CONQUISTA DE MERCADO,
AQUI E LÁ FORA

O governo Fernando Henrique Cardoso dedicou seis anos à estabilização da economia. A inflação é hoje da ordem de 5% ao ano, o déficit público beira os 4% do PIB e ficou para 2001 o superávit no comércio exterior. Mas estabilidade não basta. O País precisa de uma política de desenvolvimento.

Juros mais baixos incentivam investimentos. Com os selic de 16,5%, a nossa taxa básica de juros real é de 11,5%. Na Europa, EUA e Japão, não chegam a 3%. Mesmo em países ditos emergentes, são da ordem de 6%. Considerando a meta de inflação, é imperativo trazer os juros para um dígito logo no início de 2001.Tal redução representaria uma grande melhora no financiamento do déficit público e incentivo às exportações.

Contudo, o melhor meio de reduzir o déficit público é crescendo: ele cai como percentual do PIB. E para crescer é preciso desenvolvimento, ou seja, aumento da competitividade e conquista de novos mercados no Brasil e exterior. E isso exige políticas muito diferentes das voltadas à estabilização.

Veja-se a anômala situação do comércio internacional: o Brasil é único em amargar um enorme déficit comercial com os EUA. Basta imitar o que os EUA fazem com o Japão, União Européia, China, Coréia do Sul, México e o próprio Brasil.

Veja-se ainda o imenso déficit comercial da indústria de eletrodomésticos e eletrônica. O Brasil tem condições para ao menos uma grande instalação de microprocessadores e memórias; até Porto Rico tem. É patente a necessidade de uma política de substituição de importações de componentes de alto valor agregado.

Mas o Brasil tem um enorme mercado interno a conquistar: o de baixíssima renda. A economia precisa ser vista dividida em produção tradicional, largamente voltada a esses segmentos paupérrimos, e setores direcionados aos mais abastados. Está em curso um processo de convergência desses dois lados da economia brasileira. Os carros pequenos, as motos de baixa cilindrada, os eletrodomésticos de baixo custo, as tubaínas, as sandálias havaianas, os ônibus urbanos e tantos outros produtos representam a aproximação entre o lado moderno e rico da economia e seu tradicional e pobre. O Brasil precisa de uma política de desenvolvimento que acelere tal aproximação. Paradoxalmente, ela permite promover competitividade e igualdade.

Para isso, a política de desenvolvimento precisa cuidar do aumento da produtividade e qualidade e da promoção da inovação. Produtividade reduz custos e amplia mercados: mais clientes podem comprar. Qualidade é arma competitiva por excelência. E a inovação em produtos e serviços também conquista mercados. No Brasil, precisa ser vista como arma competitiva nos mercados globalizados, mas também sob a ótica da incorporação dos marginalizados. É necessário projetar produtos a custos cada vez menores, concebidos para o público pobre. Isso implica recorrer à mais moderna engenharia. Produtos assim também encontrarão mercado lá fora: o mundo tem 5 bilhões de pobres.

Políticas de competitividade exigem a concepção de projetos e programas de fôlego que apontem os caminhos do desenvolvimento e mobilizem a iniciativa privada e a sociedade. Essa é uma grande oportunidade, com mérito social, para a engenharia brasileira contribuir com propostas e o Governo com iniciativas.

AUMENTO REAL DO SALÁRIO MÍNIMO
No plano social, um salário mínimo crescente é vital para a distribuição de renda que gera mercados. Pena que os R$ 180,00 só virão em abril de 2001. Em abril último, representariam U$ 100. Ano que vem, quiçá U$ 90. Mas é um passo na direção certa.

Eng. Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente

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