PROFISSIONAL TENTA SE ADAPTAR 
APÓS ADERIR A PLANO DE DEMISSÃO

Reestruturação produtiva, privatização ou crise: todas as alternativas levaram a corte de pessoal e o engenheiro não ficou imune. Especialmente nas estatais, foram colocados em prática os famosos Planos de Demissão Incentivada, em que o empregado recebe uma indenização, além das verbas legais, para oferecer sua cabeça ao facão.

Em alguns, dependendo do tempo de empresa e salário, e especialmente se o profissional já pudesse se aposentar, a oferta poderia parecer tentadora. Na média, os engenheiros receberam, entre indenizações, verbas rescisórias e FGTS, de R$ 100 mil a R$ 200 mil. Em poucos casos, a cifra saltou para até R$ 400 mil. Contudo, a maioria aceitou mesmo a oferta porque sentiu que se não saísse com o incentivo, sairia depois de qualquer maneira.

Após a decisão, começa a batalha pela sobrevivência e mesmo aqueles que se deram bem amargam momentos difíceis. André Tadeu May aderiu ao PDV (Plano de Demissão Voluntária) da Embraer em 1997. Aplicou o dinheiro que recebeu na administração de condomínios em São José dos Campos, hoje é sócio majoritário da Condivale Administração de Condomínios e tem 30 clientes. Também presta assessoria de manutenção predial, aplicando seus conhecimentos de engenheiro civil e de segurança do trabalho. Apesar do sucesso, May critica o PDV. "Isso é uma forma de a empresa dizer à sociedade que o cara receberá um dinheirinho a mais e viverá feliz para sempre, o que não é verdade. A pressão existente na Embraer naquela época transformou o período de 1995 a 1997 no pior de todos durante os 26 anos em que trabalhei lá."

Mais motivos para se queixar tem Aldo Previato Filho, desempregado desde outubro de 1999, quando aderiu ao Pabi (Plano de Acordo Bilateral Incentivado) da Ferroban (Ferrovias Bandeirantes S.A) — antiga Malha Paulista/RFFSA (ex-Fepasa). Segundo ele, a pressão foi grande. "Diziam que não renovariam o contrato de trabalho e que transfeririam engenheiros de localidades. Eu acabei sendo deslocado de Sorocaba para Ribeirão Preto, então pedi o acordo", contou. A renda hoje fica por conta do benefício do INSS, referente à aposentadoria por tempo de serviço, complementado pelo rendimento da aplicação da indenização recebida. Na mesma companhia, Silas Alberto Alves Carneiro viveu situação semelhante, aderindo ao Pabi em janeiro de 1999. Com parte da verba rescisória, comprou um posto de gasolina em Sorocaba em sociedade com duas pessoas, e aplicou o restante no mercado financeiro. Mesmo assim, a renda mensal atual corresponde a 60% do que recebia como empregado. Inconformado, ele entrou com ação na Justiça pedindo sua reintegração à empresa.

A extinção da Divisão de Tecnologia da Agência para Conservação de Energia da Cesp motivou Domingos Carlos Oddone a aderir ao PDV em junho de 1999, depois de 20 anos na companhia. Aplicou o dinheiro e montou a empresa Agência de Conservação de Energia e presta serviços a concessionárias e consumidores. Investindo há 17 meses na empresa, a perspectiva é que a situação melhore em 2001. Enquanto isso, vive com uma renda mensal proporcional a um terço do antigo salário e uma parte dos juros da aplicação.

Pouco mais de um ano após a privatização da Telesp, que foi comprada pela Telefônica, foi suficiente para Lucas dos Santos Filho perceber que não se adaptava à nova administração. "O trabalho ficou muito compartimentado, não tínhamos poder de decisão." Aderiu ao Plano de Demissão Incentivada em abril último depois de 18 anos na ex-estatal. Um mês depois, estava prestando serviços de treinamento e consultoria ao CPqD (Centro de Pesquisa em Desenvolvimento) na área de Telecomunicações. Em situação profissional e financeira satisfatória, ele lamenta pelos colegas menos afortunados. "É uma pena que a maioria dos engenheiros tenha ido para outras áreas ou esteja enfrentando dificuldades."

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