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19/11/2011

Carta de São Paulo

        Os profissionais representados pela CNTU – Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados[i], reunidos em São Paulo-SP, em 18 de novembro de 2011, apresentam, nesta Carta de São Paulo, a síntese do debate realizado no 1º Encontro Nacional da CNTU, designado “Classe média, desenvolvimento e democracia”, encerrando o ciclo de debates que ocorreu nos encontros regionais da entidade, ao longo de 2011, sob o tema central “Os profissionais universitários, o desenvolvimento do País e a política”. 

        Uma sociedade equilibrada é aquela em que existe uma ampla classe média, na qual todos os cidadãos têm vida e trabalho dignos e acesso permanente à formação educacional e cultural, aos serviços de prevenção e amparo à saúde, à boa habitação, às cidades sustentáveis e boas de se viver, à alimentação saudável e prazerosa e ao trabalho de qualidade que provenha renda adequada para se viver conforme os padrões sociais de conforto. Para isso, é necessário que haja um sistema social de defesa e organização dos interesses coletivos mais amplos, no caso o Estado, que deve ter prerrogativas de planejamento e controle do espaço público, sob orientação democrática. Para além do espaço público, em que são partilhadas as normas de convivência e solidariedade, cada um tem plena liberdade para viver conforme suas preferências e escolhas, com o mínimo de regulação da vida privada e individual.

        A classe média brasileira não vive dessa maneira. Apesar de ter renda muitas vezes bastante superior ao da massa trabalhadora, boa parte enfrenta grandes dificuldades para sobreviver. Quando não açodada pelo desemprego ou subemprego, tem salários geralmente abaixo das necessidades. Paga duplamente por educação e saúde, em forma de tributos por um serviço público que não usa e comprando caro do setor privado. Quer utilizar mais os serviços públicos de saúde, educação, transporte e outros, mas não encontra a qualidade a que tem direito. Vive geralmente em grandes cidades insustentáveis, poluídas, congestionadas, violentas e com limitados espaços de convivência e lazer. Encontra fortes limites para manter e reproduzir os padrões de vida que alcançou nos períodos de maior dinamismo do País.

        Os trabalhadores da classe média e a grande massa trabalhadora devem se solidarizar na defesa de muitos interesses partilhados, como o desenvolvimento sustentado, a distribuição da renda e a democratização do Estado. Transformações na estrutura econômica, social e política de uma nação não acontecem por milagre ou destino previamente traçado. São formuladas e construídas coletivamente através das decisivas lutas sociais e políticas. Mas não é fácil construir consensos na formulação de novos modelos.

        A classe média teve destacada e honrosa atuação na luta pela democracia, na campanha pela eleições diretas e no debate em torno das grandes questões nacionais na elaboração da Constituição brasileira. Processo que, no entanto, foi bastante enfraquecido com a forte propagação do ideário neoliberal pelos meios de comunicação. Ao invés de um jornalismo diversificado, expressando posições distintas e promovendo o debate de ideias, o que vimos assistindo é a “verdade única” sendo propagada como “opinião pública”. O que deveria ser informação, capacitando os sujeitos a pensarem e se posicionarem por conta própria, não passa de sistemática formação de sensos comuns banalizados, que levam a despolitização, conformismo, ceticismo e desorientação. Fundamental, portanto, para o aprofundamento da democracia no Brasil, erguer-se a bandeira da liberdade de imprensa também como direito da população a informação confiável e abordagens múltiplas.

        A CNTU aglutina conjunto expressivo de entidades sindicais de trabalhadores com formação universitária. Sua criação e ações têm o sentido de colaborar para se diluir a nuvem de confusões e desorientações estabelecidas na sociedade pelas ideologias favoráveis ao capital financeiro especulativo, aos monopólios e outros interesses dominantes que não têm tido a capacidade ou a vontade de criar alternativas amplas e sustentáveis de desenvolvimento e civilidade includentes. Nesse sentido, cabe à CNTU e às entidades nela reunidas não apenas a defesa dos seus direitos e interesses profissionais de classe média, mas também a decisiva tarefa de unir os trabalhadores dos vários segmentos sociais pelas lutas comuns em defesa do emprego, das melhorias salariais e de boas condições de trabalho, da distribuição da renda e da riqueza, da valorização do mercado interno, de dinâmicas e práticas que promovam a transparência do Estado e do mercado e de liberdade de opinião, organização e participação social. 

        Há, portanto, enorme campo comum a ser explorado para o entendimento e ação da classe média e da massa trabalhadora em prol do desenvolvimentismo econômico, assim como do cultural, artístico, espiritual e moral da sociedade brasileira. Essa é a verdadeira riqueza que devemos perseguir, pois não há valor maior do que uma vida socialmente equilibrada capaz de incluir todos em padrões dignos de existência, constituindo-se uma sociedade de maioria de classe média, socialmente dinâmica e culturalmente livre.

 


[i] A CNTU – Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados foi criada em 27 de dezembro de 2006. Formada pelas federações dos Economistas, Engenheiros, Farmacêuticos, Médicos e Odontologistas, que, juntas, contam com 120 sindicatos filiados, a CNTU cumpre o papel necessário de dar voz às idéias dos profissionais universitários brasileiros. 





www.cntu.org.br




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