SEESP PROMOVE SEMINÁRIO DE ABERTURA 
DAS CAMPANHAS SALARIAIS 2001

Aconteceu em 15 de março o Seminário das Campanhas Salariais, que abriu o processo de negociação coletiva com vista à assinatura de acordos e convenções beneficiando cerca de 130 mil engenheiros. Participaram do evento representantes de Recursos Humanos de 13 empresas em que a categoria atua — CDHU, Cesp, Cetesb, Comgás, CPFL, CPTM, CTEEP, Elektro, EPTE, Ferroban, Metrô, Sabesp e Telefônica.

Como era a proposta do seminário, os representantes das companhias falaram livremente sobre suas perspectivas para as campanhas neste ano e foram unânimes em dar ênfase à preferência pelo caminho do diálogo. "A Cesp tem uma longa tradição de negociação e desde 1985 assina com o SEESP acordos que vêm evoluindo em quantidade e diversidade de cláusulas. A única forma de sobreviver às dificuldades é a parceria e temos sido bem-sucedidos com essa maneira de trabalhar", afirmou Dubravka Sidonija Suto, gerente de RH da empresa. Ela lembrou ainda que em 2001 o encerramento da campanha na energética, que tem data-base em 1º de junho, deve coincidir com o período em que o Governo pretende realizar o seu leilão de privatização — a primeira tentativa, em dezembro de 2000, fracassou por falta de compradores e contestações na Justiça, inclusive do SEESP.

Outra negociação com características peculiares será com CTEEP e EPTE, também com data-base em junho. Transmissoras de energia estatais, elas estão em processo de fusão, que deve estar finalizado em 1º de julho. O gerente de RH Orivaldo José Marcuzzo ressaltou deverem os acordos ser unificados "para que tudo fique mais tranqüilo". "Assim, embora as cláusulas sociais do atual contrato continuem em vigor, vamos discutir todos os itens", completou.

Nas demais estatais, onde não há turbulências como essas à vista, também não foram anunciadas grandes novidades. E, alegando ainda não terem definições do Governo do Estado e da Comissão de Política Salarial, os negociadores não deram qualquer indicação quanto aos itens econômicos. Fábio Nascimento, do Metrô, salientou a importância do aprimoramento das condições de higiene e segurança do trabalho, da manutenção do investimento em requalificação e da implantação do plano de carreira. Antônio Arruda, da CPTM, lembrou a inconveniência da data-base em 1º de janeiro e o esforço da empresa para alterá-la. Recém-admitida na CDHU, Beatriz Barros Oliveira, afirmou que a proposta é "lutar pelos empregados, sem brigar com o patrão" e estreitar as relações com os sindicatos.


REMUNERAÇÃO VAIRÁVEL
Fugindo do compromisso com reajustes salariais ou aumentos reais, a proposta básica das empresas privadas foi apostar na participação nos lucros e resultados como forma de premiar o desempenho e na requalificação dos profissionais. "Nós reconhecemos que há inflação e poderemos repor parte das perdas, mas a ênfase será na remuneração variável por indivíduo e por equipe", salientou Antônio Fernando Ramires, da Telefônica. Fazendo coro ao colega, Luiz Eduardo Leite, da Comgás, foi categórico: "A reposição não pode onerar os custos permanentemente, então podemos pensar em abonos e gratificações como alternativas a reajustes."

Alfredo Bottone, da Elektro, também enfatizou a participação nos resultados como instrumento de ganho em produtividade, assim como o acesso à carreira, recrutamento interno e avaliação de performance. Ele destacou o investimento na reciclagem dos engenheiros. "Hoje temos 17% deles fazendo MBA customizado para a nossa realidade." Deixando claro a importância da lucratividade, Arlindo Casagrande Filho, da CPFL, lembrou que se a valorização do empregado é fundamental, também o são a satisfação do cliente e a competitividade no mercado.

Em meio às manifestações de boa vontade e intenção de negociar, ao menos um ponto de conflito foi deixado claro pelo negociador da Ferroban, Norberto Coelho: a antiga claúsula 4.49 do contrato de trabalho dos empregados na ferrovia, que lhes garante substancial indenização em caso de demissão. "Isso traz um problema e tentaremos equacionar a questão."


ABRANGÊNCIA E SERIEDADE
O seminário foi encerrado com a palestra do analista político e sindical, João Guilherme Vargas Neto, que considerou a reunião digna de um evento patrocinado por uma central sindical. "Temos aqui a representação de diversos setores, o que mostra a grande abrangência de atuação." Ele salientou a importância da ênfase dada à negociação, que demonstra o amadurecimento do movimento sindical em geral e do SEESP em particular. "Como foi classificado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, as entidades alcançaram a institucionalização ao afirmarem a sua capacidade de representar e negociar."

Vargas Neto acredita que o panorama para as campanhas salariais em 2001 é positivo, tendo em vista a melhoria da economia observada em 2000, com aumento da produtividade sem queda no emprego. "Tudo isso constrói um cenário ao trabalhador de ‘quero o meu’. Contudo, o elemento político pode ser um fator de perturbação do bom andamento desse processo." Como mau exemplo, ele citou a discussão em torno da correção do FGTS, que vem sendo conduzida de maneira totalmente inadequada pelo Governo Federal. Na sua opinião, esse tipo de procedimento mina a confiança na negociação que precisa ser feita com base na realidade, lealdade e à exaustão para ser ideal.

Reafirmando a importância desse caminho para as campanhas, o presidente do SEESP, Paulo Tromboni de Souza Nascimento, ressaltou que, "embora nem sempre se chegue a bom termo, é preciso olhar para a frente e identificar todas as formas de cooperação". Para o vice-presidente da entidade, Murilo Celso de Campos Pinheiro, a iniciativa de promover o seminário já mostra "a nossa postura séria na busca do entendimento para as negociações coletivas".


RISCOS E PERSPECTIVAS
Parte fundamental do Seminário das Campanhas Salariais 2001 foi a exposição feita por vários dirigentes do SEESP que conduzem campanhas junto às empresas. Falaram os engenheiros Rubens Patrão (CPFL), Felix Wakrat (Telefônica e Telesp Celular), Fernando Palmezan (Elektro), Carlos Alberto Guimarães Garcez (Comgás), Henrique Monteiro Alves (Cetesb), Maxwell Martins (CPTM), João Carlos Gonçalves Bibbo (Sabesp), Ricardo Coelho Lessa (Ferroban e RFFSA), Newton Guenaga (Cosipa), Laerte Mathias (Metrô), Carlos Augusto Kirchner (Cesp, EPTE, CTEEP, Duke), Álvaro Luiz Dias de Oliveira (Codesp), Celso Atienza (Construção Civil), Sérgio Salles (Dersa) e Álvaro Martins (Emae). Eles fizeram um apanhado geral da situação em cada companhia ou setor e apontaram suas expectativas para este ano.

De modo geral, os negociadores junto às empresas privadas estão mais otimistas quanto às perspectivas de manutenção das atuais conquistas e avanços, inclusive econômicos, como na Cosipa, que teve ótimos resultados no ano passado. Aqueles que sentam à mesa com as estatais esperam por maiores dificuldades, devido à postura mais dura adotada pelo Governo nos últimos anos. Isso ocorre em particular na Cetesb, onde atualmente não há acordo em vigor e a empresa exigiu o retorno ao trabalho dos representantes sindicais liberados para o exercício de seu mandato, reforçando sua postura intransigente.

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