos principais bares voltados à música popular brasileira: o Clube do Choro e o Vou Vivendo. O primeiro deu origem, em 1984, à Rua do Choro, na João Moura, no bairro de Pinheiros, onde todos os domingos, das 11 às 19 horas, a população podia assistir gratuitamente a apresentações de chorinho. Quando a casa, por onde passou por exemplo Paulinho da Viola, fechou em 1992, a nova iniciativa foi o Gargalhada Bar, com a mesma proposta musical.

Com nome inspirado na música de Pixinguinha, o Vou Vivendo esbanjou criatividade. Elifas Andreato assinava a decoração, marcada pelo céu estrelado e um boneco em tamanho original do mestre do choro, que tinha mesa cativa no bar, além da lua que enfeitava a fachada na Rua Pedroso de Moraes. O espaço era freqüentado por artistas famosos e por novos talentos da MPB, como Chico César, um dos vários lançados no palco do Vou Vivendo.

O bar fechou as portas em 1997 por "desgaste natural", segundo Altman. "A proposta era fazer uma casa com grandes shows valorizando a MPB. Os custos eram muito altos, estava difícil trazer artistas, lutar contra a pobreza cultural que assola o País. A isso tudo somaram-se as crises sucessivas marcadas por oito planos econômicos." Apesar da tristeza, o Vou Vivendo despediu-se de São Paulo em grande estilo, com a casa cheia e apresentações de gente que fez história por lá, como Cristina Buarque. "Os jornais anunciaram o fechamento da maior casa de shows de MPB da cidade." E Altman consola os mais saudosos, que sofrem nesses tempos de axé, tigrões e tchuchucas: "O bar que temos hoje é a filial de algum desses lugares que ficaram no subconsciente das pessoas."

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