Opinião

Mata Atlântica: destruição e utilização irracional

Susian Martins

 

A Mata Atlântica é a denominação de um complexo vegetacional que ocorre paralelamente à costa brasileira, originalmente desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, numa faixa de 4 mil km de extensão, cobrindo originalmente 1,2 milhões de km2.

A destruição e utilização irracional da Mata Atlântica começaram em 1500 com a chegada dos europeus. Nesses 500 anos, a relação dos colonizadores e seus sucessores com a floresta e seus recursos foi a mais predatória possível, restando, atualmente, apenas 7,6% da cobertura original, de acordo com dados da organização SOS Mata Atlântica. Grande parte dos remanescentes contínuos está no Estado de São Paulo em alguns fragmentos, no geral, em locais de topografia muito acidentada.

Todos os principais ciclos econômicos desde a exploração do pau-brasil, a mineração do ouro e diamantes, a criação de gado, as plantações de cana-de-açúcar e café, a industrialização, a exportação de madeira e, mais recentemente, o plantio de soja e fumo, foram, passo-a-passo, desalojando a Mata Atlântica.

Mesmo reduzida e muito fragmentada, ainda abriga mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 8 mil são endêmicas, ou seja, não existem em nenhum outro lugar do mundo. É a floresta mais rica do mundo em árvores por unidade de área, chegando a 454 espécies/ha. Estima-se que no bioma existam 1,6 milhão de espécies de animais, incluindo os insetos.

Na Mata Atlântica, nascem diversos rios que abastecem as cidades e metrópoles brasileiras, beneficiando mais de 100 milhões de pessoas. Sua região é cortada por grandes rios como o Paraná, o Tietê, o São Francisco, o Doce, o Paraíba do Sul, o Paranapanema e o Ribeira de Iguape, importantíssimos na agricultura, na pecuária e em todo o processo de urbanização do País. A região abriga ainda belíssimas paisagens, verdadeiros paraísos tropicais, cuja proteção é essencial ao desenvolvimento do ecoturismo.

A qualidade de vida deste contingente populacional depende da preservação dos remanescentes, os quais mantêm nascentes e fontes, regulando o fluxo dos mananciais d’água que abastecem as cidades e comunidades do interior, ajudam a regular o clima, a temperatura, a umidade, as chuvas, asseguram a fertilidade do solo e protegem escarpas de serras e encostas de morros.

 

Susian Martins
É engenheira agrônoma, com mestrado em Solos e Nutrição de Plantas e doutoranda em Ecologia de Agroecossistemas Cena/USP

 

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