RÉQUIEM PARA O ENGENHEIRO 
MÁRIO COVAS

É com imenso pesar que registramos a morte do engenheiro Mário Covas. Político, Covas esteve na linha de frente da luta pela implantação de um regime democrático no País. Porém, outra face também merece destaque. Muitos, os não-engenheiros, espantam-se porque, além de grande político, nosso governador também revelava-se excelente administrador. Ignorância. Taylor, pioneiro da gestão, era engenheiro industrial. A administração de projetos foi invenção da Engenharia Aeroespacial. Os fundadores da Faculdade de Administração da USP foram professores da Escola Politécnica. Mário Covas destacou-se por administrar com seriedade, firmeza e clareza sobre o interesse do povo. Sua grandeza como gestor revela-se em ter sido um inovador na administração do Estado de São Paulo. Vivendo nesta época de grande avanço da informática, o engenheiro Mário Covas implantou o governo eletrônico em nosso Estado. Um realizador que não hesitava em inovar de modo visionário para melhor servir ao povo que o elegeu e sempre o estimou. Adeus governador, os que ficam sentirão a sua ausência.

CESP AMPLIA POTENCIAL DE CRESCIMENTO 
PARA SÃO PAULO

Foi só acontecer um soluço no mercado financeiro e ressurgiu a ladainha dos limites ao crescimento. Economistas liberais apressam-se em dizer que estamos nos aproximando perigosamente de uma situação de insolvência externa. Como se já não a estivéssemos vivendo: faz anos que não se registra superávit comercial. Insistem os liberais: mais que 4,5% não é possível. O fato é que eles têm razão! Não quanto ao número exato, sujeito a toda sorte de erro de estimativa e aos humores do mercado financeiro e da economia. Certamente, entretanto, em ambiente liberal, a economia tem um limite de crescimento acima do qual agravam-se os desequilíbrios, em particular relativos à chamada restrição externa.

Mas, atenção: em ambiente liberal, desde que não haja políticas ativas de investimentos públicos e regulamentação voltadas a ampliar os limites do crescimento. Óbvio, pensaria qualquer engenheiro, continuará a haver um limite. Ninguém sabe ao certo quanto, já que o Governo não se dedica a estudar o assunto. Mas basta lembrar o estudo recente da McKinsey sobre o potencial de aumento de produtividade da indústria brasileira para perceber que há espaço para maior crescimento.

Esse é o X da questão. Os liberais têm horror à atuação organizada e ao planejamento público, ao mesmo tempo que louvam a ação planejada dos grandes grupos privados. É usual as bolsas de valores premiarem as empresas com boas estratégias e punir os governos que intervêm na economia.

Veja-se a questão da privatização da Cesp. Volta-se a programar o leilão fracassado.

O ideário liberal funciona bem em mercados razoavelmente competitivos, sem caráter de necessidade fundamental e com baixo limiar de escala no investimento. A privatização da Cesp é uma medida liberal. Pena não ser consistente com as condições acima, nas quais esse ideário funciona. Como vem demonstrando a dificuldade de pôr de pé o programa de termoelétricas, o problema energético é a disposição ao risco das empresas investidoras e sua ganância. Os investidores querem garantia contra o risco cambial na importação de gás. Só?! É ridículo! Quem mais no Brasil tem garantias contra riscos cambiais e inflação? Pasmem! Os fornecedores de serviços de energia privatizados, que têm reajustes cavalares assegurados e publicados diariamente nos jornais.

A Cesp pública permitiria ao Governo do Estado ser um ator importante nos investimentos em energia, fugindo à chantagem do monopólio privado de investimentos. Sem dúvida, a empresa precisaria de uma reestruturação e reorientação de investimentos, qualificando-se na área térmica. Mas ela encontra-se saneada e seus investimentos de décadas finalmente estão começando a render, como é o caso de Porto Primavera, agora Sérgio Motta.

É hora de rever a privatização da Cesp. Não é necessário que todas as geradoras e distribuidoras sejam privadas para haver um mercado de energia. Como no setor financeiro, nada impede que algumas sejam públicas. Ao contrário,
trata-se de remover obstáculos ao crescimento. É fundamental garantir a presença do poder público paulista no setor. Que o diga a Califórnia, às voltas com uma crise energética provocada pela aplicação de um ideário liberal.

Se São Paulo quer a volta do crescimento, precisa promover uma política ativa de investimentos públicos e regulamentação. Se quiser continuar a atrair investimentos privados, agora que se descentraliza o modelo industrial brasileiro, é hora de rever a privatização da Cesp.

Eng. Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente

Volta