Giro paulista

Campinas espera tombamento de relógio de sol

Lourdes Silva

 

A decisão deve acontecer na reunião de dezembro do Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), informa Orlando Rodrigues Ferreira, presidente do Observatório do Capricórnio e vice-presidente do conselho. Após a chancela, passará a ser preservado pelo poder público e deve ser transferido à frente do Planetário do Museu Dinâmico de Ciências.

“Assim, será vigiado 24 horas por dia e usado como equipamento didático por pessoas habilitadas para explicar seu processo construtivo, recuperar a memória da história científica local e, nos cursos oferecidos no planetário, para ensinar astronomia de posição (conhecimento do céu), geografia e outros recursos possíveis”, afirma.

O relógio de sol campineiro é obra do engenheiro civil e eletricista Renato de Almeida Prado Costallat. Graduado pela Escola Nacional de Engenharia, no Rio de Janeiro, com estudo em astronomia de campo, ele elaborou o projeto, inicialmente destinado ao pátio do Instituto Penido Burnier. No entanto, após um ano e meio de trabalho e centenas de cálculos, acabou sendo inaugurado no dia 1º de junho de 1963, na Praça O Guarani (hoje terminal central de ônibus). A distância de cerca de 500 metros entre os dois locais comprometeu ligeiramente a precisão do relógio, que passou a funcionar com atraso de dois minutos. Transladado mais uma vez para o Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), onde está hoje, teve o problema agravado para 3,5 minutos.

As variações acontecem, ensina Costallat, porque cada relógio deve ser projetado de maneira precisa, de acordo com a sua localização no globo. Para fazer a leitura do horário, basta acompanhar a sombra do ponteiro fixado no mostrador horizontal e calcular a hora real, somando ou diminuindo os minutos correspondentes ao dia e mês indicados na “Tabela de correção da hora solar para a hora legal”, fixada numa placa no tronco de pirâmide que apóia o quadrante. O relógio revela ainda as estações do ano, de acordo com o tamanho da sombra do ponteiro.

A mais antiga menção a um relógio de sol é creditada ao rei Acaz, que governou a Judéia no século VIII a.C. Porém, o quadrante solar somente começou a funcionar com exatidão durante o ano todo quando os árabes passaram a orientar sua haste ou ponteiro não só pelo meridiano, mas também pelo paralelo.

 

Reconhecimento – O diferencial da obra de Costallat é a adoção do cálculo analítico trigonométrico e da aplicação de um sistema de sete equações astronômicas, que resultaram na precisão absoluta e na possibilidade de fazer relógios de sol de qualquer tamanho. A obra rendeu ao engenheiro o Diploma Antônio da Costa Santos (o Toninho, que foi prefeito local, assassinado em 2001), com o qual foi homenageado em 12 de setembro último, em solenidade na Câmara Municipal de Campinas. Antes disso, havia merecido a atenção do astrônomo francês, René Verseau, membro da Société Astronomique de France. Em passagem por Campinas, em junho de 1987, com a missão de cadastrar todos os relógios de sol existentes no planeta, ele considerou o projeto de Costallat “o maior do mundo em suas características inéditas de mostrador, tamanho e precisão”.

 

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