Giro paulista

Poços irregulares são dor de cabeça em
São José do Rio Preto

Lourdes Silva

 

Estima-se que haja no perímetro urbano da cidade cerca de 3 mil perfurações tubulares profundas irregulares, não-outorgadas pelo Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), nem cadastradas no Semae (Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto). Essas atingem os aqüíferos Guarani (entre 1.200 e 3 mil metros abaixo da superfície) e Bauru (120 a 250 metros), causando sua superexploração e contaminação.

O problema, conforme atesta Waldo Villani Júnior, assessor técnico da superintendência do Semae, é que os poços são feitos “sem a mínima qualificação técnica”, quando deveriam obedecer às normas construtivas e ter acompanhamento de profissional habilitado.
Ainda segundo ele, para que atendessem às exigências do Ministério da Saúde, estabelecidas na Portaria 518, seria necessário “captar a água lá embaixo e depois adicionar cloro e flúor”. Além disso, “verificar regularmente as condições sanitárias, microbiológicas e a pureza da água”. Contra o cumprimento das regras, informa ele, concorrem a falta de conscientização e educação ambiental e a falha na fiscalização. “Estamos buscando fazer com que tenhamos fiscalização diuturnamente, porque as pessoas captam água no aqüífero, utilizam e devolvem à rede pública em forma de esgoto”, afirma.

Contaminação
O professor titular de geologia e paleontologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) em São José do Rio Preto, Fahad Moysés Arid, aponta a necessidade de lacrar os poços mal perfurados, que prejudicam o sistema público de abastecimento local. Na mesma linha, Emílio Carlos Pinhatari, diretor da Silva Geotecnia e Fundações Ltda., propõe uma ação integrada dos órgãos públicos, visando paralisar a perfuração de poços clandestinos.

Juntamente com as medidas coercitivas – embargo das obras e multas –, Antônio José Tavares Ranzani, diretor da Bacia Turvo Grande do Daee, defende a busca da solução ao problema por meio de uma política de utilização da água que leve em consideração as características regionais da bacia, o Plano Estadual de Recursos Hídricos e o Plano da Bacia.
O professor Arid aponta ainda outro problema na água consumida pelos riopretenses. Perícia realizada em 2002, a pedido do Ministério Público, baseado em estudos do Instituto Adolfo Lutz de 1991 e 1992, constatou a existência de teor de cloro residual abaixo do necessário para potabilizar a água em inúmeros pontos da rede pública de distribuição de água. “Quando isso ocorre”, explica, “há probabilidade de ocorrência de contaminação por bactérias patogênicas, causando riscos de doenças como diarréia”. Na sua avaliação, o exame deveria ser refeito para se diagnosticar o estado atual do sistema.

 

Texto anterior

Próximo texto

JE 271