ÁGUA: O PROBLEMA É FALTA DE INVESTIMENTO 
E NÃO SÃO PEDRO

Neste mês, São Paulo volta a conviver com o racionamento de água. Após o anúncio do fim do rodízio na Capital, já é o segundo ano sucessivo que viveremos essa situação. Muito se tem falado sobre a incomum seca que estaria acarretando os problemas de esvaziamento dos reservatórios que abastecem a Capital. De fato, temos passado por um período de pouca chuva. Contudo, isso não ameaçaria o abastecimento da Capital se não estivéssemos já há alguns anos trabalhando acima dos limites de fornecimento desses mananciais. Na verdade, a oferta disponível na Capital é inferior à demanda já faz tempo. Mesmo se nos situássemos nas médias históricas de precipitação, ainda assim estaríamos enfrentando um processo lento de esvaziamento progressivo dos reservatórios.

Tal situação é inadmissível. É para evitar um processo como esse que os engenheiros recomendam planejamento e investimentos de longo prazo. Infelizmente, os dirigentes não têm atentado aos reclamos da categoria. Regularmente, os engenheiros da Sabesp vêm alertando os tomadores de decisão sobre a necessidade de investimentos para reduzir o consumo e aumentar a disponibilidade de água. Sempre frisamos a importância de se trazer mais água de novos mananciais. Também recomendamos operações voltadas à redução das perdas, reutilização da água e aproveitamento racional dos recursos disponíveis. Entre as possibilidades pouco exploradas, está o uso de águas subterrâneas, abundantes no aqüífero da Capital.

O que se fez nos últimos anos foi dedicar uma atenção imensa aos indicadores empresariais de curto prazo da Sabesp, mantendo um olho firme no mercado financeiro e gerando lucros significativos, cujos dividendos foram primariamente encaminhados ao tesouro do Estado para ajudar a cobrir o déficit público. Em lugar de enfatizar as operações de racionalização do uso da água, a Sabesp tem se dedicado nos últimos anos a demitir engenheiros e outros profissionais e eventualmente contratar colegas jovens e inexperientes para substituí-los, buscando diminuir o quadro funcional da empresa. Nada contra a contratação de jovens engenheiros. Apenas não é razoável esperar que substituam de imediato os quadros experientes.

Sabemos agora o porquê dos espetaculares resultados financeiros da empresa nos últimos anos. Trata-se de gestão imediatista, voltada à obtenção de resultados financeiros de curto prazo. É hora de voltar a pensar em planejamento e investimentos de médio e longo prazo. Também é hora de voltar a valorizar os quadros técnicos da empresa. São os únicos capazes de orientar e realizar os investimentos necessários. Sem seu concurso será impossível conduzir as operações de racionalização de uso da água, imprescindíveis enquanto se aguarda a solução definitiva da crise.

Eng. Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente

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