Opinião

Demolindo um mito

João Guilherme Vargas Netto

 

Jeffrey Sachs tem folha corrida. Hoje é livre-docente de economia e diretor do Instituto Terra na Universidade Columbia, mas já passou como um furacão privatizante na Bolívia, na Rússia e na Polônia; volta e meia dá pitacos sobre a economia brasileira.

Surpreendeu e impressionou os leitores da revista estadunidense Scientific American (www.sciam.com) com uma cabal profissão de fé contra um dos dogmas seculares do liberalismo, o do Estado mínimo, e contra um dos sacerdotes da religião liberal, o economista austríaco Friedrich Von Hayek, prêmio Nobel em 1974.

O artigo de Sachs intitula-se “O Estado de bem-estar social, além da ideologia” e nele o economista compara indicadores de dois conjuntos de países – um, de tradição liberal anglo-saxônica, formado por Austrália, Canadá, Irlanda, Nova Zelândia, Grã-Bretanha e Estados Unidos e outro, nórdico, em que estão Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, que tem sido governado por socialdemocratas na maior parte do tempo transcorrido depois da 2ª Guerra.

O primeiro grupo distingue-se por carga tributária e gastos sociais moderados e o outro pela tradição de economias mais taxadas e com despesas sociais elevadas. Sachs afirma que nesses países – onde se vive melhor – a economia também funciona melhor. Combinados os salários mais altos e uma rede de proteção social, os investimentos são capazes de tornar a economia nórdica mais competitiva.

Do grupo de países anglo-saxões, ele destaca a economia estadunidense como a mais emblemática, porque os Estados Unidos gastam menos do que todas as nações ricas em programas sociais e têm, como conseqüência, a maior taxa de pobreza do mundo desenvolvido, além de uma enorme população carcerária.

“Hayek estava errado”, conclui provocadoramente Sachs, demolindo um mito do liberalismo e do Estado mínimo.

 

João Guilherme Vargas Netto
É consultor sindical do SEESP

 

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